11/12/2018 21:28 - Direitos Humanos
Radioagência
Comissão externa aprova relatório final em que cobra federalização da investigação do caso Marielle
Comissão externa da Câmara cobra federalização e envolvimento da sociedade civil nas investigações dos assassinatos da vereadora carioca Marielle Franco e de seu motorista, Anderson Gomes. As recomendações constam do relatório final do deputado Glauber Braga, do Psol fluminense, aprovado nesta terça-feira (11).
Marielle e Anderson foram assassinados em 14 de março, depois que o carro em que estavam foi atingido por 13 tiros, na zona central do Rio de Janeiro. O relatório critica as investigações conduzidas pela Polícia Civil do Rio de Janeiro, já que, nove meses após o crime, não há conclusão sobre autoria, mandante e motivação das execuções. Para formalizar a federalização das investigações, a comissão recomenda a Procuradoria-Geral da República a entrar no Superior Tribunal de Justiça com o chamado Incidente de Deslocamento de Competência. Segundo o coordenador da comissão, deputado Jean Wyllys, do Psol do Rio de Janeiro, a federalização também amplia a competência do Congresso Nacional no acompanhamento do caso.
"Com uma possibilidade maior de fiscalização da nossa parte, já que está no âmbito da federação. Diante das contradições que as instituições diretamente envolvidas no caso vêm apresentando, fica ainda mais um sentimento de frustração e de insegurança. A gente quer viver em um país seguro em que uma pessoa possa defender direitos humanos sem precisar andar de escolta, sem ser executada com um tiro na cara".
A Polícia Federal chegou a anunciar a investigação de supostas ações de uma organização criminosa para impedir a elucidação do crime, mas a comissão não foi informada dos resultados. Outra sugestão do colegiado é a criação de um mecanismo externo e independente para acompanhar as investigações. Para isso, Glauber Braga recomenda uma cooperação formal dos agentes públicos com a Comissão Interamericana de Direitos Humanos, a exemplo do que já acontece no México.
"Segmentos da sociedade civil organizada mobilizados para que se tenha a investigação com o acompanhamento que não seja exclusivamente dos agentes de Estado. A gente vai agora fazer o encaminhamento desse relatório a todas as autoridades que tenham de cumprir etapas do que está aqui indicado".
Do Congresso, por exemplo, a comissão cobra aprovação de projetos de lei que tratam do Programa de Proteção aos Defensores dos Direitos Humanos (PL 4575/09 e já pronto para a votação do Plenário da Câmara), do Programa de Intervenção Social para a Prevenção à Violência (PL 9762/18), além de novas tecnologias que facilitem a identificação de armas usadas em homicídios (PLs 9061/17 e 997/11) e de mais transparência e prestação de contas dos órgãos de segurança pública (PLs 4894/16 e 10.026/18). O relatório também recomenda o controle mais efetivo de armas e munições, além do fortalecimento das redes de proteção aos defensores de direitos humanos, vítimas e testemunhas ameaçadas, inclusive com a criação de um Observatório Permanente para esses casos.
Para o deputado Chico Alencar, do Psol do Rio de Janeiro, a falta de conclusão desses crimes mantém a dor das famílias e a sensação de ameaça.
"No caso Marielle e Anderson, nenhuma detenção para averiguação, sequer. Então, a gente vai continuar cobrando porque entendemos que isso vale para os 62 mil assassinados no Brasil no ano passado. Crime não elucidado é crime continuado, é dor prosseguida e é estímulo aos homicídios e à violência por parte do Estado brasileiro".
Alguns dados citados no relatório final da comissão da Câmara mostram que apenas 12% dos homicídios ocorridos no estado do Rio de Janeiro foram esclarecidos em 2017. No país inteiro, menos de 3% dos mandantes foram responsabilizados por assassinatos de ativistas ocorridos entre 1985 e 2017. O texto ainda repudia a criminalização das atividades de defensores de direitos humanos e as tentativas de calúnias e difamações contra Marielle, ocorridas após sua morte.