Economia

Para o BNDES, crise internacional não deve afetar Brasil de maneira relevante

19/10/2011 - 21:07  

Reinaldo Ferrigno
Luciano Coutinho (presidente do BNDES)
O presidente do BNDES acredita que o Brasil possui mecanismos para enfrentar crise.

O presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Luciano Coutinho, afirmou nesta quarta-feira que a crise econômica internacional não deverá afetar o Brasil de maneira relevante. Segundo ele, os impactos sobre as expectativas econômicas serão “muito modestos”, já que os planos de investimentos das empresas foram mantidos e o sistema bancário brasileiro não está exposto à dívida europeia.

“O Brasil tem alavancas suficientes para ultrapassar a crise se ela piorar. Também há um mix de políticas que pode ser diferente do que o utilizado na crise anterior, com menos ativismo do lado da política fiscal e mais pelo lado da política monetária, que é o que está em curso”, declarou Coutinho durante audiência pública das comissões de Finanças e Tributação; de Desenvolvimento Econômico, Indústria e Comércio; e de Fiscalização Financeira e Controle.

O presidente do BNDES reiterou que não há queda verificável no ritmo dos investimentos do País. “Predomina a avaliação de que a economia brasileira pode desacelerar um pouquinho, mas ainda retém as alavancas e o volume de projetos com alto retorno que são necessários para sustentar os investimentos", disse.

Segundo Coutinho, os desembolsos do BNDES em 2011 devem ficar entre R$ 140 bilhões e R$ 145 bilhões, patamar próximo do efetuado no ano passado. “Essa estabilização ocorre porque agora buscamos abrir espaço para que o setor financeiro privado nacional possa voltar a financiar investimentos de longo prazo”, afirmou.

Durante o debate, Coutinho defendeu que o Brasil eleve sua poupança interna nos próximos anos, pois a dependência do País em relação a recursos externos pode deixar a economia brasileira vulnerável a choques internacionais. “Depender de forma absoluta do capital externo não é uma política sustentável. Isso significa olhar a poupança das famílias, das empresas e do governo de maneira importante”, defendeu.

A taxa de poupança interna representa a parcela da renda nacional que não é utilizada em despesas, sendo guardada. Supondo que há "equilíbrio" quando a soma dos investimentos é igual à poupança total, para elevar o investimento em um país é necessário aumentar a taxa de poupança.

Paralelamente, Coutinho alertou para a necessidade de se ampliar o prazo dessa poupança. “A gente precisa ter um sistema financeiro normal, e temos um sistema financeiro anômalo”, definiu.

Segundo ele, o Brasil precisa desenvolver uma estrutura mais parecida com a dos países desenvolvidos, em que o risco esteja associado positivamente ao prazo e à taxa de retorno (quanto maior o prazo e o risco, maior a remuneração).

“Aqui temos uma subversão disso, porque temos ativos de prazo curtíssimo, de pronta liquidez, com risco zero e alta remuneração. Isso inibe o desenvolvimento de finanças de longo prazo”, definiu.

Reinaldo Ferrigno
Audiência Pública - O financiamento do BNDES em processo de fusão, à internacionalização de empresas, às políticas do banco, e ao desempenho da BNDES participações S/A
Parlamentares de três comissões participaram da audiência conjunta, com questionamentos a Coutinho.

Fusão entre supermercados
Em relação à fusão dos supermercados Carrefour e Pão de Açúcar, que não avançou por conta de divergências entre os sócios do Pão de Açúcar, Coutinho teve que responder questionamentos sobre o suposto apoio do banco à união das empresas.

Segundo ele, o BNDES apenas “enquadrou” a operação, o que significa que ela poderia ser elegível, desde que respeitasse algumas premissas. Entre elas, a de que houvesse “harmônico entendimento” entre os sócios, o que não ocorreu.

Coutinho disse, no entanto, que a fusão poderia trazer “grandes vantagens” à economia brasileira, porque “levaria um grupo brasileiro a ter uma posição de influência dominante na operação internacional do Carrefour”.

De acordo com o presidente do BNDES, eventuais concentrações de mercado poderiam ser solucionadas com a venda de unidades dos supermercados envolvidos na fusão.

“Essa questão [concentração] é técnica e pode ser endereçada de forma muito precisa: quando há superposição de duas redes de varejo, é preciso olhar se há concentração no microespaço, onde o consumidor faz compra. Se isso houver, a prática internacional e a nossa prática têm sido de obrigar a venda das unidades nas áreas de superposição”, declarou.

Reportagem – Rodrigo Bittar
Edição – Ralph Machado

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