Ministro aponta inovação como foco para nova política industrial
29/06/2011 - 18:54
O ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Fernando Pimentel, afirmou nesta quarta-feira que a nova política industrial do governo deverá focar na inovação para concorrer com o cenário econômico mundial dominado pela presença chinesa. “Qualquer país industrializado dificilmente consegue ganhar do modo de produção asiático só usando o chão de fábrica”, afirmou. Segundo Pimentel, a inovação deve ser feita com investimento em pesquisa, ciência e tecnologia, e engenharia de produção. “Quem não correr atrás da inovação não vai sobreviver”, ressaltou.
De acordo com o ministro, a ascensão da economia chinesa mudou o cenário da produção industrial mundial nos últimos 15 anos. “Hoje temos um país, um modo de produção que é capaz de produzir qualquer mercadoria muito abaixo da média internacional.” Pimentel informou que os países asiáticos, liderados pela China, já desenvolveram tecnologia para fabricar de 90% a 100% das mercadorias industrializadas no mundo.
Pimentel participou de audiência pública conjunta das comissões de Desenvolvimento Econômico, Indústria e Comércio; e de Trabalho, de Administração e de Serviço Público sobre a nova política industrial brasileira, que será anunciada oficialmente pela presidente Dilma Rousseff na segunda quinzena de julho. O debate foi proposto pelo deputado Assis Melo (PCdoB-RS).
Juros altos
Na avaliação do deputado Paulo Maluf (PP-SP), a principal causa do enfraquecimento da indústria brasileira são os juros altos. Segundo ele, o Brasil está na contramão da história ao combater a inflação com o aumento de juros. “Ou a gente tem consciência disso, ou vamos desindustrializar o Brasil”, afirmou.
O deputado Paulo Pereira da Silva (PDT-SP) apresentou dados da falta de desenvolvimento da indústria do País. Ele disse que o setor de manufaturados tem um déficit 100 milhões de dólares e o de autopeças saiu de um superávit de R$ 3 bilhões em 2008 para um déficit de R$ 5 bilhões atualmente. “A desindustrialização é muito violenta.”
Fusão Pão de Açúcar - Carrefour
Durante o debate, o líder do PSDB, deputado Duarte Nogueira (SP), questionou o possível financiamento de R$ 4,5 bilhões do Banco Nacional de Desenvolvimento Social (BNDES) para a fusão entre o Pão de Açúcar e o braço brasileiro do francês Carrefour. O valor total da operação é de 2,5 bilhões de euros, ou R$ 5,6 bilhões.
“Por que aplicar recursos num setor já consolidado? Isso vai elevar mais a concentração, e os fornecedores vão ter menos poder de barganha.” Na opinião dele, a medida abriria a porta para invasão de produtos estrangeiros nas prateleiras dos supermercados brasileiros.
O deputado Alfredo Kaefer (PSDB-PR) apresentou um requerimento de audiência pública com o presidente do BNDES, Luciano Coutinho, para falar sobre a fusão. Segundo ele, o Executivo precisa de um câmbio mais equilibrado, de carga tributária e juros menores para fortalecer a indústria.
Fernando Pimentel não entrou em detalhes sobre a análise do financiamento, mas disse que a operação “tem importância estratégica para o setor nacional”. Segundo o ministro, não há nada fora do comum com o auxílio do BNDES, pois a medida abriria uma porta para produtos brasileiros industrializados em supermercados de todo o mundo. “[A fusão] vai concentrar no máximo 27% do mercado de alimentos no Brasil, é muito pouco, não acho que haja risco para a concorrência.”
Reportagem – Tiago Miranda
Edição – Maria Clarice Dias