Rádio Câmara

NESTA SEMANA, VOCÊ ACOMPANHA UMA SÉRIE DE MATÉRIAS SOBRE CONSUMO NO BRASIL. NA REPORTAGEM DE HOJE, VOCÊ VAI SABER UM POUCO MAIS SOBRE O CRESCIMENTO DO CONSUMO CONSCIENTE NO PAÍS.

O perfil do consumidor brasileiro mudou bastante nos últimos anos. Mais exigente, ele busca aliar preço baixo, qualidade e passa a prestar atenção em aspectos que vão além do produto a ser adquirido. Cada vez mais, a cadeia produtiva é considerada na hora da decisão da compra.
Essa preocupação se reflete em números como o da produção de orgânicos, que tem registrado uma taxa anual de crescimento de 20%. Para obter a certificação, além de não usar agrotóxicos, o produtor rural precisa respeitar as leis trabalhistas e recuperar e preservar o meio ambiente da sua propriedade.
Esses fatores fazem com que o consumo de orgânicos seja um dos principais exemplos de consumo consciente. O coordenador de Agroecologia do Ministério da Agricultura, Rogério Dias, observa que o comportamento do consumidor urbano tem impactos diretos na forma de produção no campo.

"Ele, mesmo na cidade, pelo seu comportamento, pela sua escolha ao comprar, também interfere no meio rural. Muitas vezes, a pessoa na cidade critica o desmatamento da Amazônia, a poluição, as queimadas, achando que ele não tem nada a ver com isso, mas na realidade pelo seu comportamento, pela sua opção na hora de comprar, ele está direcionando que tipo de produção vai acontecer no campo".

Os orgânicos chegam ao consumidor com preços entre 30 a 40% mais altos que os produtos convencionais. A expectativa dos produtores é de que, com o crescimento do mercado, os custos caiam.
Mas a coordenadora executiva do Instituto de Defesa do Consumidor, Lisa Gunn, ressalta a importância da pesquisa de preços. Levantamento feito pelo Idec, em São Paulo, apontou uma diferença de mais de 200% nos valores dos produtos.

"O que o consumidor precisa fazer além de se preocupar com os aspectos sociais e ambientais é de fato ter um esforço de buscar os preços mais acessíveis. Quando mais você se aproxima do produtor, menor fica a diferença do preço dos produtos convencionais"

O gerente de projetos especiais do Instituto Akatu pelo Consumo Consciente, Aron Belinky, avalia que o consumidor passa a perceber que individualmente, no seu cotidiano, pode fazer muita diferença a partir das suas escolhas.

"A idéia do consumo consciente é colocar o consumidor como um protagonista da história, alguém que não está somente reagindo à mídia, a uma necessidade momentânea e quer comprar alguma coisa, mas sim alguém que está sendo ativamente participante da construção da sociedade, do mundo. Todo dia nós fazemos inúmeras escolhas que têm efeito não só sobre a nossa própria vida, mas sobre todo o conjunto da sociedade, até do planeta"

Um exemplo de como o consumo consciente tem encontrado espaço na sociedade brasileira vem do segundo maior comprador do país. O estado de São Paulo gasta anualmente mais de 8 bilhões de reais em bens e serviços, ficando atrás apenas do governo federal. Há dois anos, a administração paulista passou a adotar critérios socioambientais em suas suas compras. Até o momento, 10% dos cerca de 70 mil itens que integram o catálogo de materiais comprados já contam com esses critérios, que deverão ser observados pelos fornecedores.
A assessora da Secretaria Estadual de Meio Ambiente, Júlia Alves, ministra cursos sobre gestão ambiental do consumo. Neles, ela fala sobre como as administrações públicas podem adotar esses novos parâmetros em suas compras.

"É instrumentalizar, estender conhecimentos já existentes, sejam eles instrumentos legais ou técnicos para que aquele profissional que atua na área de compras ele tenha idéia do que envolve uma decisão sobre compra, compra de qualquer item. Ele precisa ter idéia de quais os impactos sociais, ambientais daquela decisão de compra. De fato, naquele momento, ele está exercendo um ato de cidadania. Quando ele decide ´eu vou comprar isso" e ele aprova, aquela decisão é muito importante em termos de impactos socioambientais"

De acordo com Júlia Alves, até o momento, além de São Paulo, apenas os estados do Sul do país estão com processos adiantados de implementação das chamadas "licitações verdes".

De Brasília, Mônica Montenegro.

NA MATÉRIA DE AMANHÃ, A REPÓRTER MÔNICA MONTENEGRO VAI FALAR SOBRE UM ASSUNTO QUE PROVOCA DOR DE CABEÇA EM MUITOS PAIS: O CONSUMO INFANTIL.