29/05/2024 16:55 - Saúde
Radioagência
Políticas públicas de saúde mental são fundamentais nas tragédias, afirmam debatedores
POLÍTICAS PÚBLICAS DE SAÚDE MENTAL SÃO FUNDAMENTAIS NAS TRAGÉDIAS. A REPÓRTER MARIA NEVES ACOMPANHOU DEBATE SOBRE O TEMA NA CÂMARA.
Em debate sobre os impactos da tragédia climática vivida pelo Rio Grande do Sul na saúde mental dos trabalhadores, realizado na Câmara, os participantes destacaram as estratégias mais adequadas para o atendimento dos atingidos. Segundo o presidente da Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP), Antônio Geraldo da Silva, a ocorrência de transtornos mentais em desastres é de duas a três vezes maior que em situações normais, e podem atingir de 8% a 57% da população afetada.
Em situações de normalidade, o médico ressaltou que o transtorno de ansiedade atinge cerca de 13% dos brasileiros. O país também é campeão mundial em depressão, segundo disse. Apesar disso, reclamou que não existe sequer um medicamento de uso psiquiátrico no programa de farmácia popular.
Quanto ao Rio Grande do Sul, Antônio Geraldo da Silva afirmou que o tratamento psíquico dos atingidos pelas enchentes terá de ser de longo prazo, e depende de políticas do Estado.
“Nosso atendimento não é um atendimento de tragédias, é para os problemas que elas estão tendo agora e as sequelas que elas terão depois. Nós precisamos que o Estado assuma e apresente o mais breve possível o que vai fazer para este momento e para depois, para que a gente possa caminhar essas pessoas, para que a gente possa dar a essas pessoas a certeza de que haverá um atendimento específico e haverá continuidade. Não é para um mês, nós precisamos para meses e anos. Quem consegue bancar isso para meses e anos? Só o estado.”
A representante do Ministério da Saúde Débora Noal apresentou as estratégias do órgão para atender a população afetada pela tragédia climática no Rio Grande do Sul. Segundo a consultora, nesse momento é importante fornecer informações precisas e adequadas, de modo que as pessoas entendam o que está acontecendo com elas e que existe uma estratégia do poder público para solucionar os problemas.
“A gente costuma dizer que uma das pernas da estabilização emocional é essa comunicação justa e precisa, porque informação de menos dá ansiedade e informação demais traz angústia.”
Débora Noal explicou que uma das etapas mais importante ao planejar o atendimento é consultar os serviços básicos de saúde para conhecer a prevalência de problemas mentais na população antes da tragédia. Segundo relatou, em geral, entre 15% e 20% dos atingidos já apresentavam alguma fragilidade emocional anterior que pode se intensificar nesse momento.
Nesses casos, as equipes de saúde fariam uma busca ativa para conhecer as necessidades dessas pessoas. Os profissionais procuram saber, por exemplo, se elas estão em abrigo seguro e se continuam tendo acesso às medicações que tomavam ou a outros tratamentos que faziam. Caso contrário, a equipe investiga se elas precisam de ajuda para reestabelecer esses tratamentos.
De acordo com a representante do Ministério da Saúde, além de oferecer atendimento psiquiátrico ou psicológico às pessoas em sofrimento mental, é preciso reestruturar as redes de apoio desses pacientes.
“A gente vai fazer uma aproximação dessa rede tradicional de solidariedade, que é a família, os amigos, os vizinhos, os líderes comunitários, a gente vai para a rádio, a gente vai para a televisão, a gente vai para as igrejas, para os cultos, para as estruturas onde tem vínculos de confiança com a informação que está sendo passada, e a gente informa para ela quais são essas reações que são esperadas nesse momento. E para que elas que dizem: ‘eu não estou dando conta, eu sinto que eu preciso de ajuda’, para essas, então, a gente oferece os médicos generalistas, os assistentes sociais, os psicólogos, que estão lá nas unidades básicas de saúde.”
A audiência pública sobre os efeitos da calamidade na saúde mental de trabalhadores no Rio Grande do Sul foi realizada pelas comissões de Trabalho e de Saúde, a pedido da deputada Geovania de Sá (PSDB-SC).
Da Rádio Câmara, de Brasília, Maria Neves








