Meio ambiente e energia

Brasil não pode descartar energia nuclear, diz presidente de estatal

Comissão Nacional de Energia Nuclear afirma não haver chance de acidente ocorrido na usina de Fukushima, no Japão, se repetir no País. Deputados pedem mais atenção ao tema.

23/03/2011 - 17:19  

Leonardo Prado
Sr. Odair Dias Gonçalves (presidente da Comissão Nacional de Energia Nuclear - CNEN - do Ministério da Ciência e Tecnologia)
Odair Gonçalves, da Cnen, criticou a decisão da Alemenha de fechar usinas.

Com uma das maiores reservas de urânio do mundo e reconhecido conhecimento tecnológico, o Brasil não pode se dar ao luxo de descartar a energia nuclear, segundo o presidente da Eletrobras Eletronuclear, Othon Luiz da Silva. Ele participou nesta quarta-feira de audiência pública da Comissão de Minas e Energia da Câmara dos Deputados sobre o assunto.

A opinião foi compartilhada pelo presidente da Comissão Nacional de Energia Nuclear (Cnen), Odair Gonçalves, que descartou mudanças no Programa Nuclear Brasileiro em razão do recente acidente radioativo ocorrido em Fukushima, no Japão, após um terremoto de magnitude 9 e um tsunami de 14 metros. O programa prevê a construção de mais quatro usinas nos próximos anos, além das duas já existentes em Angra dos Reis (RJ) – Angra 1 e Angra 2.

Riscos
Gonçalves classificou de “precipitada” a decisão da Alemanha de fechar usinas e vinculou a medida ao período eleitoral daquele país. Ele também refutou a hipótese de ocorrer no Brasil uma catástrofe semelhante à japonesa. "Nosso território não possui falhas tectônicas; isso impossibilita a ocorrência de terremotos sequer de grau 4. Mesmo assim, as usinas, para conseguir licenciamento, têm de demonstrar que são resistentes a um terremoto de grau 7, o que jamais vai acontecer no Brasil. Além disso, também é exigida a existência de diques, a fim de resistir a ondas de até 8 metros de altura", explicou.

O deputado Domingos Sávio (PSDB-MG), no entanto, lembrou que já ocorreram terremotos no País e que é necessário mais cuidado com o tema: "O imponderável existe e há também a possibilidade de riscos provocados pela ação humana. Tais riscos podem ser desde a queda de uma aeronave até algum erro na operação de equipamentos. É preciso ter humildade neste momento, e não partir para críticas contra a Alemanha, uma nação que detém tecnologias de ponta”, afirmou.

Sávio defendeu a exploração de energias alternativas como a eólica e a solar. Othon Silva, entretanto, afirmou que não é viável pensar que elas vão substituir as outras formas. "A não ser que queiramos pagar muito mais caro do que pagamos hoje", comentou.

Radiação
O presidente da Cnen ressaltou ainda que, provavelmente, o acidente japonês não causará mortes ou câncer porque a exposição das pessoas à radiação não chegou a 100 unidades (microsieverts por hora). Somente a partir de 800 unidades, de acordo com Gonçalves, o dano ao homem seria certo. A partir de 4.500, seria letal.

Silva disse que o reator a ser usado nas novas usinas brasileiras dispensa a energia elétrica para resfriamento por poucas horas. No caso japonês, o resfriamento foi imediatamente interrompido após a perda de energia. Gonçalves acrescentou que os prédios de Angra dos Reis são à prova de inundação.

Apesar dos esclarecimentos oficiais, vários deputados manifestaram preocupação com os planos para a evacuação da população fluminense em caso de acidente. Gonçalves destacou que, a cada dois anos, há um treinamento com os moradores, embora a participação seja pequena porque é voluntária. E informou que a Eletronuclear está trabalhando com o mapeamento das áreas para monitorar rotas de escape, além da construção de embarcadouros para fuga pelo mar.

Reportagem – Sílvia Mugnatto/Rádio Câmara
Edição – Marcelo Oliveira

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