Direitos Humanos

Dom Paulo Evaristo Arns é lembrado pelo trabalho humanitário

Comissão da Câmara homenageou o arcebispo de São Paulo, que completaria 100 anos em 2021

16/09/2021 - 17:20  

Gustavo Sales/Câmara dos Deputados
Audiência Pública - Centenário de Dom Paulo Evaristo Arns. Dep. Luiza ErundinaPSOL - SP
Erundina: Dom Paulo aproximou a igreja da sociedade ao trabalhar pelos mais vulneráveis

No dia 14 de setembro foi lembrado o centenário de nascimento de Dom Paulo Evaristo Arns, arcebispo de São Paulo de novembro de 1970 até renunciar ao cargo em novembro de 1998, por limite de idade – quando se tornou arcebispo-emérito de São Paulo até morrer, em dezembro de 2016. Um dia antes do centenário de Dom Paulo, a Comissão de Legislação Participativa da Câmara dos Deputados o homenageou em audiência pública.

A autora do requerimento, deputada Luiza Erundina (Psol-SP),  lembrou que Dom Paulo Evaristo Arns aproximou a igreja da sociedade ao trabalhar principalmente pelas populações mais vulneráveis e que ele teve atuação incisiva durante a ditadura.

“A celebração do centenário de nascimento de Dom Paulo é uma oportunidade para nos inspirarmos em seu exemplo, na sua capacidade de resistência, do uso do poder que a igreja lhe conferiu como cardeal, como arcebispo de São Paulo, colocando esse poder a serviço da resistência e da defesa da democracia em nosso país”, disse.

Segundo o secretário-geral da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), dom Joel Portella Amado, o arcebispo-emérito de São Paulo se tornou um ícone da defesa dos desamparados e perseguidos.

“Durante os penosos anos do regime de exceção, Dom Paulo demonstrou com sua própria vida que a virtude da fé é inseparável à esperança e à caridade. Junto aos bispos e na relação com a sociedade, Dom Paulo sempre atuou em vista da unidade, da comunhão, da colegialidade, tratando todas as pessoas com respeito, particularmente quem pensava diferente dele.”

Brasil: Nunca Mais
No final dos anos 1970, Dom Paulo Evaristo Arns trabalhou pela causa dos direitos humanos na Arquidiocese de São Paulo e, com o pastor presbiteriano Jaime Wright, coordenou o projeto "Brasil: Nunca Mais", um dos mais importantes registros das violações de direitos humanos cometidas pelo governo militar. O trabalho resultou na publicação de um livro que traz um inventário sobre a tortura no Brasil durante os 21 anos de ditadura. Dez anos antes, os dois, além do rabino Henry Sobel, participaram de um outro evento, como recordou a filha do reverendo Jaime Wright, presbítera Anita Wright.

“Foi nesse espírito ecumênico que eles se uniram ao rabino Henry Sobel para a celebração ecumênica em memória do jornalista Vladimir Herzog em 1975. Catedral e Praça da Sé lotados e o povo sentado com policiais fortemente armados", lembra. Ela conta que a concepção do projeto "Brasil: Nunca Mais" aconteceu em reunião informal com militantes de direitos humanos. "Havia entre eles a preocupação de que houvesse um incêndio criminoso para queimar a documentação produzida nos anos de chumbo da ditadura militar.”

Episódio semelhante foi trazido pelo ex-secretário de Justiça do estado de São Paulo e membro da Comissão Arns, Belisário dos Santos Júnior, que lembrou quando o arcebispo visitou o Paraguai durante a ditadura de Alfredo Stroessner.

“O vice-presidente da República do Paraguai foi recebê-lo à porta do avião e perguntou: 'Em que podemos atendê-lo?' E ele solta aquela frase fantástica. 'Soltem os presos políticos'.”

Belisário destacou outras atuações marcantes de Dom Paulo Evaristo Arns.

“No 'Brasil: Nunca Mais', na introdução, ele conta que recebeu familiares de Paul Singer e Vinicius Caldeira Abrantes e, na madrugada seguinte, escreveu uma carta ao comandante do 2º Exército e a tortura cessou. No caso de um famoso empresário sequestrado, Dom Paulo negociou com os sequestradores e submeteu-se a riscos, a ponto de um dos embaixadores ali presentes (os sequestradores eram internacionais) ter dito: 'você não pensa no seu bem estar?'. Ele respondeu: 'não tenho tempo para pensar em mim'.”

O episódio citado ocorreu em 1989. Um grupo formado por cinco chilenos, dois argentinos, dois canadenses e um brasileiro sequestrou o empresário Abílio Diniz. Depois de presos, eles alegaram que o sequestro tinha o motivo político de arrecadar fundos para a guerrilha de El Salvador. Eles fizeram greve de fome pela transferência dos canadenses, a expulsão dos chilenos e argentinos e o indulto ao brasileiro. O cardeal-arcebispo de São Paulo cumpriu o papel de intermediário.

Outro feito de Dom Paulo Evaristo Arns foi ter criado na CNBB, com sua irmã, a médica Zilda Arns, as pastorais da Criança, da Pessoa Idosa e de DST/aids.

Reportagem - Luiz Cláudio Canuto
Edição - Ana Chalub

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