Saúde

Professor critica validação automática de diploma estrangeiro de médicos

27/06/2012 - 16:04  

O professor Milton de Arruda Martins, da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP), criticou há pouco a revalidação automática de diplomas no Brasil de médicos formados em outros países, sem que passem por exames que atestem a capacidade de exercerem a profissão adequadamente. "O Brasil deve resistir à tentação de usar esse método para aumentar o número de médicos no País. Isso vai prejudicar a qualidade do atendimento", destacou.

O docente defendeu o exame Revalida, que passou a ser adotado no ano passado para que médicos que estudaram no exterior possam obter a revalidação do diploma universitário. "O Revalida é um processo que acontece nos moldes do que é feito nos países desenvolvidos do hemisfério norte. Os conhecimentos e habilidades exigidos são os mesmos exigidos nos cursos de medicina no Brasil. Primeiro, há uma prova de múltipla escolha; depois, prova prática", explicou.

De acordo com Milton Martins – que participa de seminário promovido pelas comissões de Seguridade Social e Família, da Câmara; e de Assuntos Sociais, do Senado – a maior parte das universidades e entidades médicas consideram o Revalida um processo adequado, embora precise de alguns ajustes.

Dados
O expositor divulgou que, dos 714 médicos inscritos no Revalida de 2011, 417 eram brasileiros que fizeram medicina no exterior, principalmente na Bolívia, em Cuba e na Argentina. O restante era de profissionais de outras nacionalidades.

Dos inscritos inicialmente no Revalida, 536 fizeram os testes de múltipla escolha, sendo que apenas 96 foram aprovados nessas provas eliminatórias. "Somente 75 compareceram à prova prática, que veio depois. Apenas 65 foram aprovados e poderão revalidar seus diplomas - o que equivale a 12,13% dos 536", comparou.

Para o professor, o Revalida 2011 confirmou que a formação médica da maioria dos candidatos não era adequada à formação exigida para os estudantes dos cursos de medicina brasileiros. "A prova foi adequada. Os candidatos é que tinham preparo insuficiente", declarou.

Cursos
Milton Martins afirmou também que, atualmente, existem 196 cursos de medicina autorizados a funcionar no Brasil. Desse total, 114 são privados; e 82, públicos (58,2% e 41,8%, respectivamente).

Segundo ele, até 1994, só 38,6% dos cursos de medicina no Brasil eram privados. No governo Fernando Henrique Cardoso (FHC), esse índice passou para 61,4%. No governo Lula, 76,9% dos cursos de medicina autorizados eram particulares.

O professor ainda informou que, no início da década de 90, havia menos de 50 mil estudantes de medicina no Brasil. Em 2010, esse número saltou para 113 mil - quase um terço dos médicos que existem no País. Conforme Milton, em 18 anos, haverá aproximadamente o dobro dos médicos que atuam hoje. "Independentemente da discussão do número de médicos que o Brasil precisa, é necessário ver a qualidade da formação. Queremos médicos que tenham uma visão da integralidade do cuidado ao paciente. Não acredito que o Brasil tenha um corpo docente suficiente para atender a todos esses alunos", afirmou.

Na opinião do docente, seriam necessários dois critérios mínimos para aprovar um novo curso de medicina. O primeiro deveria ser a existência de um hospital-escola da própria faculdade ou por meio de convênio com hospitais já existentes. O segundo ponto seria a exigência da residência médica antes da graduação.

O seminário continua no Auditório Freitas Nobre.

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Reportagem – Renata Tôrres/Rádio Câmara
Edição – Marcelo Oliveira

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