Empresário japonês nega propina, mas confirma que Camargo representava empresa parceira
Dirigente admitiu que Júlio Camargo pode ter participado de reuniões na Petrobras junto com o ex-diretor da Mitsui, Ishiro Inaguage.
05/08/2015 - 23:10

O presidente da empresa japonesa Mitsui no Brasil, Shinji Tsuchiya, negou, em depoimento à Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Petrobras, que a companhia tenha praticado atos de corrupção em seu relacionamento comercial com a Petrobras.
A empresa, junto com a Toyo e a Samsung, foi apontada como fonte de pagamento de propina para diretores da Petrobras pelo empresário Júlio Camargo e pelo doleiro Alberto Youssef.
Apesar de negar ilegalidades cometidas pela empresa, Tsuchiya confirmou que Júlio Camargo era representante da Samsung em negócios com a estatal. Ele admitiu ainda, ao responder pergunta do deputado Bruno Covas (PSDB-SP), que Camargo pode ter participado de reuniões na Petrobras junto com o ex-diretor da Mitsui, Ishiro Inaguage.
O nome de Inaguage aparece no depoimento prestado por Júlio Camargo em processo de delação premiada. No termo de delação, Camargo afirmou que em 2005 atuou como agente da empresa Samsung para vender para a Petrobras duas sondas de perfuração de águas profundas na África e no Golfo do México. “Se a CPI formalizar o pedido, podemos obter o depoimento de Inaguage, que já voltou para o Japão”, disse.
Parceiras da Mitsui
Em depoimento à Justiça Federal, Camargo afirmou ainda que, para fechar o negócio, teria procurado o empresário Fernando Soares, apontado pela Polícia Federal como operador do PMDB no esquema de desvio de recursos da Petrobras. Camargo disse que participou de uma reunião na sala do então diretor da área Internacional da Petrobras, Nestor Cerveró, em que também estavam presentes o então gerente-executivo da área internacional Luiz Carlos Moreira, o então vice-presidente da Samsung, Harrys Lee, e o gerente da Mitsui no Rio de Janeiro, Ishiro Inaguage.
Segundo Camargo e Youssef, a Mitsui teria se associado a outras duas empresas, a Toyo e a Samsung, para alugar e construir os navios, um negócio de mais de 1 bilhão de dólares que teria sido firmado em troca de propina para diretores da Petrobras.
Camargo confessou ter intermediado contratos das duas empresas com a Petrobras e disse, em acordo de delação premiada, que houve pagamento de propina nos negócios. Ele envolveu o nome do presidente da Câmara, Eduardo Cunha, que nega e afirma que o empresário só o mencionou depois de pressionado pelo Ministério Público. Fernando Soares também nega o recebimento de propina, assim como o PMDB.
Sem contrato
Apesar de admitir que Camargo teve contatos com funcionários e diretores da Mitsui, Shinji Tsuchiya disse que a empresa nunca teve contrato com Júlio Camargo para intermediar negócios com a Petrobras.
Segundo ele, a Mitsui contratou a coreana Samsung para construir navios-plataforma em parceria com a Petrobras. “Nós tínhamos uma joint venture com a Petrobras e contratamos a Samsung para fabricar os navios”, disse.
As investigações da Operação Lava Jato apontam que a Samsung repassou 53 milhões de dólares em comissão para Júlio Camargo, por meio da empresa Piemonte, dinheiro que teria sido usado para o pagamento de propinas ao ex-diretor Internacional da Petrobras, Nestor Cerveró, e a Fernando Soares. Cerveró e Soares estão presos em Curitiba (PR) e negam as acusações.
Júlio Camargo foi denunciado por corrupção ativa, corrupção passiva e lavagem de dinheiro, junto com Soares. As denúncias se referem à compra, por R$ 1,2 bilhão, de dois navios sonda. Soares e o PMDB também negam as acusações.
Mais um delator
A CPI da Petrobras vai ouvir nesta quinta (6) o depoimento do empresário Milton Pascowitch, um dos presos da Operação Lava Jato. Pascowitch é acusado de intermediar propinas da empreiteira Engevix para diretores da Petrobras e para o ex-tesoureiro do PT João Vaccari Neto.
Pascowitch foi convocado depois que a justiça cancelou a acareação prevista entre o ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa e o doleiro Alberto Youssef – a pedido da defesa de Costa, que alegou problemas de saúde.
Reportagem – Antonio Vital
Edição – Regina Céli Assumpção