Rádio Câmara

Reportagem Especial

Células-tronco são usadas para tratar problemas no coração, como o causado pela Doença de Chagas - Bloco 2 (05'17'')

19/02/2009 - 00h00

  • Células-tronco são usadas para tratar problemas no coração, como o causado pela Doença de Chagas - Bloco 2 (05'17'')

A doença de Chagas é causada por um parasita transmitido pelo barbeiro, inseto comum em casas de pau-a-pique, nos bolsões de miséria no interior do Brasil. Na forma crônica, os chagásicos têm os músculos do coração lesionados, o que faz o coração aumentar de tamanho e pode levar o doente à morte.O último remédio para a doença de Chagas foi lançado há mais de 30 anos. Mas as células-tronco vêm trazer uma esperança para os doentes e uma revolução para o tratamento da Doença de Chagas. O professor Ricardo Ribeiro dos Santos coordena as pesquisas com células-tronco para doenças cardíacas, na Fundação Osvaldo Cruz da Bahia. Ele comemora os resultados positivos para Doença de Chagas, nessa pesquisa pioneira no mundo, realizada pelo Brasil.

"Nós fizemos um pré-projeto em que foram tratados 30 pacientes, e todos tiveram uma melhora significativa. E os que sobreviveram - porque ao fim de dois anos, 100% dos chagásicos nessa fase de gravidade morrem - sobreviveram 60%, e estão bem até hoje, já faz mais de cinco anos já."

Segundo Ricardo Ribeiro dos Santos, a perspectiva agora é fazer uma droga com células-tronco para quem está no início da doença, a fim de bloquear sua evolução. Dr. Ricardo diz que tudo isso ainda está em nível de pesquisa clínica, em que se utilizam humanos. As pesquisas com doença de Chagas estão no nível três, numa escala que vai de um a quatro. Grupos brasileiros, de 40 instituições distribuídas no Brasil todo, também pesquisam a utilização de células-tronco em outros tipos de cardiopatias, todos financiados pelo Ministério da Saúde.

O professor Ricardo Ribeiro dos Santos diz que o Brasil está num padrão avançado com relação ao resto do mundo, na pesquisa com células-tronco em cardiologia. Ele cita algumas pesquisas realizadas na área.

"O que o Incor faz também é só lá no INCOR, que eles fazem durante a cirurgia cardíaca que envolve um implante de uma mamária ou de uma artéria para irrigar melhor o coração, eles injetam nas áreas que eles não vão conseguir irrigar, sob visão direta, células-tronco. Isso também é sui generis no mundo. Na minha opinião, em cardiologia, nós estamos acompanhando a literatura internacional, e a participação em congressos internacionais coloca o Brasil lado a lado com outros países."

Mas a excelência em pesquisa no Brasil depende de um fator fundamental: dinheiro. Dos R$ 6 bilhões destinados ao Ministério da Ciência e Tecnologia, na proposta orçamentária de 2009, o orçamento terminou cortado em 1 bilhão e duzentos mil reais pelo Congresso Nacional. A comunidade científica nacional está preocupada. Mayana Zatz, Coordenadora do Centro de Estudos do Genoma Humano da USP e uma das maiores especialistas em células-tronco do Brasil, diz que esse corte é um desastre.

"Isso seria um desastre se acontecesse, porque nós estamos num círculo virtuoso de aumentar a produção científica, de cada vez ter mais reconhecimento internacional, e se houver esse corte nós vamos voltar para trás, às vezes até de uma maneira irrecuperável. Enquanto os Estados Unidos, a Europa, dizem 'nós vamos cortar verbas em tudo, fazer economia por causa da crise, menos em ciência e tecnologia, o Brasil, determina, o Congresso no Brasil, um corte em ciência e tecnologia. Só com ciência, tecnologia, saúde e educação que a gente vai poder sair fortalecido dessa crise."

O deputado Rodrigo Rollemberg, do PSB do DF, foi relator setorial do orçamento e secretário de Ciência e Tecnologia para Inclusão Social do governo. Ele se junta à revolta dos cientistas com os cortes no Orçamento.

"Nós temos um entendimento que num momento de crise é onde se deve, exatamente, investir em ciência tecnologia e inovação. Pra construir as bases, para a saída da crise, e para um salto de qualidade que o desenvolvimento econômico e social sustentável. Mas naquela ocasião houve um compromisso do governo que restabeleceria esses recursos".

Foi aprovado um fundo com a venda de ativos da Rede Ferroviária Federal, que será remanejado pelo Executivo para os ministérios que perderam com os cortes feitos pela comissão mista de Orçamento. Em nota, o Ministério da Ciência e Tecnologia disse estar empenhado em garantir a recomposição do seu Orçamento para este ano.

De Brasília, Adriana Magalhães.

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