19/02/2024 15:33 -
Radioagência
Projeto que reconhece o Kuarup como manifestação da cultura nacional vai ao Senado
CÂMARA APROVA PROJETO QUE RECONHECE O KUARUP COMO MANIFESTAÇÃO DA CULTURA NACIONAL. A REPÓRTER MARIA NEVES NOS CONTA MAIS SOBRE A CERIMÔNIA.
Aprovado na Comissão de Constituição Justiça, projeto que reconhece a cerimônia do Kuarup como manifestação da cultura nacional será enviado para análise do Senado. O Kuarup é realizado por povos indígenas da região do Alto Xingu, no Mato Grosso, entre agosto e setembro, como forma de despedida dos mortos.
Na opinião da deputada indígena Célia Xakriabá (Psol-MG), o reconhecimento da cerimônia do Kuarup é importante porque os povos do Alto Xingu estão ameaçados.
“Os povos indígenas da região vêm passando por processos de invasão do território em grandes empreendimentos. É importante defender a cultura desse povo para que nós não passemos por um processo de culturicídio, que é quando impacta os modos das pessoas de estar reivindicando e reverenciando a sua espiritualidade.”
Célia Xakriabá explica que o Kuarup é o momento em que se reúnem pessoas de diversas aldeias, assim como não indígenas que prestaram grandes serviços para o povo do Xingu. Segundo a deputada, a cerimônia também representa uma oportunidade para celebrar a diversidade dos povos indígenas.
Como afirma a autora da proposta, a ex-deputada Rosa Neide, o ritual, que reúne todas as etnias do Alto Xingu, revive uma narrativa religiosa comum a esses povos. De acordo com a mitologia dos indígenas da região, Mavutsinim, o primeiro homem no mundo, queria ressuscitar seus mortos.
Para isso, cortou três troncos da madeira de Kuarup, levou para a aldeia, pintou e adornou, como totens que representavam aqueles que partiram. Esse troncos foram colocados em círculo no meio da aldeia e a comunidade cantou em volta deles para que voltassem à vida. Devido à curiosidade de um dos indígenas, a cerimônia não deu certo. Desde então, o ritual tornou-se uma festa para celebrar os mortos.
A cada ano, uma etnia se responsabiliza pela realização da cerimônia, que dura dois dias. Na primeira noite, troncos pintados e enfeitados são colocados em torno de uma fogueira. Familiares em luto passam a madrugada chorando e rezando pelos parentes que se foram.
No segundo dia, chegam as etnias vizinhas com presentes para os anfitriões, normalmente produtos típicos de suas comunidades. Nesse dia também acontecem as lutas, chamadas Huka Huka, nas quais jovens guerreiros se enfrentam. Essa modalidade é considerada uma forma de arte marcial totalmente brasileira.
Da Rádio Câmara, de Brasília, Maria Neves








