Rádio Câmara

Reportagem Especial

Especial Antártica 2 - Panorama sobre o programa Antártico Brasileiro (Reprise) (07'23")

31/12/2007 - 00h00

  • Especial Antártica 2 - Panorama sobre o programa Antártico Brasileiro (Reprise) (07'23")

A SEGUNDA REPORTAGEM ESPECIAL SOBRE A ANTÁRTICA TRAZ UM PANORAMA DO PROGRAMA ANTÁRTICO BRASILEIRO.

O Brasil está na Antártica desde 1982, quando foi criado o Programa Antártico Brasileiro - Proantar. Naquele mesmo ano, um navio brasileiro foi enviado ao continente gelado para selecionar o local onde seria instalada a Estação Antártica Brasileira. No ano seguinte, o Brasil já fazia parte do seleto grupo de 29 países membros consultivos do Tratado da Antártica, que têm o poder de tomar todas as decisões referentes ao continente. No dia 6 de fevereiro de 1984, era inaugurada a Estação Antártica Comandante Ferraz. De lá para cá, centenas de cientistas brasileiros já realizaram pesquisa no continente mais frio do Planeta. A Antártica influencia diretamente o clima da América do Sul, o que já seria justificativa suficiente para pesquisas no continente, como explica o cientista Jefferson Simões, que há 22 anos realiza pesquisas pelo Programa Antártico Brasileiro.

"Hoje nós sabemos que a Antártica é parte essencial do sistema climático do planeta, rege e controla grande parte do clima brasileiro. De uma maneira simplista, nós poderíamos dizer que a Antártica é tão importante quanto a Amazônia para o nosso clima, basta dizer que as friagens que avançam sobre o sul do Brasil, até ao sul da Amazônia, são formadas no oceano ao redor daquele continente. Então nós temos que conhecer esses processos, melhorar nossos modelos do clima para melhorar a previsão meteorológica, incluindo o que se passa na antártica. Nós sabemos também que a destruição da camada de ozônio ocorre lá, se esse buraco se amplia ou desestabiliza, isso afetaria todo o hemisfério, toda a cadeia alimentar do hemisfério. Nós temos que manter um monitoramento e uma avaliação constante."

Mas a meteorologia não é o único interesse do Brasil na pesquisa antártica, explica o Gerente do Programa Antártico Brasileiro, o contra-almirante José Eduardo Borges de Souza.

"Na realidade, eles estão fazendo pesquisas na área da atmosfera, estão preocupados com o aquecimento global, com a quebra da camada de ozônio, que produz o buraco, que produz irradiações infra-vermelhas que provocam câncer de pele, estão preocupados com a meteorologia. Então eles estão fazendo pesquisas em todas essas áreas. Foram os projetos aprovados pelo próprio CNPq."

O Programa Antártico brasileiro tem duas vertentes, explica o gerente do Proantar: uma é logística e a outra, científica. A parte logística envolve uma série de fatores, como a ida do navio para a Antártica e a devida manutenção, destaca o contra-almirante.

"Além disso, envolve a seleção de pessoal que a gente faz no Brasil, lá na Ilha da Marambaia, é um trabalho de preparação dos militares e dos civis que vão para a Antártica, porque eles só podem ir para lá quando estiverem bem adestrados em normas de segurança. Envolve a comida, o abastecimento que a gente coloca na estação. Envolve os aviões da FAB que levam os pesquisadores durante o inverno, durante 8 vôos, e também são os aviões que abastecem a estação de Ferraz durante o inverno. Porque você, no inverno, não consegue chegar em Ferraz, então você passa com o avião por cima da estação e joga a carga de para-quedas."

Segundo o gerente do Programa Antártico Brasileio, todas essas atividades fazem dela a operação logística mais complexa do Brasil. O problema é que o dinheiro previsto para o Programa Antártico está sendo bloqueado pelo governo. Só na parte logística, o programa teria 11 milhões de reais disponíveis, mas até agora apenas 5 milhões foram liberados. O contra-almirante José Eduardo Borges de Souza diz que esse dinheiro cobre as atividades citadas. Entretanto, o dinheiro bloqueado é fundamental para seguir com a revitalização da estação brasileira de Comandante Ferraz, que já tem 23 anos. Outra previsão para o dinheiro bloqueado é a compra de equipamentos de pesquisa mais modernos.

TRILHA

A parte científica, do Programa Antártico Brasileiro, gerenciada pelo Ministério da Ciência e Tecnologia, também está com grande parte de seus recursos bloqueados pelo governo. Uma parte desses recursos, que somam 6 milhões de reais, é destinada ao ano Polar Internacional, e já foi liberada, de acordo com o contra-almirante José Eduardo Borges de Souza. O Ano Polar Internacional é um grande conjunto de ações científicas focadas no polo Ártico e Antártico, indo de março de 2007 até março de 2009. Mas, as outras pesquisas antárticas, que devem começar a ser realizadas no verão antártico, em setembro de 2007, só tiveram 370 mil reais liberados. O contra-almirante afirma categoricamente que esse dinheiro não dá para realizar as pesquisas, o que afeta a continuidade dos projetos já aprovados. Ele destaca que a continuidade é um dos pontos mais importantes no ambiente científico, pois não existe pesquisa de um ano apenas. A coordenadora do Laboratório de Planejamento e Projetos da Universidade Federal do Espírito Santo, Cristina Engel de Álvarez, realiza pesquisas na Antártica há 20 anos. Ela também se ressente dessa falta de continuidade nas pesquisas. Os projetos de pesquisa são avaliados pelo Cnpq, que vai analisar o mérito científico-tecnológico da proposta. Depois, os projetos são submetidos ao Grupo de Avaliação Ambiental, que vai investigar se a pesquisa vai causar algum tipo de impacto. Existe também o comitê que avalia a logística do projeto, explica a cientista.

"E a partir daí é implementado. Qual é o problema? Normalmente os recursos são poucos, você precisa de x e te dão 20% desse x, e o pior de tudo que eu acho é isso: aprova-se o projeto para um ano, no máximo dois anos. E ninguém desenvolve nem ciência nem tecnologia em tão pouco tempo."

Para Cristina Engel de Álvarez, o ideal é que o projeto fosse aprovado por pelo menos 5 anos e que fosse feita uma avaliação anual. Para conseguir o dinheiro que está faltando, o contra-almirante revela que está em contato constante com o Ministério da Ciência e Tecnologia. Ele destaca que as pesquisas antárticas são fundamentais principalmente para o clima brasileiro, um país agrícola que precisa conhecer, antecipadamente, se vai haver seca ou chuva abundante em determinado período. Além disso, o contra-almirante destaca que esses recursos são fundamentais para que o Brasil permaneça como um dos 29 membros consultivos do Tratado da Antártica.

De Brasília, Adriana Magalhães.

NA REPORTAGEM ESPECIAL DE AMANHÃ, VOCÊ VAI CONHECER O DIA-A-DIA E OS PROBLEMAS ENFRENTADOS PELOS PESQUISADORES NA ANTÁRTICA.

A abordagem em profundidade de temas relacionados ao dia a dia da sociedade e do Congresso Nacional.

De segunda a sexta, às 3h, 7h20 e 23h