Política e Administração Pública

Pagot admite ter agido sem ética ao pedir doação de campanha a empresas

28/08/2012 - 21:47  

Durante quase oito horas de depoimento, o ex-diretor-geral do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit) Luiz Antônio Pagot não deu informações novas na Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) do Cachoeira e admitiu ter agido com “falta de ética” ao procurar empresas para doarem à campanha da presidente Dilma Rousseff, em 2010. Pagot já havia falado sobre os pedidos de doação de campanha em declarações à imprensa.

Alexandra Martins
Luiz Antonio Pagot (ex-diretor-geral do DNIT)
Pagot: “Percebi o tamanho da bobagem, mesmo acreditando que não fiz irregularidades.”

No depoimento na CPMI, Pagot declarou que as doações foram antiéticas, mas dentro da lei. “Percebi o tamanho da bobagem que estava fazendo, mesmo acreditando que não fiz irregularidades.” Ele afirmou que a atitude de solicitar o recurso foi uma ação pessoal, sem ligação com o órgão.

Pagot disse que acertou a busca de doações depois de uma conversa com o tesoureiro da campanha de Dilma, deputado José de Filippi (PT-SP). Segundo Pagot, o parlamentar foi ao Dnit duas vezes para pedir indicação de empreiteiras, a primeira no primeiro turno e a segunda após as eleições presidenciais de 2010.

"No primeiro turno, ele foi atendido. Selecionei umas 30 a 40 empresas e eu as contatei. Mas depois não, acreditava que as empresas não iam mais colaborar." De acordo com ele, o contato não implicou vinculação de benefício às empreiteiras doadoras e o valor das doações pode ter chegado a R$ 6 milhões.

Em nota, o deputado Filippi disse que as contas da campanha da presidente Dilma foram aprovadas pela Justiça Eleitoral e que foi o próprio Pagot quem se colocou à disposição para ajudar na arrecadação de campanha.

Para o deputado Onyx Lorenzoni (DEM-RS), no entanto, as ações de Pagot evidenciam crimes de tráfico de influência e de improbidade administrativa. “O senhor entrou aqui e admitiu, no mínimo, dois crimes. O terceiro poderia ser prevaricação”, disse.

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Delta
A saída do Dnit, na avaliação de Pagot, foi injusta. O ex-diretor assumiu o cargo no Dnit em 2007 e foi afastado em 2011, após denúncias de irregularidades que forçaram também a saída do então ministro dos Transportes, Alfredo Nascimento, e abriram uma crise política entre o PR e a presidente Dilma Rousseff.

De acordo com Pagot, a Delta teria se unido a Cachoeira para conseguir a sua exoneração. O ex-diretor disse que havia problemas com a execução de várias obras da Delta em 2010. Ele citou que, em obra da BR-116, no Ceará, a Delta havia subcontratado uma empreiteira local sem autorização do Dnit. Na BR-104, em Pernambuco, havia uma reivindicação de um aditivo de preços, que não foi aceito. Já em Mato Grosso, o Dnit exigiu a troca de uma grande quantidade de placas de concreto fora do padrão do contrato.

"Tudo isso foi motivo de grande insistência de Cláudio Abreu [ex-diretor da Delta na região Centro-Oeste]. Esses fatos foram gerando um dissabor", disse Pagot. "Acredito que, por causa desses fatos todos, ele [Cláudio Abreu] tomou a decisão, junto com o contraventor, de patrocinar a matéria jornalística que provocou minha saída do cargo", afirmou.

O ex-diretor afirmou ainda que não conheceu Carlinhos Cachoeira nem sabia do seu envolvimento com a construtora Delta.

Aditivos
Para o relator da CPMI, deputado Odair Cunha (PT-MG), a situação da Delta se complica ainda mais por causa do depoimento de Pagot. Cunha disse que a informação mais importante que Pagot trouxe foi que a Delta recebia do Dnit, em média, 11% a mais do previsto inicialmente nas licitações. Isso indicaria mais uma área a ser investigada.

Estudo do órgão de 2003 a 2010, citado por Pagot, afirma que aditivos para obras de manutenção rodoviária foram de 18% em média e, para obras de construção, de 8%. Segundo Pagot, a média da Delta (tanto de manutenção quanto de construção) foi de 11%.

Revista Veja
Pagot disse que a reportagem da revista Veja, do início de julho de 2011, que apontava um esquema de superfaturamento de obras e recebimento de propina montado por integrantes do PR, foi determinante para sua exoneração.

“Nada teria acontecido se não fosse a reportagem da Veja”, respondeu ao deputado Glauber Braga (PSB-RJ). Após a declaração, os deputados Emiliano José (PT-BA) e Ronaldo Fonseca (PR-DF) voltaram a cobrar a convocação do jornalista Policarpo Júnior, diretor da revista em Brasília.

Rodoanel
Pagot minimizou as supostas acusações que fez sobre o desvio de recursos públicos para campanhas eleitorais do PSDB. “Depois que eu tinha negado o aditivo [de R$ 264 milhões para uma obra do Rodoanel, em São Paulo], no final de 2010, estava almoçando no restaurante Francisco e um conhecido meu que trabalha em uma empresa me advertiu de que o aditivo tinha finalidade de contribuir com as campanhas de Serra, Alckmin e Kassab. Ao dizer isso para o repórter [da revista IstoÉ], eu ressaltei que era uma conversa de bêbado em botequim, que não dava para provar. Posteriormente, o repórter usou as palavras que quis e não as que eu disse”, afirmou.

Pagot não quis falar o nome da pessoa que o advertiu sobre o aditivo. “Não vou revelar o nome do meu amigo, mesmo sob juramento”, disse, em resposta ao deputado Luiz Pitiman (PMDB-DF).

*Matéria atualizada às 22h50

Saiba mais sobre a CPMI do Cachoeira

Reportagem – Tiago Miranda
Edição – Pierre Triboli

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