Rádio Câmara

Reportagem Especial

Reprise - Especial Cana-de-açúcar 5 - Pesquisas para tornar mais sustentável a produção de álcool (07'17'')

23/06/2008 - 00h00

  • Reprise - Especial Cana-de-açúcar 5 - Pesquisas para tornar mais sustentável a produção de álcool (07'17'')

NA ÚLTIMA MATÉRIA DA SÉRIE ESPECIAL SOBRE A CANA-DE-AÇÚCAR, VOCÊ VAI CONHECER ALGUMAS PESQUISAS E EXPERIÊNCIAS QUE BUSCAM TORNAR MAIS SUSTENTÁVEL A PRODUÇÃO DE AÇÚCAR OU ÁLCOOL NO PAÍS. A REPORTAGEM É DE ANA RAQUEL MACEDO.

Agricultores familiares do município de Sananduva, no Rio Grande do Sul, têm experimentado uma nova fonte de renda nos últimos meses. Aliando criação de gado com o plantio de cana-de-açúcar, um grupo de cerca de 15 famílias tornou-se peça fundamental de um projeto de micro-destilaria de álcool desenvolvido por uma cooperativa da região, a Cooperativa Regional de Eletrificação Rural do Alto Uruguai.

Os produtores vendem a cana para a cooperativa, que, por sua vez, usa a matéria na micro-destilaria e produz o álcool que irá mover seus veículos. O diretor-presidente da cooperativa, Alderi do Prado, conta que cada hectare de cana gera de R$ 4 mil a R$ 5 mil para o produtor. E, embora os agricultores produzam, no máximo, até 3 hectares da matéria-prima, o incremento na renda já é significativo, na avaliação de Alderi.

"O produtor consegue ter uma renda, se ele for simplesmente vender a cana, ele conseguiria uma renda muito grande em um 1 hectare, comparado a outras produções que tem. É uma questão muito importante para ele porque, em um hectare hoje, ele pode está tirando de 4 a 5 mil reais só com a venda de cana. Isso é muito superior à produção de milho, de soja ou de outras que ele vá produzir nesse mesmo hectare."

E os benefícios não se resumem a ganhos monetários. Pelo projeto da micro-destilaria, os resíduos da produção da cana são usados pelo agricultor para a alimentação do gado ou como adubo. E, pelos cálculos de Alderi do Prado, é possível que, no próximo ano, os ganhos sejam ainda maiores. A cooperativa planeja associar a geração de álcool com a de outros biocombustíveis. Com isso, os maquinários agrícolas das propriedades envolvidas no iniciativa poderão usar biodiesel.

Modelos de micro-destilarias que integrem geração de energia e produção de alimentos já são experimentados em outras regiões do país. A produção descentralizada, em pequena escala e para consumo local é, na avaliação de algumas ONGs, uma alternativa mais sustentável de produção de cana. Estudo divulgado pela Amigos da Terra/Brasil, Instituto Vitae Civilis e Ecoa- Ecologia e Ação aponta que experiências nesse sentido geram impactos socioambientais em escala muito menor do que a observada em monoculturas.

As boas experiências com cana-de-açúcar não se resumem a micro-destilarias. Em universidades e mesmo em algumas grandes empresas do país, também já existe a preocupação em tornar mais sustentável a produção dessa importante matéria-prima.

Em São Paulo, por exemplo, desde a década de 80, a Usina São Francisco desenvolve o projeto Cana Verde. Responsável por uma das maiores produções de açúcar orgânico do mundo, a empresa planta mais de 13 mil hectares de cana tendo como princípio o respeito a critérios socioambientais. Pelo projeto Cana Verde, também são realizadas atividades de reflorestamento e monitoramento da vida selvagem.

Lá no Ceará, no Parque de Desenvolvimento Tecnológico da universidade federal, o químico Afrânio Craveiro desenvolve uma método inovador para ampliar o rendimento das usinas de álcool. Pelo projeto, a mesma quantidade de cana atualmente produzida no país poderia gerar até um bilhão de litros de álcool a mais por ano.

Craveiro explica que a tecnologia em estudo aperfeiçoa a fermentação alcoólica da cana, prendendo em um suporte a levedura responsável pelo processo. A chamada Saccharomyces cerevisiae pode, então, atuar sem a interferência de leveduras selvagens.

"No processo, em que a enzima está imobilizada, essa levedura selvagem não compete com a saccharomyces cerevisiae e, consequentemente, a gente tem um aumento do rendimento do álcool, porque as leveduras selvagens utilizam o mesmo açúcar para transformar em outros produtos indesejados na fermentação alcoólica."

Na avaliação do pesquisador, uma maior produção de álcool pelas usinas brasileiras diminuiria a pressão por mais áreas plantadas e, com isso, reduziria alguns impactos ambientais do setor. E Craveiro destaca que os benefícios ao ambiente poderiam ser ainda maiores, já que o método desenvolvido reaproveita resíduos da produção de camarão. Pelos cálculos do professor, em até dois anos, os resultados da pesquisa poderão ser usados em escala industrial.

Ampliar o aproveitamento do bagaço de cana para geração de energia elétrica constitui outra linha de pesquisa em desenvolvimento por diferentes universidades no país. Em São Paulo, as universidades estaduais de Campinas e de São Paulo aliaram esforços para aumentar o conhecimento sobre o assunto.

Um dos coordenadores da pesquisa, o professor José Goldemberg, da USP, diz que muitas usinas do estado já usam a biomassa da cana para gerar energia elétrica. Mas, segundo o pesquisador, a tecnologia adotada em alguns casos não aproveita toda a potencialidade da matéria-prima.

"É preciso usar equipamento mais moderno. As caldeiras de alta pressão são a tecnologia necessária para gerar mais eletricidade, isto é, se for usada baixa tecnologia, gera pouca eletricidade. Num hectare plantado com cana, a gente consegue retirar 80 toneladas de cana. Quando a gente retirar o suco, ainda sobram 30 ou 40 toneladas pelo menos de cana.
Essa cana, esse bagaço é praticamente madeira, como se fosse madeira. Ele pode ser queimado e, numa usina termelétrica, numa caldeira e produzir vapor d´água. E esse vapor d´água pode acionar um gerador de eletricidade."

Goldemberg destaca que as novas tecnologias podem fazer com que, em até oito anos, as usinas de São Paulo estejam gerando de 3GW a 4 GW de energia elétrica, o equivalente, segundo ele, a aproximadamente metade do programado para as hidrelétricas do Rio Madeira, em Rondônia.

O professor da USP lembra, ainda, que existem linhas de crédito específicas no Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social, o BNDES, para projetos de geração elétrica a partir de bagaço de cana-de-açúcar.

De Brasília, Ana Raquel Macedo

A RÁDIO CÂMARA ACABOU DE REPRISAR A QUINTA E ÚLTIMA MATÉRIA DO ESPECIAL SOBRE O CULTIVO DE CANA-DE-AÇÚCAR NO BRASIL, PROGRAMA QUE FOI AO AR SETEMBRO DO ANO PASSADO .

A abordagem em profundidade de temas relacionados ao dia a dia da sociedade e do Congresso Nacional.

De segunda a sexta, às 3h, 7h20 e 23h