Economia

Deputados divergem sobre efeitos de fusão entre Perdigão e Sadia

12/07/2011 - 20:39  

Diogo Xavier
Gilvandro Vasconcelos C. de Araújo (Procurador CADE), dep. Roberto Santiago (presidente da Comissão de defesa do Consumidor), Wilson Newton de Mello Neto (Brasil Foods)
Gilvandro Araújo, do Cade, deputado Roberto Santiago, presidente da Comissão de Defesa do Consumidor, e Wilson de Melo, da Brasil Foods.

Em meio à expectativa do julgamento do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) sobre a fusão entre a Perdigão e a Sadia, que pode ocorrer amanhã, deputados divergiram nesta terça-feira, em debate na Comissão de Defesa do Consumidor, sobre os efeitos da operação. Para Reguffe (PDT-DF), a fusão deverá gerar alta nos preços e fechamento de postos de trabalho. Já para Valdir Colatto (PMDB-SC), a operação pode fortalecer o mercado interno e aumentar o volume das exportações brasileiras.

A Brasil Foods foi criada em maio de 2009 com a compra pela Perdigão dos ativos da Sadia. Na época, a Sadia estava endividada. O processo até hoje não foi analisado pelo Cade. O julgamento começou em junho deste ano, mas foi suspenso por um pedido de vista após o voto do relator, Carlos Ragazzo, contra a fusão. Faltam ainda quatro votos para o término da votação.

Para Reguffe, o aumento dos preços aos consumidores é a “consequência natural” da fusão entre as empresas. “No segmento de massas, por exemplo, a Brasil Foods deve dominar 88% do mercado. No de carnes congeladas, 70%. Qualquer entendedor básico de economia sabe que , quando você concentra mercado, reduzindo a concorrência, aumenta o preço ao consumidor num ponto futuro.”, disse.

Já o vice-presidente de Assuntos Corporativos da Brasil Foods, Wilson de Melo, argumentou que a concentração de mercado é limitada a alguns produtos com pouca penetração no mercado nacional, como o de massas pré-prontas. Além disso, segundo ele, a concorrência existente hoje já é suficiente para barrar os preços. “Pode não haver concorrência hoje do mesmo tamanho da Brasil Foods, mas isso não significa que a concorrência atual não nos impeça de cometer erros em relação aos consumidores, como, por exemplo, subir os preços”, garantiu.

Empregos
O deputado Ivan Valente (Psol-SP), que junto com Reguffe requereu a reunião de hoje, lembrou também que a tendência é que a fusão gere demissões. “Essa é a prática em qualquer processo de fusão de empresas”, disse.

O deputado Leandro Vilela (PMDB-GO) discordou. Ele afirmou que o grupo vem gerando novos postos de trabalho. Segundo Wilson Neto, foram 6 mil novas vagas abertas em janeiro deste ano. “A situação atual é contrária. Temos até dificuldade em preencher esses postos”, afirmou. A Brasil Foods emprega hoje, direta e indiretamente, 320 mil pessoas.

Acordos
Nos últimos meses, o Cade e a Brasil Foods vêm realizando reuniões para acordar medidas que possam evitar a reprovação da fusão e um possível processo judicial. Entre as propostas da empresa, estão a venda de fábricas e centros de distribuição, e a alienação de marcas controladas pela companhia. A ideia é convencer o Cade de que as medidas vão fortalecer algum concorrente do setor alimentício no mercado interno.

O procurador-geral do conselho, Gilvandro Vasconcelos Araújo, que também participou do debate, defendeu o acordo entre a empresa e o órgão. “A decisão que saia de um consenso é sempre preferível. Contudo, qualquer que seja o acordo, deve-se ter em vista a efetivação de uma concorrência efetiva à Brasil Foods no País e a manutenção dos empregos atuais”, disse.

Reportagem – Carolina Pompeu
Edição – Maria Clarice Dias

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