Rádio Câmara

A SÉRIE DE REPORTAGENS ESPECIAIS SOBRE A VIOLÊNCIA NO TRÂNSITO TERMINA HOJE COM UM PANORAMA SOBRE AS CONDIÇÕES DAS ESTRADAS BRASILEIRAS.

MÚSICA: "Frete" (Renato Teixeira)
"Eu conheço cada palmo desse chão
É só me mostrar qual é a direção..."

Cada palmo desse chão brasileiro traz a marca de uma política de transporte que sempre privilegiou as rodovias. Apesar da farta disponibilidade de rios e de uma razoável malha ferroviária, o escoamento da produção da indústria e da agricultura é feito em sua maioria por caminhões que cortam as estradas do país. Só de rodovias federais pavimentadas, o Brasil conta com 56 mil quilômetros. As não pavimentadas chegam a quase o dobro desta extensão. O próprio governo federal reconhece que não é fácil manter a qualidade de circulação das estradas. O Departamento Nacional de Infra-estrutura de Transportes, o Dnit, avalia que apenas 45 por cento das rodovias federais asfaltadas podem ser consideradas boas ou regulares. Mas a percepção dos motoristas é bem pior do que essa. O caminhoneiro baiano Fernando Lucena, que corta as estradas do país desde a década de 70, faz o diagnóstico da insegurança nas rodovias brasileiras.

"Sempre tem problema com pneu. Quem lucra com isso são os borracheiros. Além da estrada, ainda tem o problema do assalto, que também é terrível. Antigamente, nós fazíamos uma viagem para São Paulo em dois dias. Hoje, levam-se três dias e meio ou quatro por causa da buraqueira, por causa da situação precária das estradas no Brasil. E cada dia está pior. E se a gente fosse lá para as estradas do norte, aí sim, é que ia ver coisas. Belém do Pará - Brasília, praticamente não existe essa estrada."

MÚSICA: "Frete" (Renato Teixeira)
"Quantas idas e vindas,
Meu Deus, quantas voltas
Viajar é preciso, é preciso
Com a carroceria sobre as costas
Vou fazendo frete, cortando o estradão..."

Belém-Brasília, Transamazônica e Régis Bittencourt, a chamada "rodovia da morte", têm alguns dos piores trechos de estradas no país. O diretor da Associação Nacional de Pesquisa e Ensino em Transporte, Paulo César Marques, afirma que muitos dos problemas das rodovias são estruturais e, por isso mesmo, a solução para eles pede muito mais investimento.

"Às vezes, são problemas de conservação, às vezes são problemas de projeto, com correções que precisam ser feitas em termos de traçado, em termos de manutenção - não do pavimento, necessariamente, mas em termos de vegetação, conservação da sinalização. Há uma série de aspectos que também estão extremamente vinculados às questões de segurança e que não têm recebido a mesma atenção por parte do governo."

MÚSICA: "Weekend" (Blitz)
"Patrulha rodoviária a 500 metros
Patrulha rodoviária a 200 metros
Blitz! Documentos..."

Paulo César Marques reclama ainda da sobrecarga de atribuições dos policiais rodoviários federais, responsáveis, entre outras coisas, por patrulhamento ostensivo, segurança no trânsito e combate à prostituição infantil e aos tráficos de drogas e de armas. Recentemente, a corporação também foi incumbida de reprimir a comercialização de bebidas alcoólicas nas estradas. O chefe de comunicação da Polícia Rodoviária Federal, inspetor Alexandre Castilho, admite que o atual efetivo de 10 mil agentes é insuficiente para patrulhar os quase 60 mil quilômetros de rodovias federais, o que obriga o policial a se desdobrar para cumprir suas atribuições legais.

"De fato, existem deficiências de efetivo. Vemos que nas operações especiais - aquelas operações de fiscalização de trânsito, combate à criminalidade, salvamento de vítimas e agora fiscalização de estabelecimentos comerciais -, não é raro encontrarmos policiais trabalhando o dobro do que a legislação permite, justamente por conta do interesse da coletividade. Então, é óbvio que quanto mais reforços forem oferecidos à Polícia Rodoviária Federal, certamente o trabalho será desenvolvido ainda com mais qualidade e com mais conforto."

O diretor-geral do Dnit, Luiz Antônio Pagot, garante que o governo federal não está alheio aos problemas nas estradas. O Programa de Aceleração do Crescimento, o PAC, recentemente aprovado pelo Congresso Nacional, contempla várias obras de melhoria da infra-estrutura rodoviária do país. Só no Crema, o Programa de Conservação e Manutenção de Rodovias, a intenção é melhorar as condições de tráfego de 32 mil quilômetros de estrada. A prioridade é para as regiões de maior movimento de veículos. Atualmente, existem mais de 3 mil contratos de obras rodoviárias em execução em todo o país. Porém, Luiz Antônio Pagot revela que os estragos nas estradas ocorrem num ritmo muito mais intenso do que os consertos.

"Mesmo que se tenha feito um trabalho preliminar, um trabalho que garanta, no período de seca, a manutenção do pavimento, o advento das grandes chuvas sempre acaba deteriorando a estrada. E essa combinação de peso pesado nas estradas, pavimento velho e chuva intensa faz com que as rodovias sofram uma deterioração, que eu não vou dizer que é precoce, mas que é acima da nossa ação."

Pagot revela ainda que seriam necessários 4 bilhões de reais, por ano, somente para manutenção e restauração de rodovias. No entanto, os recursos disponíveis chegam apenas à metade deste valor.

O diretor-geral do Dnit até admite que alguns acidentes são causados por deficiências nas rodovias, mas lembra que a maioria das estradas em mau estado de conservação apresenta sinalização sobre os riscos para o motorista. E também não custa lembrar as estatísticas que mostram que quase 90 por cento dos acidentes e mortes no trânsito são causados por falha humana, geralmente resultado da imprudência ou da desatenção do condutor do veículo.

A Rádio Câmara encerra essa série de reportagem especial na esperança de um dia voltar a abordar o tema trânsito, só que para revelar números menos trágicos e mostrar motoristas mais responsáveis e conscientes.

MÚSICA: "Não Corra, não mate, não morra. Pegue carona com a Mocidade! Educação no Trânsito" (Mocidade 2004)
"Pare, pense
Olhe a sinalização
Proteja quem te ama
Siga em paz na direção..."

José Carlos Oliveira para a Rádio Câmara
De Brasília, José Carlos Oliveira

A SÉRIE DE REPORTAGENS ESPECIAIS SOBRE A VIOLÊNCIA NO TRÂNSITO TEVE TRABALHOS TÉCNICOS DE CHICO MENDES E WILSON BARCELLAR , PRODUÇÃO DE LUCÉLIA CRISTINA, MÔNICA LION E LENA ARAÚJO; REPORTAGEM DE JOSÉ CARLOS OLIVEIRA. EDIÇÃO E COORDENAÇÃO APRIGIO NOGUEIRA.

TODA ESTA SÉRIE DE REPORTAGENS ESPECIAIS ESTÁ DISPONÍVEL NO SITE WWW.RADIO.CAMARA.GOV.BR