Rádio Câmara

A ÚLTIMA REPORTAGEM ESPECIAL SOBRE AS AÇÕES EM PROL DOS OBJETIVOS DO MILÊNIO, VOCÊ VAI CONHECER UMA TECNOLOGIA SIMPLES QUE DEU CIDADANIA A MILHARES DE FAMÍLIAS NO SEMI-ÁRIDO BRASILEIRO.

O Semi-Árido Brasileiro se estende pela maior parte dos Estados da Região Nordeste, a região setentrional de Minas Gerais e o norte do Espírito Santo. É caracterizado por longos períodos de seca. Nessa época, a paisagem se enche de pessoas, geralmente mulheres, caminhando quilômetros com uma lata na cabeça, para buscar água para suas famílias. Ou então, dependem de carros-pipa para abastecer sua casa do produto mais básico de sobrevivência de um ser humano. Buscando uma solução para o problema, a ASA - Articulação do Semi-Árido Brasileiro, um fórum que congrega centenas de entidades, desenvolveu um projeto de construção de um milhão de cisternas. Quem explica melhor o sistema é a presidente da Associação Programa Um Milhão de Cisternas, Valquíria Alves Lima.

"Uma tecnologia muito simples e de resultado imediato na vida dessas famílias. Porque a gente está falando de comunidades rurais atendidas por esse programa que não têm nenhum acesso á água de beber no período de seca, ou então dependem exclusivamente do carro-pipa. Então a possibilidade de cada família no semi-árido ter uma cisterna para captar a água da chuva e armazenar essa água nos períodos mais críticos da seca é uma mudança significativa na vida dessa família. Porque as mulheres que são responsáveis pela gestão da água deixam de caminhar 6, 7km por dia para conseguir água para a sobrevivência de sua própria família. E elas não vão mais ficar dependentes do carro-pipa. É uma libertação nesse sentido."

Cada cisterna tem capacidade de armazenar 16 mil litros de água, captada das chuvas, através de calhas instaladas nos telhados. A orientação é que a água seja usada apenas para beber, cozinhar e dar banho em crianças recém-nascidas. Isso é suficiente para que uma família de 4 a 5 pessoas consiga atravessar com tranquilidade o período de seca.

Maria Joelma da Silva Pereira, moradora de Cumaru, no agreste Pernambucano, estava acostumada a passar o período da seca tendo que pegar água no barreiro do vizinho. Há 3 anos, entretanto, o projeto da ASA chegou à sua comunidade, ela foi uma das 15 primeiras famílias beneficiadas, construiu uma cisterna e conta o que mudou na sua vida.

"Ave Maria, mudou muita coisa. Porque a partir do momento em que você não tem mais aquela dependência de água que a gente tinha antes, tudo muda. O teu tempo é melhor aproveitado, a gente se dedica mais ao trabalho na roça. Acho que transforma um pouco a vida do agricultor que vive na zona rural e depende muito de água."

Na casa de Joelma, cinco pessoas usam a água da cisterna para beber e cozinhar. Ela reconhece que o novo sistema não trouxe somente facilidades cotidianas. Ter acesso à água limpa se refletiu também na saúde da família, deixando as crianças sem vermes, por exemplo. Ela conta que os moradores do semi-árido estavam acostumados a escutar promessas de construção de cisternas, nunca cumpridas. Mas dessa vez, era verdade, comemora Joelma.

"Para a gente, o custo foi nosso trabalho. Porque a contrapartida da família é ajudar a construir mesmo, se envolver na cavação de buraco, se envolver na capacitação para saber como cuidar melhor da cisterna e da água da cisterna. Mas, valor em dinheiro, não, só em trabalho."

O projeto começou a funcionar no ano 2000 e até o momento, já foram construídas quase duzentas mil cisternas com o apoio do programa.

De Brasília, Adriana Magalhães.

TERMINA AQUI O REPORTAGEM ESPECIAL SOBRE PROJETOS QUE APROXIMAM O BRASIL DAS METAS DOS OBJETIVOS DO MILÊNIO. A REPORTAGEM FOI DE ADRIANA MAGALHÃES, PRODUÇÃO DE LUCÉLIA CRISTINA E MONICA LION, EDIÇÃO DE ANA DELMONTE E SÍLVIA MUGNATTO E COORDENAÇÃO DE APRÍGIO NOGUEIRA. SE VOCÊ QUISER, PODE TER ACESSO A ESSAS MATÉRIAS ATRAVÉS DO SITE WWW.CAMARA.GOV.BR/RADIO.