26/04/2012 14:33 - Saúde
Radioagência
Uso da maconha divide opiniões em audiência pública na Câmara
Os malefícios e possíveis benefícios da maconha para a saúde foram debatidos pela Comissão de Seguridade Social e Família da Câmara nesta quinta-feira. Entre os convidados, cientistas, médicos e até quem forneceu a droga a alguém na intenção de aliviar uma dor familiar.
O doutor em neurociências e professor adjunto do Departamento de Fisiologia da Universidade de Brasília, Renato Malcher Lopes, é coautor do livro "Maconha, Cérebro e Saúde". Ele defendeu o uso medicinal da droga no Brasil para redução de sintomas e alívio de náuseas, falta de apetite em pacientes de câncer e destacou o uso da substância em doenças como epilepsia, mal de Parkinson e Alzheimer.
"Tem um valor terapêutico, porque o prognóstico dela melhora em função do seu estado psicológico e especialmente porque isso tem um efeito na família. A família está sofrendo. A pessoa está vendo a família sofrendo e obviamente isso compromete a recuperação dela."
O escritor e pesquisador Gideon dos Lakotas afirma que nenhum cientista é contra o uso medicinal da maconha, mas o debate está enviesado por uma outra causa: o uso recreativo da droga.
A mesma opinião tem a psicóloga clínica especialista em saúde mental Marisa Lobo. Ela contou sua experiência com mais de 500 pacientes e afirma que a maconha desencadeia surtos psicóticos em 15% a 17% dos seus usuários e é necessário cuidado com o raciocínio sobre o discurso acerca dos benefícios do que é "natural".
"Há 40 anos atrás, médicos receitavam o cigarro para aliviar a ansiedade e estresse. Vocês têm idéia do que é esquizofrenia? Eu tenho porque tenho pacientes com esquizofrenia, e tenho esquizofrenia na minha família desencadeada pela maconha. Então, além da parte teórica eu tenho a prática. E eu não falo de mim, eu falo de estudos científicos. Não há conflito de ciências, há conflito de cientistas, por valores pessoais. Cada um acha o que quer nessa situação. A luta aqui é por legalização porque aqui ninguém é bobo."
Segundo Marisa, a questão precisa ser colocada na balança. A maconha é perigosa porque envolve motivação humana, a família, a sociedade, e não apenas indivíduos. A audiência pública contou com o depoimento emocionado da nutricionista Helena Sampaio, que acompanhou a morte de sua irmã Ana Rosa e, quando passou por uma situação semelhante com um amigo, aliviou o sofrimento dele com maconha. Ela saiu às ruas pra comprar.
"Eu fui sozinha ver se eu conseguia alguma coisa, um punhado daquilo que eu já sabia depois da minha irmã, eu me aprofundei eu li muito e vi que aquilo causava benefício. E eu vi o meu amigo, a qualidade que aquilo deu pra ele foi estúpida, muito grande. Meu amigo foi... me agradecendo imensamente e eu não repeti a mesma ida dolorida da minha irmã, eu não repeti com meu amigo, eu não repeti."
A platéia da audiência pública estava lotada com pessoas do movimento Pela Vida, que vai promover em junho uma marcha contra a maconha, e por estudantes usuários e defensores da legalização da droga. O deputado Roberto de Lucena, do PV de São Paulo, justificou a necessidade do debate porque a descriminalização da maconha nos últimos anos passou a ser mais discutida pela sociedade.
De Brasília, Luiz Cláudio Canuto








