Empresário se nega a falar sobre propina na Sete Brasil à CPI dos Fundos de Pensão
Deputados criticaram a criação da Sete Brasil, empresa criada com o objetivo de construir sondas para a Petrobras, no valor de 89 bilhões de dólares
06/10/2015 - 19:58

O ex-presidente da Sete Brasil João Carlos Ferraz restringiu sua fala na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) dos Fundos de Pensão, nesta terça-feira (6), à criação da empresa e a como foi feita a captação de recursos com fundos de pensão para criar a empresa para construção de sondas de perfuração para a Petrobras.
“Vou exercer meu direito de permanecer em silêncio”, afirmou, ao responder ao relator deputado Sergio Souza (PMDB-PR), sobre o acordo de delação premiada que teria feito com a força-tarefa da Operação Lava Jato.
O ex-presidente também não comentou sobre o suposto recebimento de propina nos contratos da empresa. Pelo acordo, ele devolveria R$ 3 milhões e repatriaria pelo menos 1,9 milhão de dólares (atualmente, R$ 7,7 milhões).
Ferraz foi convidado para falar sobre o financiamento pelos fundos de pensão Petros (da Petrobras), Previ (do Branco do Brasil), Valia (da Vale do Rio Doce) e Funcef (da Caixa Econômica Federal) na formação de capital da Sete Brasil.
Propinas
Sérgio Souza criticou o silêncio de Ferraz e avaliou que a criação da Sete Brasil poderia estar relacionada com o recebimento de propinas. “Nenhuma sonda das idealizadas foi produzida. Diria com toda a tranquilidade. A instabilidade política nasceu daqui e ela gerou a instabilidade econômica que a sociedade toda está pagando”, afirmou.
A Petrobras possui atualmente 28 contratos de afretamento de sondas com a Sete Brasil, assinados em junho de 2011 (7 sondas) e agosto de 2012 (21 sondas) e que totalizam 89 bilhões de dólares por prazos de 10 anos (5 sondas), 15 anos (21 sondas) e 20 anos (2 sondas).
Ajuda política
Ferraz afirmou que não buscou ajuda de políticos para conseguir capital para criar a empresa em 2011. Segundo ele, a articulação para criar a Sete Brasil não teve coordenação do Executivo. “Não existiu uma negociação centralizada com o governo. Eu era um nível gerencial dois níveis abaixo de um diretor da Petrobras”, disse.
A ideia da criação da empresa nasceu, de acordo com Ferraz, de um grupo de profissionais da Petrobras coordenado por ele, a partir de uma demanda da diretoria da estatal para construção de sondas de perfuração no País.
“Identificamos as principais dificuldades e alternativas para que o mercado viabilizasse a construção das sondas. Foi feita uma busca por recursos. Os fundos de pensão tinham recursos, assim como outras instituições”, afirmou Ferraz.
O deputado Samuel Moreira (PSDB-SP) reclamou de a Petrobras ser o único cliente da Sete Brasil. “Foi um péssimo negócio, mal idealizado; a criação da Sete Brasil é um exemplo de uma postura ideológica de governo.”
Para o presidente da comissão, deputado Efraim Filho (DEM-PB), a explicação de Ferraz sobre o processo de criação da Sete Brasil é fora da realidade. “Extremamente confusa e irreal. A senha veio no final, quando ele disse que o que viabilizou a criação da Sete Brasil foi a impossibilidade de a Petrobras ter em seu balanço valores de 20 a 30 bilhões de reais”, disse.
Tecnologia e emprego
A deputada Erika Kokay (PT-DF) defendeu a criação da empresa que, segundo ela, buscou garantir a transferência de tecnologia para o Brasil para construção de sondas e para gerar empregos no País.
“Consegui entender a lógica que permeia a construção da Sete Brasil. Pressupõe uma demanda assegurada, que não ficaria restrita à Petrobras, mas iria demandar a construção de sondas contratadas pelo preço do mercado internacional”, afirmou.
Acusações
Ferraz foi acusado de receber propina pelo ex-gerente da área de Serviços da Petrobras Pedro Barusco. Segundo Barusco, os estaleiros contratados pela Sete Brasil para construir as sondas (ao custo unitário de 800 milhões de dólares) pagaram propina de 1% sobre os contratos, dividida da seguinte maneira: 2/3 para o ex-tesoureiro do PT João Vaccari Neto, e o restante para ele, Barusco, Ferraz e Eduardo Musa (então diretor de Participações).
Em carta enviada em março à direção da Sete Brasil, Ferraz admitiu que recebeu 1,98 milhão de dólares em propina dos estaleiros que trabalham para a companhia na construção de sondas de exploração do pré-sal. Segundo ele, as "gratificações" foram aceitas em um "momento de fraqueza", em que era pressionado por colegas.
Reportagem – Tiago Miranda
Edição – Newton Araújo