Direitos Humanos

CPI do Tráfico de Pessoas deve recomendar paralisação de obras da usina de Belo Monte

25/02/2013 - 20:12  

Divulgação CPI do Tráfico de Pessoas
Audiência da CPI do Tráfico de Pessoas em Altamira, no Pará.
Entidades como o Movimento Xingu Vivo se manifestaram durante a audiência pedindo o cumprimento das condicionantes de Belo Monte.

A Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) do Tráfico de Pessoas pode recomendar ao governo, em relatório, a paralisação das obras de construção da Usina de Belo Monte, no município de Altamira, no Pará.

Integrantes da CPI promoveram, nesta segunda-feira (25), audiência pública na Câmara Municipal de Altamira com representantes da sociedade civil, das polícias, do conselho tutelar, da prefeitura e do Ministério Público.

Eles afirmaram que a construção da usina provocou a migração de 30 a 40 mil pessoas para a região, sem que o município tivesse estrutura para receber tanta gente. Segundo os participantes da audiência, o crescimento da população dessa forma tão rápida provocou o aumento de todos os indicadores de violência, do tráfico de drogas e da mendicância.

Entidades como o Movimento Xingu Vivo e representantes da Universidade Federal do Pará se manifestaram durante a audiência pedindo o cumprimento das condicionantes de Belo Monte, para que seja garantidos compensações à população local. "Não podemos falar de uma intervenção em casos de exploração sexual se não fizermos intervenção ao tráfico de drogas e outros tipos de violência advindos desse bolsão de pobreza e inchaço populacional instalados a partir de Belo Monte", disse o professor Assis Oliveira, coordenador da Comissão Municipal de Enfrentamento à Violência Sexual em Altamira.

O presidente da CPI do Tráfico de Pessoas, deputado Arnaldo Jordy (PPS-PA), afirmou que esses problemas já eram previsíveis. Para evitá-los, era preciso que o governo tivesse montado uma infraestrutura de serviços de saúde e segurança, por exemplo.

Arnaldo Jordy assinala que nada disso aconteceu. Por isso, a CPI deve recomendar a paralisação das obras: "Já há um consenso na comissão e algumas medidas já foram pactuadas lá, nessa audiência pública. Uma delas é fazer um relatório detalhado à ministra Maria do Rosário [da secretaria de Direitos Humanos] e à ministra Miriam Belchior [do Planejemento] pedindo, inclusive, providências para que as condicionantes que não foram cumpridas até agora possam ser realizadas. Enquanto isso, que se solicite a paralisação da obra.”

Jordy acrescenta que a CPI não está tentando interditar o desenvolvimento, nem a geração de energia. “O problema é que o preço que está sendo pago é muito alto. A dimensão de violação dos direitos fundamentais da pessoa humana é absolutamente surreal."

Divulgação - CPI do Tráfico de Pessoas
Boate na próxima às obras da Usina Belo Monte, município de Altamira, no Pará.
Boate funciona perto das obras de Belo Monte. Lá, 34 pessoas foram libertadas depois de operações da Polícia Civil e do Conselho Tutelar.

Cárcere privado
Os deputados também estiveram na boate Xingu, que funciona perto das obras de Belo Monte. Lá, 34 pessoas, entre mulheres, adolescentes e travestis, foram libertadas depois de operações da Polícia Civil e do Conselho Tutelar. Elas eram mantidas em cárcere privado e obrigadas a se prostituir.

O presidente da CPI do Trabalho Escravo, deputado Cláudio Puty (PT-PA), também acompanhou a visita ao local. O parlamentar descreve o que viu na boate: "Condições de absoluta degradação. Eu já estive em áreas onde foram encontrados trabalhadores em condição análoga à escravidão, mas nunca tinha visto quartos com fechadura só pelo lado de fora. As meninas traficadas, exploradas sexualmente. Eram escravizadas por dívidas e não tinham o direito de ir e vir. Um calor que se aproximava de 50 graus, quartos sem janelas. Chocante, absolutamente chocante."

Segundo declarações da delegada da Polícia Civil Thalita Feitoza, responsável pelo caso, de 2010 a 2011, duplicaram as ocorrências de exploração sexual na região e, de 2011 a 2012, esse número quadriplicou.

Claudio Puty afirmou que a CPI do Trabalho Escravo vai acionar o consórcio Norte Energia, responsável pela construção de Belo Monte, para que que tome as medidas necessárias para impedir que problemas como esse voltem a acontecer.

O deputado Jordy vai apresentar requerimento para convidar o Consórcio Construtor de Belo Monte (CCBM) para prestar esclarecer sobre o fato. "É impossível que este estabelecimento exista sem o conhecimento da Norte Energia, até porque no caminho de chegada até aqui passamos por guarita da empresa e área de atividade da obra", assinalou.

Reportagem - Renata Tôrres
Edição – Regina Céli Assumpção

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