05/11/2013 22:02 - Meio Ambiente
Radioagência
Relatório prevê aumento de até 6ºC na temperatura global; agropecuaristas descartam queda no setor
A produção do setor agropecuário brasileiro vai continuar subindo, independentemente de a temperatura global aumentar ou diminuir. Essa previsão foi apresentada pelo assessor técnico da Confederação Nacional da Agricultura e Pecuária, Nelson Ananias Filho, em audiência promovida pela Comissão de Agricultura da Câmara dos Deputados nesta terça-feira (5).
Durante a audiência, cientistas explicaram aos parlamentares os resultados do 1º Relatório de Avaliação Nacional sobre Mudanças Climáticas, elaborado com as conclusões de trabalhos de mais de 300 pesquisadores brasileiros. Segundo o relatório, a temperatura média subirá entre três e seis graus centígrados até o ano de 2100.
Isso vai fazer com que o regime de chuvas no Brasil também sofra mudanças: na Região Sul e na Mata Atlântica do Sudeste pode haver aumento de até 30% nas precipitações, enquanto em parte da Amazônia e na Caatinga o cenário deve ser de seca, com redução de até 40% das chuvas.
Também participou da audiência o professor do Centro de Meteorologia da Universidade Federal de Alagoas, Luiz Carlos Molion. Ele não só criticou o relatório elaborado pelo Painel Brasileiro de Mudanças Climáticas, como se contrapôs à conclusão da maioria dos cientistas: Molion afirmou que, nos próximos 20 anos, a temperatura vai diminuir no mundo.
Segundo ele, o nível de atividade do sol é cíclico e o astro estaria entrando em sua fase de menor atividade, emitindo menos calor. Além disso, de acordo com o professor, a temperatura dos oceanos, principalmente o Pacífico, vem diminuindo, o que também teria uma influência na redução da temperatura mundial.
A divergência não afetou a posição apresentada pelo assessor da Confederação Nacional da Agricultura Nelson Ananias Filho sobre as mudanças climáticas:
"Nós trouxemos a visão da agricultura de que nós podemos, em qualquer uma dessas possibilidades, nos adaptar e produzir cada vez mais”.
O pesquisador da Embrapa Eduardo Assad participou da elaboração do 1º Relatório de Avaliação Nacional sobre Mudanças Climáticas. Ele reafirmou que as previsões apontam que, em todo o Brasil, deve haver aumento de temperatura. Assad citou outro efeito importante das mudanças climáticas no País:
"Nós estamos observando um aumento na frequência de fenômenos extremos. Fenômenos que anteriormente o pessoal dizia que era normal, continuam acontecendo, mas com muito mais frequência: vários dias do ano com temperaturas muito elevadas, vários dias do ano com chuvas muito intensas, vários dias do ano com temperaturas muito baixas. Essas coisas vão provocando impactos muito fortes, principalmente na agricultura brasileira e nas populações mais pobres”.
De acordo com o pesquisador da Embrapa, em um primeiro momento, seria prejudicada a produção de soja, milho, café e trigo. Por outro lado, o aumento da temperatura beneficiaria as pastagens e a produção de cana-de-açúcar. Eduardo Assad destacou que uma das formas de minimizar os impactos das mudanças climáticas na agricultura é, por exemplo, usar plantas adaptadas. Ele disse que alguns tipos de milho usados no Nordeste, que suportam altas temperaturas e incertezas hídricas, poderiam ser testados no sul do País. Segundo ele, esses milhos adaptados para o Nordeste não produzem tanto quanto as espécies do Sul, mas poderiam ser uma alternativa para os agricultores da região.
O pesquisador também afirmou que a chuvas tendem a ficar mais intensas. Isso exigirá que os agricultores voltem a plantar em terraços, sistema que utiliza o declive do terreno para formar plataformas de vários níveis numa lavoura, diminuindo o impacto das enxurradas.
O deputado Bohn Gass, do PT gaúcho, foi quem pediu a realização do debate. Ele manifestou preocupação com as consequências do aquecimento global na agricultura e destacou que é necessário fazer com que as tecnologias que permitem a adaptação da produção às mudanças climáticas cheguem a todos os produtores.








