18/04/2016 11:00 - Política
Radioagência
Manifestantes pró e contra o impeachment prometem continuar mobilizações
“Carrego comigo uma história de luta pela liberdade e pela democracia. Por isso, digo ao Brasil: sim!”.
O voto do deputado Bruno Araújo, do PSDB de Pernambuco, transmitido pela TV Câmara em telões espalhados entre os ministérios, foi comemorado como o fim de um jogo de final de Copa do Mundo pelas mais de 50 mil pessoas que acompanharam, do lado sul da Esplanada dos Ministérios, a sessão em que a Câmara autorizou o Senado a decidir se abre ou não processo de crime de responsabilidade contra a presidente Dilma Rousseff.
Eram pouco mais de 11 da noite quando uma pista da Esplanada dos Ministérios explodiu de alegria. A 300 metros dali, na outra pista, o clima era outro. O voto que decidiu o encaminhamento do pedido de impeachment de Dilma Rousseff para o Senado foi recebido com vaias por mais de 25 mil pessoas.
Entre um lado e outro da Esplanada, sobre o gramado foi montado forte esquema de segurança, com duas cercas metálicas paralelas que criaram uma faixa neutra entre os grupos rivais.
Quando foi dado o voto decisivo, os manifestantes vestidos de vermelho, que se aglomeraram em frente ao Congresso desde o início da tarde, já tinham começado a ir embora.
A Esplanada dos Ministérios, que chegou a ter 80 mil pessoas, segundo a PM do Distrito Federal, começou a esvaziar por volta das oito da noite, quando já havia mais de 160 votos sim ao pedido de abertura de processo.
Cada voto sim era acompanhado de vaias, como o dado pela deputada Maria Helena, do PSB de Roraima:
“Por Roraima e pelo povo brasileiro que foi às ruas pedir mudanças e um Brasil melhor. Não podemos desistir do Brasil. Eu voto sim!”
Do outro lado, cada voto “sim” era aplaudido, como o do deputado César Souza, do PSD de Santa Catarina:
“Em nome do povo de Florianópolis. Em nome do povo de Santa Catarina e do Brasil, pela segunda vez nesse Plenário, o meu voto é sim!”
O resultado final não surpreendeu quem estava ali para defender o não. Foi o caso de Rafaela Alves, do Movimento dos Pequenos Agricultores, que chegou a Brasília uma semana antes, vinda de Sergipe:
"O resultado, nós o tempo todo sabíamos que ele poderia ser contrário ao desejo da maioria do povo, da população desse país, né, que são trabalhadores e que sabem que nesse país não deve ter golpe, que precisa ter avanços e não retrocessos. Pra nós, não é tão surpreendente assim. Temos a certeza de que não vamos sair das ruas. Essa direita que está do outro lado do muro também achou que tinha derrotado os trabalhadores e não derrotou."
O técnico de operação Paulo Roni, funcionário da Petrobras, veio do Espírito Santo como integrante de comitiva do Sindicato dos Petroleiros do estado e também disse que a mobilização vai continuar:
“A gente sabia que poderia perder na Câmara, né, porque acho que houve um lobby muito grande do Eduardo Cunha junto com o Michel Temer para fazer esse conluio para assumir a Presidência de forma ilegítima, mas a gente sabe que ainda tem duas batalhas no Senado. A gente vai estar articulando, vai estar mobilizando, porque a gente entende que qualquer eleição de presidente tem que ser nas urnas."
Tristeza para uns, alegria para muitos. Os manifestantes favoráveis ao impeachment comemoraram a votação. O funileiro Ricardo dos Santos Oliveira, morador de Brasília, também disse que a mobilização vai continuar:
"O que me trouxe aqui nessa tarde foi que o Brasil, ele não é mais um país onde os políticos podem fazer o que quiser. E aqui, nesse protesto contra a Dilma, não tem uma bandeira de partido. Quem veio pra cá foi o povo, então, agora pra frente, nós vamos brigar por tudo."
A estudante Andrea Vieira também comemorou o resultado. Ela saiu de Porto Alegre especialmente para acompanhar a votação:
"Eu defendo o fim desse governo, que tem um projeto de poder contra o brasileiro, não quer saber do próprio povo brasileiro, defende o projeto de poder deles. Contra a corrupção. Eu acho que o PT está muito dentro disso. E acho que a gente tem que começar a limpar de algum lugar e eu acho que tem que começar pelo PT."
Quem também teve motivos para comemorar foi o pessoal responsável pelo esquema de segurança montado pelo governo do Distrito Federal. Até meia-noite, depois de encerrada a votação, não tinha sido registrada qualquer ocorrência grave.
Foram 11.500 policiais militares mobilizados para proteger o Congresso Nacional, os ministérios e palácios de Brasília. Sem contar mil policiais civis, 1.500 bombeiros e mais de 300 agentes de trânsito.