Rádio Câmara

HOJE, NA ÚLTIMA REPORTAGEM ESPECIAL SOBRE TECNOLOGIA SOCIAL, VOCÊ VAI CONHECER EXEMPLOS DE EDUCAÇÃO QUE ESTÃO TRAZENDO MUDANÇA DE VIDA E CIDADANIA PARA VÁRIAS PESSOAS.

Quando a pessoa passa por um menino que mora nas ruas, muitas vezes vira o rosto. É comum sentir medo, pena ou raiva. O programa Escola Ambulante surgiu em São Paulo, em 1994, para tentar mudar essa realidade. Nesse caso, a escola vai onde a criança está, ou seja, nas ruas. O principal objetivo é o resgate da dignidade e cidadania dessas pessoas. A coordenadora do projeto, Márcia Ventura Dias, da associação Santa-Fé, explica que o primeiro passo é fazer uma pesquisa na região, para saber quem é o menino, como vive, seus valores e o que faz. O projeto visa trabalhar individualmente, e não sobre o grupo, como geralmente os programas assistenciais fazem, explica Márcia. Ela destaca que nenhuma política pública consegue atingir esses meninos, porque as histórias são tão dramáticas que devem ser tratadas uma a uma.

"A idéia é que cada menino: o Joãozinho, a Maria, o Antônio possa ser tratado, de forma que atenda àquela situação histórica do Joãozinho, daquela família, e a partir daí a gente vai poder fazer com que o Joãozinho, o Antônio, a Maria possam vislumbrar outras formas de vida, que não na rua, na forma que estão vivendo agora."

Depois da pesquisa, toda uma estrutura é montada numa praça, perto de onde esses meninos pesquisados costumam ficar. A partir daí, os arte-educadores convidam cada criança moradora de rua a participar da escola ambulante. Nela, os meninos podem participar de oficinas de educação ambiental e reciclagem, teatro, circo, música, dança e artes plásticas, que funcionam debaixo das tendas. O que Márcia considera mais interessante na escola ambulante é que ela funciona a céu aberto. Dessa forma, cada pessoa que está passando por ali acompanha o trabalho que está sendo feito. E começa a enxergar aquele menino não mais como um trombadinha, mas como uma criança normal, que poderia ser seu neto, filho, ou sobrinho.

"Eu me lembro de um soldado que ficou olhando para os desenhos das crianças e dizia ´mas meus filhos também fazem isso. Essa criança faz igual meu filho´. De repente aquele menino não era mais aquele menino drogado, que cheirava cola o dia inteiro, mas aquele menino parecia com o filho do policial. Isso é um ganho para a sociedade extremamente importante. Porque aí que a responsabilidade vai poder dizer: ´essa criança é responsabilidade minha também".

Ao mesmo tempo, é feito um trabalho com as famílias, quando elas existem, para que o vínculo familiar da criança seja recuperado. O objetivo é tirar o menino da rua, levando de volta para casa ou arrumando para ela uma família substituta ou abrigo. Márcia comemora que 75% das crianças e adolescentes que passaram pela Escola Ambulante deixaram as ruas.

A escola ambulante deu novo rumo à vida de Jorge Andrade da Silva. Ele tinha apenas 13 anos em 94, e vivia nas ruas de São Paulo. Foi convidado a participar da 1ª escola ambulante, na Praça da Sé.

"Éramos 150 crianças, em situação de rua e risco, sem nenhuma perspectiva de vida, vivendo na Praça da Sé, imediações do centro de São Paulo. Chegou um grupo de pessoas com o intuito de estar fazendo um trabalho. Tinha aula de capoeira, de dança, brincadeiras lúdicas."

Ele diz que a escola representou uma mudança radical na sua vida e de seus colegas. Depois disso, Jorge foi para um abrigo. E nunca mais voltou para as ruas. Muito pelo contrário, hoje em dia, com 25 anos, Jorge é auxiliar de educação na escola ambulante e trabalha em casas de mães adolescentes.

Outro projeto, bem longe de São Paulo, em Campo Grande, Mato Grosso do Sul, NÃO SÓ é capaz de mudar a vida de adolescentes, mas também as dos idosos. O Integrando Gerações começou há cinco anos, com aulas gratuitas de informática para idosos, ministradas por adolescentes, alunos de uma escola particular da cidade. A diretora, Reni Domingos dos Santos, diz que o programa só traz alegria, tanto aos jovens quanto aos idosos. Da parte do idoso, Reni destaca que o projeto faz com que ele volte a viver. Mas o jovem também sai ganhando com a experiência.

"E o jovem passou a respeitar o idoso, trocar idéias, adquirir experiência. respeitar mais os pais, os avós, enfim, a família. POrque ele começou a valorizar o idoso através desse trabalho."

Durante todos esses anos de projeto, a fila de jovens para se candidatar a uma vaga voluntária de professor é quase tão grande da procura de idosos que querem participar do curso. E o projeto foi crescendo: hoje, além de informática, existem aulas de horticultura, espanhol, inglês, artes, hidroginástica, teatro e oficina de textos. Um exemplo de tecnologia simples, que ajuda gerações a resolver os problemas típicos de cada idade.

De Brasília, Adriana Magalhães.

O REPORTAGEM ESPECIAL FICA POR AQUI. NESSA SEMANA, VOCÊ OUVIU UMA SÉRIE DE EXEMPLOS DE TECNOLOGIA USADA EM FAVOR DA CIDADANIA. A PRODUÇÃO FOI DE LUCÉLIA CRISTINA, COM AGRADECIMENTO ESPECIAL A RUY GODINHO.