Saúde

Governador do Piauí pede plano nacional para retomada das atividades econômicas

Médicos defendem retorno das atividades apenas a partir de queda sustentada no número de casos de Covid-19 por pelo menos 14 dias, enquanto setor industrial apoia retomada imediata

17/06/2020 - 14:18  

Marcello Casal Jr/Agência Brasil
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Governadores querem retorno gradual do comércio. Na foto, consumidores fazem fila em frente a shopping em Brasília

O governador do Piauí, Wellington Dias, reclamou da ausência de estratégia nacional para a retomada econômica durante a pandemia de Covid-19, em reunião da comissão externa da Câmara dos Deputados que acompanha as ações de combate ao coronavírus, nesta quarta-feira (17). Para ele, “não é razoável” que cada estado elabore seu plano. Ele pretende buscar, junto a outros governadores, apoio a projeto de lei do deputado Alexandre Padilha (PT-SP) que institui essas diretrizes nacionais (PL 2430/20) para o retorno gradual das atividades sociais e econômicas no contexto da pandemia.

“É muito importante o projeto, porque o que acontece em outros estados reflete no Piauí, por exemplo”, apontou. Ele explicou que o estado construiu um plano com a participação de diferentes setores da sociedade, que envolve, por exemplo, a proteção das fronteiras do Piauí e o diagnóstico precoce de casos de Covid-19 por equipes do Saúde da Família, para isolamento e tratamento mais cedo, evitando o agravamento dos quadros e reduzindo a taxa de transmissibilidade. Para Dias, foi um erro estratégico a orientação dada aos brasileiros no início da pandemia de só procurar os serviços de saúde em estado grave.

Na reunião, Padilha apresentou o projeto de sua autoria, o qual, segundo ele, inspira-se em experiências internacionais. “O espírito é garantir que a abertura não gere insegurança à vida. Uma das coisas mais importantes para a atividade econômica funcionar é a segurança e a previsibilidade”, disse.

O deputado explicou que a proposta trabalha com o conceito de regiões de saúde (de alta transmissão, em alerta, em contingência ou em observação), levando em conta a diversidade de realidades no País, inclusive dentro dos próprios estados. As medidas para o retorno das atividades serão tomadas de acordo com a realidade da região, baseadas na transparência dos dados.

Presidente da comissão, o deputado Dr. Luiz Antonio Teixeira Jr. (PP-RJ) apoia o avanço da análise da matéria pela Câmara.

Segmentação por regiões
O governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite, disse que no estado está sendo adotado modelo do distanciamento controlado, com segmentação do estado por regiões. Em cada região, são analisados ao todo 11 indicadores, incluindo, por exemplo, a propagação do vírus e a capacidade de atendimento a cada semana. “Não é flexibilização aleatória ou abertura desordenada nem volta à normalidade”, destacou. “A retomada econômica é feita sempre priorizando a manutenção da vida, a partir de análise do histórico de comportamento do vírus no Rio Grande do Sul”, observou.

Para o governador, “é ilusão achar que desprezando os cuidados sanitários vai ter retomada econômica”. Segundo ele, sob risco, as pessoas vão deixar de consumir e de investir. “Proteger a saúde é fundamental para que, do ponto de vista econômico, haja segurança”, ressaltou.

Redução de casos
Para o médico sanitarista e professor da Pontifícia Universidade Católica de Campinas, Pedro Tourinho de Siqueira, antes da reabertura, é preciso reduzir dramaticamente o número de casos confirmados e suspeitos de forma sustentada (por pelo menos 14 dias) e assegurar que não há crise sanitária, para que não aconteça um novo surto de casos. “A reabertura precoce pode levar a novo fechamento”, alertou.

O médico concorda com o projeto de Padilha, porque parte desses pressupostos, e afasta a possibilidade de que lobbies de setores econômicos pressionem os governos.

Ele acrescentou que não é verdade que os vírus vai se espalhar necessariamente por toda a sociedade. Segundo ele, vários países mostram que é possível controlar a crise.

O professor afirmou que se a preocupação central não for a preservação da vida, não existirá retomada econômica. “Morrer mais é pior para a economia do que morrer menos”, disse. Conforme ele, a medida que mais garante uma retomada eficiente é a construção de arcabouço de políticas econômicas e sociais pelo governo federal, como crédito de giro facilitado e a garantia de pagamento dos salários dos trabalhadores.

O médico intensivista especialista em Gestão de Saúde, Luis Fernando Correia, também defendeu o prazo de 14 dias de redução de casos de forma sustentada antes das medidas de retomada econômica. Ele apresentou dados sobre a abertura econômica nos estados norte-americanos, mostrando o aumento drástico de número de casos de Covid-19 em estados onde houve abertura precoce, como no Arizona.

“É isto que a gente não quer ver”, afirmou. Ele salientou ainda a importância de testagem da população antes de ela desenvolver sintomas, para evitar a contaminação e para auxiliar a decisão de retomada.

Relatora da comissão, a deputada Carmen Zanotto (Cidadania-SC) preocupa-se com a falta de disciplina da população ao acessar os espaços reabertos, por exemplo, em relação ao distanciamento mínimo em filas. “Falta campanha mais forte de chamamento da população sobre os cuidados que devem ser tomados”, disse.

Reportagem - Lara Haje
Edição - Natalia Doederlein

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