Rádio Câmara

Reportagem Especial

Especial Políticas para a Juventude - Projetos governamentais tentam qualificar jovens e tirá-los da criminalidade (07'05")

15/03/2010 - 00h00

  • Especial Políticas para a Juventude - Projetos governamentais tentam qualificar jovens e tirá-los da criminalidade (07'05")

Um dos grandes desafios para educadores e assistentes sociais é se aproximar e conquistar a confiança daqueles que estão na rua.

A tarefa é ainda mais complicada quando se trata de jovens arredios, que costumam ficar fora de casa madrugada adentro.

Mas o esporte tem se mostrado uma ferramenta simples e eficiente para atrair esses garotos e garotas e mantê-los longe da criminalidade.

Desde 1999, cerca de 80 mil jovens já passaram pelo projeto Esporte à Meia-Noite, que oferece atividades como futebol, xadrez, vôlei e basquete das 11 da noite às duas da manhã em escolas públicas de cidades-satélites do Distrito Federal.

Para participar, não é preciso matrícula, nem identificação. Mas existem regras a serem observadas, como explica o policial militar José Almeida de Araújo, coordenador do Esporte à Meia-Noite.

"O participante é um jovem muito arredio, raramente ele dá confiança às pessoas. Se você chegar nele e começar a conversar, eles acham que você está fazendo levantamento da vida dele, pelo fato de muitos estarem em situação de pendência com a justiça. Se você começar a perguntar demais, eles se afastam logo. Mas tem regras pra entrar lá dentro também. Primeiro é feita a revista na entrada, ele não entra com arma, nem qualquer entorpecente. Lá dentro não se fuma. Se quiser ele pode sair e ir fumar lá fora. Bebida alcoólica ele não entra, ou se estiver em estado de embriaguez. E uma vez estando lá dentro, ele tem que se comportar, não danificar instalações do colégio"

Nas escolas onde o projeto funciona, o vandalismo é praticamente nulo. Além disso, as delegacias de cada área já constataram uma redução significativa da criminalidade no horário de funcionamento do Esporte à Meia-Noite.

Em Planaltina, por exemplo, houve uma queda de 52% nos casos de roubo e de 75% nos de lesão corporal apenas no primeiro ano de funcionamento do programa.

José Araújo destaca que tirar os jovens das ruas na madrugada tem evitado que eles sejam vítimas ou mesmo autores de crimes.

Carlos Santos, o Popó, tem 22 anos e desde os 18 frequenta as quadras do Esporte à Meia Noite. A paixão pelo futebol foi o que atraiu o jovem. Além de praticar seu esporte preferido, Popó já conseguiu três empregos, indicado por pessoas envolvidas no projeto. Para ele, ter uma ocupação é fundamental para que o jovem não se meta em confusão.

"Aqui, ó, as pessoas que não se envolvem no mundo do esporte, essas coisas assim, a tendência deles é ir para a criminalidade mesmo, acabam fazendo coisas erradas. Mas, tipo assim, os garotos que eu conheço que fazem Esporte à Meia-Noite, muitos eu sei que já praticaram alguma coisa assim, mas eles gostam muito do Esporte à Meia-Noite e aí se ocupam mais dos esportes lá mesmo. - Você já perdeu algum amigo pro crime, conhece gente que tenha se envolvido? Ah, bastante, muitos amigos meus novinhos, 17, 15 anos, acabam entrando nesse mundo da criminalidade, assalto, essas coisas, aí morrem, né? Inclusive EU TENHO UM PRIMO DE 13 ANOS que tá preso. - Você acha que se ele participasse de um projeto como o Esporte à Meia-Noite a vida dele poderia ser diferente? Sim, né, que ele ia estar com a cabeça voltada para outra coisa, né? Se tiver alguma coisa que ocupe a cabeça do jovem hoje em dia, com certeza ele não vai pra criminalidade não"

O Esporte à Meia-Noite deve ser ampliado neste ano: será aberta mais uma unidade em Planaltina, além da primeira na Vila Estrutural. Devido ao interesse despertado pela ideia, na Ceilândia o projeto também passou a atender crianças menores de 12 anos em atividades durante o dia.

Atrair os jovens não é tarefa fácil, mas é o passo fundamental para o sucesso de qualquer projeto voltado a essa faixa etária, como observa o doutor em saúde pública, Miguel Fontes.

"Você vai numa escola pública. Será que faz alguma diferença aquela escola ser bem pintada? Faz uma grande diferença, porque você não está indo ali apenas para buscar um serviço básico, você está ali para ser transformado. A partir do momento que você tá recebendo apenas uma metodologia de repetição, é monótona, você tá oferecendo um serviço, mas muitas vezes você não está educando. Então essas políticas para os jovens eu acho que vêm dar a cobertura ao bolo. Mas tem que ser lá na escola, lá no posto de saúde, tem que ser vinculado ao trabalho, proque na verdade essa política funciona como esse recheio, que traz um gosto mais interessante pra que esses serviços básicos públicos possam se tornar mais interessantes e eles possam ter um desempenho ainda maior"

Especialista em políticas sociais, Miguel Fontes também considera fundamental que as atividades oferecidas aos jovens exijam alguma contrapartida.

Um exemplo é o Projovem Trabalhador, programa que prepara desempregados entre 18 e 29 anos para o mercado de trabalho, além de dar a eles uma bolsa mensal que varia entre R$ 100 e R$ 600.

Mas é necessário que eles estejam estudando, como explica o diretor de Políticas de Trabalho e Emprego para Juventude do Ministério do Trabalho, Renato Ludwig de Souza.

"O nosso programa tem também a característica de qualificar aquele jovem que está matriculado ou no ensino básico ou fundamental, que esteja estudando. Ou seja, ele não tem que abandonar a educação para se preparar para o mercado, é até condição para participar do nosso programa que ele esteja matriculado na escola. A maior política de qualificação que o governo pode desenvolver é na área educacional, esse é o grande desafio que o Brasil tem"

Renato Ludwig lembra que a escolaridade média dos jovens brasileiros é de apenas quatro anos, uma das piores da América Latina.

Os jovens parecem estar atentos ao que dizem os especialistas. Um exemplo é Popó, aquele jovem que frequenta o projeto Esporte à Meia Noite há quatro anos.

"Porque eu conheço muita gente que tem o ensino médio e hoje não tem empego, tá desempregado. E fazendo faculdade, onde você chegar com um currículo bem apropriado você consegue um emprego"

Ter um curso superior no currículo é a meta de Popó, que cursa o último ano do ensino médio. O jovem já trabalhou como jogador de futebol profissional e pretende seguir a carreira. Mesmo assim, ele acha que os estudos são o passaporte mais garantido para realizar seus sonhos.

De Brasília, Mônica Montenegro

A abordagem em profundidade de temas relacionados ao dia a dia da sociedade e do Congresso Nacional.

De segunda a sexta, às 3h, 7h20 e 23h