Economia

Presidente do BNDES defende empréstimos para empresas nacionais atuarem no exterior

27/05/2014 - 22:11  

Lucio Bernardo Jr./Câmara dos Deputados
Audiência pública sobre a concessão de empréstimo à Construtora Odebrecht, para a realização das Obras do Porto de Mariel, Incluir Cuba e também financiamento do Grupo JBS-Friboi, Fundo Amazônico, Plano de Investimentos do BNDES e a MP 633/2013. Presidente do BNDES, Luciano Coutinho
Luciano Coutinho: o BNDES não empresta dinheiro para governos estrangeiros.

O presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Luciano Coutinho, defendeu, nesta terça-feira (27), a atividade do banco como financiador da atuação de empresas brasileiras no exterior. Citando países como a China e a Coreia do Sul, ele considerou a atividade como algo vital para o comércio externo do Brasil.

Luciano Coutinho participou de audiência pública da Comissão de Fiscalização Financeira e Controle da Câmara dos Deputados sobre a concessão de empréstimos do BNDES à construtora Odebrecht para realização das obras do Porto de Mariel, em Cuba.

O economista argumentou que todos os países têm agências de crédito que estimulam a chamada exportação de serviços. São agências públicas destinadas a financiar e segurar esse tipo de prestação de serviços. “China, EUA, Alemanha, França e Reino Unido fazem isso e gastam mais que o Brasil com isso”, relatou.

O presidente do BNDES acrescentou que a chamada exportação de serviços de engenharia é um mercado “muito disputado” e uma das poucas áreas do setor de serviços em que a balança comercial brasileira é favorável neste momento. Segundo ele, enquanto países como a China ganham espaço no setor, outros como a Itália estão perdendo terreno.

No caso da América Latina, Coutinho afirmou que o Brasil responde hoje por quase 18% da exportação de serviços de engenharia à região, perdendo apenas para a Espanha, e à frente de Estados Unidos e China. “Prestamos serviços a países como Argentina, Venezuela, República Dominicana, Cuba, Peru e Equador”, citou.

Fora do continente, esse tipo de exportação de serviços também se dá para a África, onde Angola se destaca como o grande país beneficiado por esses empréstimos.

Firmas nacionais
Na reunião, Luciano Coutinho explicou que o BNDES não empresta dinheiro para governos estrangeiros. “O BNDES libera recursos apenas para empresas brasileiras que tenham sido encarregadas de realizar um serviço no exterior. Nossa relação é com a empresa nacional, para gerar empregos no Brasil”, afirmou.

O presidente do BNDES disse ainda que os financiamentos realizados pela instituição no exterior representam menos de 3% dos empréstimos realizados pelo banco em 2013. Ele também reiterou que a instituição não realiza empréstimos de risco, muito menos no caso de obras realizadas por empresas nacionais no exterior.

Dois pesos
Para os deputados que sugeriram a audiência, no entanto, os financiamentos externos estão mal explicados. O deputado Carlos Brandão (PSDB-MA) destacou que conhece muitos empreendedores brasileiros que não conseguem ter acesso aos recursos do BNDES, enquanto diversas obras realizadas fora do País, como o porto de Mariel e o metrô de Caracas (Venezuela), obtêm esses investimentos.

“Ou o crescimento nacional não é prioridade ou estão sobrando recursos para irem lá para fora”, questionou Brandão. Ele acrescentou que, ao longo dos últimos três meses, apenas três navios atracaram no porto de Mariel. “Enquanto isso, enfrentamos o caos no porto de Santos (SP)”, lamentou.

Brandão criticou também o fato de esses investimentos para o exterior serem sigilosos. O que foi confirmado por Coutinho. O presidente do BNDES disse, contudo, que esse sigilo é garantido pela legislação.

Credibilidade
O deputado Vanderlei Macris (PSDB-SP) quis saber se houve empréstimo a fundo perdido (sem previsão de retorno) no caso do porto de Mariel, o que foi negado por Luciano Coutinho. Macris também criticou o que chamou de “perda de credibilidade da instituição”. Segundo o deputado, o BNDES tem sido usado para mascarar as contas públicas, por meio de ações que, para ele, são pouco ortodoxas, como antecipação de dividendos.

Ao invés de Coutinho, quem respondeu a Macris foi o deputado Vanderlei Siraque (PT-SP). Ele argumentou que, enquanto agora se financia a atuação de empresas brasileiras no exterior, no passado se financiava era a compra de empresas nacionais por multinacionais estrangeiras. Para Siraque, os deputados da oposição representam “um projeto falido”.

Reportagem – Juliano Machado Pires
Edição – Pierre Triboli

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