Relações exteriores

Brasil pode descobrir quais empresas colaboraram com espionagem dos EUA, diz jornalista

Comissões da Câmara e do Senado vão convidar o ministro da Justiça para discutir as denúncias confirmadas pelo jornalista norte-americano e também ouvir em audiência pública representantes de empresas de telecomunicações e internet que teriam colaborado com o esquema de espionagem.

06/08/2013 - 20:16  

Laycer Tomaz / Câmara dos Deputados
Audiência pública conjunta das Comissões de Relações Exteriores e de Defesa Nacional (CREDN) da Câmara e de Relações Exteriores de Defesa Nacional (CRE) do Senado, para esclarecimentos acerca das denúncias veiculadas na imprensa nacional sobre a rede de espionagem, montada em Brasília, pelo Governo dos Estados Unidos, para o monitoramento de e-mails e ligações telefônicas de organizações e cidadãos brasileiros. Jornalista do The Guardian, Glenn Greenwald
Glenn Greenwald tornou públicos os documentos da espionagem dos EUA denunciada pelo ex-colaborador da CIA Edward Snowden.

O jornalista Glenn Greenwald disse, nesta terça-feira, aos parlamentares das comissões de Relações Exteriores e de Defesa Nacional da Câmara e do Senado, que o governo brasileiro pode descobrir quais empresas aqui no País colaboraram com o esquema que permitiu que a Agência Nacional de Segurança dos EUA (NSA) tivesse acesso a cerca de 5 bilhões de comunicações de cidadãos, empresas e do governo brasileiro. O jornalista é colunista do jornal britânico The Guardian e tornou públicos os documentos sobre o esquema de espionagem norte-americana denunciado pelo ex-colaborador da CIA Edward Snowden.

Greenwald explicou que a agência conta com o apoio de uma grande empresa de telecomunicações norte-americana que acessa as comunicações de cerca de 16 países. Essa empresa se valeria dos acordos operacionais com empresas sediadas nesses países para ter acesso às informações e as repassaria ao governo americano.

O jornalista diz que a parceira que atua no País pode até não saber que os dados estão sendo repassados, mas ele acha isso improvável. "A questão para o Brasil é qual empresa brasileira está trabalhando com essa empresa e se está sabendo o que essa empresa americana está fazendo. Eu acho que só o governo brasileiro, o Congresso brasileiro pode obrigar essas empresas a responder."

Pressão popular
O jornalista afirmou que os Estados Unidos se negam a discutir a invasão de privacidade em público porque esperam convencer os governos a não tomar atitudes concretas contra sua ação, limitando-se a protestar. Ele acredita que os países só vão reagir de verdade à invasão americana se houver pressão da população.

Para o deputado Carlos Zarattini (PT-SP), também é importante averiguar se não há pessoas de dentro do governo brasileiro atuando nesse esquema de espionagem: "Nós já tivemos um caso em que foi detectada a ação da Polícia Federal em ações coordenadas no governo Fernando Henrique Cardoso e precisamos saber se isso não está voltando a ocorrer agora em que a ação americana é muito mais ampla e muito mais forte".

Vantagens econômicas
Nem todas as informações coletadas são abertas pelo governo americano. De acordo com o jornalista, há uma avaliação prévia para saber o que vale a pena ser aberto. A desculpa oficial do governo é de que a vigilância se destina a coibir o terrorismo, mas ele afirmou que há muitas informações comerciais e industriais e de governos, o que leva à conclusão de que essa espionagem visa obter vantagens e econômicas e aumento do poderio político.

Glenn Greenwald afirmou que o mais grave de toda essa ação é que mais de 70 mil pessoas, mais da metade deles funcionários terceirizados, trabalham nesse esquema e têm acesso às informações coletadas sem qualquer tipo de limite.

Para o presidente da Comissão de Relações Exteriores da Câmara, deputado Nelson Pellegrino (PT-BA), esse descontrole sobre o acesso às informações é ainda mais preocupante. "É um universo de milhares de pessoas, que estão monitorando informações da individualidade das pessoas, segredos individuais e empresariais e segredos de Estado”, destaca o deputado.

“E isso é muito preocupante, não só pela ilegalidade, mas pela possibilidade do vazamento dessas informações e dessa utilização no plano comercial e no plano das relações diplomáticas", acrescenta Pellegrino.

Novas revelações
O jornalista disse que ainda não publicou nem a metade das informações contidas nos mais de 20 mil documentos que recebeu de Edward Snowden sobre a espionagem. Ele informou que tem trabalhado com especialistas para desvendar todos os documentos e que deve fazer novas revelações em cerca de dez dias.

Ministro da Justiça
As comissões de Relações Exteriores decidiram convidar o ministro da Justiça, José Eduardo Cardoso, para discutir as denúncias apresentar por Greenwald. Os parlamentares também vão ouvir em audiência pública as empresas de telecomunicações e de internet.

Reportagem – Vania Alves
Edição – Newton Araújo

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