Rádio Câmara

Reportagem Especial

Especial Religiosidade 1 - O cristianismo domina as crenças no Brasil (06'19")

24/12/2007 - 00h00

  • Especial Religiosidade 1 - O cristianismo domina as crenças no Brasil (06'19")

A REPORTAGEM ESPECIAL DESTA SEMANA VAI TRAZER UM DIAGNÓSTICO DA RELIGIOSIDADE DO BRASILEIRO, TRAÇADO PELAS MAIS RECENTES PESQUISAS DA FUNDAÇÃO GETÚLIO VARGAS, DO DATAFOLHA, DO IBOPE E DA UNESCO.

O QUADRO MOSTRA FORTE TENDÊNCIA DA POPULAÇÃO EM CULTUAR O SAGRADO E EM ACREDITAR NUMA FORÇA SUPREMA E SOBRENATURAL, QUE A ESMAGADORA MAIORIA CHAMA DE DEUS.

O CRISTIANISMO, SEJA O CATÓLICO, O EVANGÉLICO OU O ESPIRITUALISTA, DOMINA AS CRENÇAS NO BRASIL. NO ENTANTO, OS DOGMAS RELIGIOSOS MUITAS VEZES BATEM DE FRENTE COM OS ANSEIOS NATURAIS DE UMA SOCIEDADE QUE SE MODERNIZA RAPIDAMENTE.

AO LONGO DA SEMANA, TAMBÉM VAMOS ABORDAR A RELAÇÃO DA RELIGIÃO COM A POLÍTICA E A MÍDIA, OS CASOS DE INTOLERÂNCIA RELIGIOSA NO BRASIL E, AO MESMO TEMPO, O LADO ECUMÊNICO DO PAÍS AO ABRIGAR SEGUIDORES DE TODOS OS CREDOS. INCIANDO A SÉRIE ELABORADA PELO JORNALISTA JOSÉ CARLOS OLIVEIRA, VAMOS MOSTRAR UM QUADRO GERAL DAS RELIGIÕES MAJORITÁRIAS NO BRASIL.

A pretexto da visita do papa Bento 16 ao Brasil, várias pesquisas têm sido divulgadas sobre o nível de religiosidade do brasileiro. Há divergências entre os números, mas, de maneira geral, as sondagens confirmam a forte presença da crença religiosa no nosso dia-a-dia. De acordo com a Fundação Getúlio Vargas, o percentual da população que se declarava sem religião caiu de 7,4 por cento, no ano 2000, para apenas 5,1 por cento, em 2003. Em números absolutos, são quase 3 milhões de pessoas que decidiram professar algum credo e se juntar à maioria esmagadora dos brasileiros, seguidores de uma das cerca de 80 denominações religiosas presentes no país.

MÚSICA: "Guerra santa" (Gilberto Gil)
"O nome de Deus pode ser Oxalá, Jeová, Tupã, Jesus, Maomé. Maomé, Jesus, Tupã, Jeová, Oxalá e tantos mais. Sons diferentes, sim, para sonhos iguais."

Apesar da aparente diversidade religiosa, a população segue basicamente o cristianismo: são cerca de 60 a 70 por cento de católicos e de outros 20 a 30 por cento de evangélicos, segundo a FGV e o Datafolha. Todas as demais religiões não reuniriam mais do que 3 por cento da população. A pesquisa mostra ainda que a igreja católica está conseguindo reverter a tendência de perda de fiéis, registrada nas últimas décadas. O número de católicos, que vinha caindo em média um por cento anualmente, se estabilizou a partir do ano 2000. O coordenador da pesquisa da FGV, Marcelo Neri, associa o declínio católico nos anos 80 e 90 principalmente à estagnação econômica do país, naquele período.

"Grupos perdedores, no sentido econômico, foram aqueles que tiveram maior migração para fora do catolicismo rumo a dois caminhos: de um lado os evangélicos, que são mais fervorosos; e os sem religião. Quer dizer, as pessoas ou perderam a esperança ou aderiram a uma crença com mais fervor. Desde 2003, quando foi feita a pesquisa, a gente tem forte reversão desse quadro e, então, eu acho que essa estabilização católica pode ser uma tendência que se sustente a prazo mais longo."

No entanto, a estabilização católica não impede o forte e contínuo crescimento dos evangélicos. Em pouco mais de 10 anos, esse grupo religioso saltou de apenas 9 para mais de 20 por cento da população brasileira. Segundo Marcelo Neri, a presença das igrejas pentecostais, como a Assembléia de Deus, e neopentecostais, como a Universal do Reino de Deus, é mais forte sobretudo nas periferias das grandes cidades.

"São igrejas novas e ocupam esses vácuos deixados pelo Estado e pela própria igreja católica nas periferias, nas favelas, nas áreas de altos bolsões de desemprego e com problemas de violência e de serviço público - até presente, mas de baixa qualidade. São nesses lugares onde os evangélicos e os sem religião são mais presentes."

MÚSICA: "Acender as velas", Zé Ketti
"Deus me perdoe, mas vou dizer
Porque no morro...
Não tem automóvel pra subir
Não tem telefone pra chamar
E não tem beleza pra se ver
E a gente morre sem querer morrer"

O Datafolha confirma essa tendência e cita a Baixada Fluminense, uma das regiões mais carentes e violentas do Rio de Janeiro, como exemplo de expansão evangélica, sobretudo em relação à concentração de templos religiosos. Só num trecho de 4 quilômetros entre os municípios de Duque de Caxias e Belford Roxo, foram identificadas 30 igrejas, das quais apenas uma era católica.

TRILHA (Ave Maria ou canto gregoriano)

A recente visita do papa Bento 16, a canonização de frei Galvão e até a flexibilização de alguns ritos estão entre os esforços do catolicismo para reverter a perda de fiéis. Porém, o sociólogo e professor da Universidade de São Paulo, Antônio Flávio Pierucci, especialista em estudos religiosos, ressalta um problema neste processo: a dificuldade do católico em praticar plenamente a sua religião.

"Faz parte do fato de ser católico não praticar muito acirradamente a sua religião. Isso é próprio de uma religião majoritária e tradicional. Então, a identidade católica brasileira é bastante forte, embora a prática seja bem mais fraca. O movimento de renovação carismática, que valorizou muito o ritual e a participação e deu mais vida à celebração da eucaristia, deu um atrativo maior ao ritual católico, que deixou de ser apenas aquela coisa que dizia respeito mais aos padres e agora envolve um maior número de fiéis. Mas não é suficiente para recuperar os fiéis que eles já perderam para as outras religiões. Simplesmente impede que novas pessoas venham a querer sair."

Em relação à assiduidade religiosa, o Datafolha constatou que 99 por cento dos evangélicos costumam ir aos cultos regularmente. O percentual também é elevado entre os espíritas e os seguidores de cultos afros, como umbanda e candomblé.

De Brasília, José Carlos Oliveira.

AMANHÃ, A SEGUNDA REPORTAGEM ESPECIAL SOBRE A RELIGIOSIDADE DO BRASILEIRO VAI MOSTRAR O QUANTO É DIFÍCIL CONCILIAR OS ANSEIOS INDIVIDUAIS E COLETIVOS DA POPULAÇÃO COM OS DOGMAS RELIGIOSOS.

A abordagem em profundidade de temas relacionados ao dia a dia da sociedade e do Congresso Nacional.

De segunda a sexta, às 3h, 7h20 e 23h