Política e Administração Pública

De Deodoro da Fonseca a Lula, discursos de posse contam a história do País

Saiba detalhes e assista à íntegra de alguns discursos de ex-presidentes.

31/12/2010 - 09:38  

Nestes 121 anos de história republicana, o Brasil teve 36 presidentes. Rever os discursos de posse, de Deodoro da Fonseca a Luiz Inácio Lula da Silva, no momento em que a presidente eleita, Dilma Rousseff, se prepara para assumir o posto, é uma forma de entender a história do País.

Alguns fatos que marcaram os mandatos desses presidentes foram antecipados nos seus discursos inaugurais. Chamam a atenção também os conflitos entre discurso e prática. Nem sempre o que foi prometido coincide com o que foi feito, e nem sempre o que foi feito transparece nas palavras do discurso de posse.

A fala de Getúlio Vargas diante do Congresso, após ser escolhido presidente de forma direta, na eleição de 1950, mostra que o seu governo seria marcado pelo conflito permanente entre oposição e situação. “Os profissionais da desordem, os conspiradores impertinentes e os inimigos da paz social não encontraram ambiente propício para a aventura, o terror, a violência ou a demagogia”, discursou Vargas, em referência àqueles que tentaram evitar a sua candidatura.

Vinte anos antes, ao ser empossado no cargo de presidente do movimento revolucionário de 1930, Vargas fez um discurso de conciliação. “Todas as categorias sociais, de alto a baixo, sem diferença de idade ou sexo, comungaram em um idêntico pensamento fraterno e dominador: a construção de uma Pátria nova, igualmente acolhedora para grandes e pequenos, aberta à colaboração de todos os seus filhos”.

PAC e Fome Zero

Veja a íntegra do segundo discurso de posse de Lula.

Assista aqui ao primeiro discurso de Lula, de 01/01/03.

Confira o discurso pronunciado por Fernando Henrique em sua segunda posse.

Se seu navegador não puder executar o áudio, <a href='http://www2.camara.gov.br/agencia/audios/12d3935da38.mp3' _fcksavedurl='http://www2.camara.gov.br/agencia/audios/12d3935da38.mp3'>obtenha o áudio</a> e salve-o em seu computador.

Ouça aqui a íntegra do primeiro pronunciamento de FHC.

Em exemplo recente, Lula antecipou em seu discurso de posse de 1º de janeiro de 2007 qual seria a viga-mestra do seu segundo mandato. “Sei que o investimento público não pode, sozinho, garantir o crescimento. Porém, ele é decisivo para estimular e mesmo ordenar o investimento privado. Essas duas colunas, articuladas, são capazes de dar grande impulso a qualquer projeto de crescimento”. E completou: “Para atingir esses objetivos, estaremos lançando, já neste primeiro mês de governo, um conjunto de medidas, englobadas no Programa de Aceleração do Crescimento, o PAC.”

Se o PAC foi a estrela do segundo mandato, no primeiro o mote foi o combate à fome. “Como disse em meu primeiro pronunciamento após a eleição, se, ao final do meu mandato, todos os brasileiros tiverem a possibilidade de tomar café da manhã, almoçar e jantar, terei cumprido a missão da minha vida”, discursou ele no Congresso, em 1º de janeiro de 2003.

No mesmo discurso que lançou o PAC, Lula prometeu votar as reformas política e tributária, que acabaram emperradas no Congresso. “A reforma política deve ser prioritária. Convido todos para iniciarmos o seu debate e urgente encaminhamento, ao lado de outras reformas importantes, como a tributária, que precisamos concluir”.
Estabilidade e crise
Fernando Henrique Cardoso, ao tomar posse para o segundo mandato, em 1999, prometeu manter a estabilidade econômica, o que de fato fez, mas também garantiu que iria debelar a crise econômica surgida em 1998. “(...) Não fui eleito para ser o gerente da crise. Fui escolhido pelo povo para superá-la e para cumprir minhas promessas de campanha. Para continuar a construir uma economia estável, moderna, aberta e competitiva. Para prosseguir com firmeza na privatização”, discursou. A realidade, no entanto, mostrou que FHC precisou gastar boa parte do que construiu durante o primeiro mandato para gerenciar a crise cambial que se abateria sobre o Brasil a partir de 1999.
Em seu primeiro mandato, FHC destacou no discurso feito em 1995 que, extinta a inflação, o Brasil deveria voltar-se ao resgate da justiça social. Ele disse ainda que não temeria acabar com privilégios. Além disso, o presidente ressaltou a necessidade de abrir o País para os interesses internacionais, "sem xenofobia". Já o seu antecessor, Itamar Franco, que assumiu o cargo em momento de crise política, logo após a renúncia de Fernando Collor, fez um discurso em que pregava a transparência total do novo governo e pedia paciência para a população, pois, segundo ele, “não serão tempos felizes, mas de sacrifício” e de “penosas preocupações”. “Este governo não terá segredos – a não ser aqueles que a segurança do País, em suas relações internacionais, assim exigir”, discursou Itamar diante do Congresso. Ele não tocou no tema do combate à inflação, que seria a tônica do seu mandato e iria garantir a eleição de FHC, candidato governista.

Fontes: 1) Palavra de Presidente: discursos de posse de Deodoro a Lula, de João Bosco Bezerra Bonfim. 2) Página eletrônica da Presidência da República. 3) Folha Online: íntegra do discurso de posse do presidente Lula.

Reportagem – Roberto Seabra
Edição – João Pitella Junior

A reprodução das notícias é autorizada desde que contenha a assinatura 'Agência Câmara Notícias'.