Saúde

Deputados temem que atrasos de IFA ponham em risco segunda dose de vacina contra Covid

Butantan deveria receber 10 mil litros de ingrediente farmacêutico ativo em maio, mas apenas 3 mil serão entregues no dia 25, o suficiente para produção de 5 milhões de doses

20/05/2021 - 17:42  

Os deputados da comissão externa que acompanha o enfrentamento à Covid-19 declararam estar preocupados com a aplicação da segunda dose das vacinas da Fiocruz/Astrazeneca e do Butantan/Coronavac por causa de atrasos na entrega do IFA, o ingrediente farmacêutico ativo utilizado na produção dos imunizantes. Os parlamentares conversaram nesta quinta-feira (20) com representantes dos laboratórios nacionais e do Ministério da Saúde.

A comissão avalia que o fornecimento do Programa Nacional de Imunização está garantido até 3 de julho, com a entrega de 30 milhões de doses da Astrazeneca e 5 milhões da Coronavac. Ainda serão recebidos 12 milhões de doses da vacina da Pfizer em junho. Até hoje, foram distribuídas mais de 90 milhões de doses em todo o Brasil, sendo que 54 milhões foram aplicadas.

Gustavo Sales/Câmara dos Deputados
A falta e atraso na entrega do Ingrediente Farmacêutico Ativo (IFA). Secretário do Ministério da Saúde, Rodrigo Cruz
Rodrigo Cruz: produção da Coronavac corre mais risco que a da Astrazeneca

A relatora da comissão, deputada Carmen Zanotto (Cidadania-SC), questionou se, com a dificuldade do recebimento do IFA, a segunda dose deveria ser reservada.
"O usuário não pode viver a angústia de receber a primeira dose e ficar na expectativa da segunda. Sabemos que a cobertura vacinal tem aumentado no País, mas podemos aumentar mais, e isso depende de terceiros neste momento."

O secretário-executivo do Ministério da Saúde, Rodrigo Cruz, esclareceu que não há nenhuma perda de prazo da Astrazeneca. Depois do atraso dos primeiros lotes em janeiro, a produção foi regularizada em abril. Neste sábado (22), haverá a entrega antecipada de mais dois lotes de IFA, o suficiente para produzir 12 milhões de doses pela Fiocruz. Outros dois lotes serão recebidos em junho e mais dois em julho.

Já a produção da Coronavac corre maior risco. O Butantan deveria receber 10 mil litros de IFA em maio, mas apenas 3 mil serão entregues no dia 25 - o suficiente para produção de 5 milhões de doses. Não há data prevista para o recebimento dos 7 mil restantes. Rodrigo Cruz explicou que o atraso tem como motivo o esforço grande de imunização da população chinesa.

Segundo o secretário-executivo, das 26 milhões de doses da Astrazeneca, 13 milhões poderiam ser reservadas para segunda dose. "Vamos fazer estudos para ver se reservamos ou não as outras doses ou se vai tudo para primeira dose, já que o intervalo da Astrazeneca é maior, de 12 semanas."

Gustavo Sales/Câmara dos Deputados
A falta e atraso na entrega do Ingrediente Farmacêutico Ativo (IFA). Diretor Instituto Butantan, Dimas Covas
Dimas Covas: atraso de até 60 dias na 2ª dose da Coronavac não prejudica proteção imunológica

A pasta recomenda que metade das 5 milhões de doses da Coronavac seja direcionada para segunda dose. "O intervalo vacinal é curto, e não temos clareza de quando serão recebidos os novos lotes", argumentou.

Na bula da Coronavac, o prazo entre a primeira e segunda doses deve ser de 28 dias. No entanto, o diretor do Instituto Butantan, Dimas Covas, informou que há dados da China e do Brasil de que atrasos de até 60 dias não prejudicaram a proteção imunológica. "Não nos sentimos confortáveis em mudar a bula porque o estudo clínico foi feito com o intervalo máximo de 28 dias. Existem dados adicionais de pessoas que foram vacinadas com 40 dias, 50 dias, 60 dias. Mas isso não vai se tornar uma recomendação oficial. A bula vai continuar tendo os 28 dias de intervalo", declarou.

Negociações
Dimas Covas destacou o papel da China no enfrentamento da pandemia, já que o país já forneceu mais de 380 milhões de doses de vacina para 100 países. "Não há comparação. A Sinovac é a empresa que mais fornece para o governo chinês, com capacidade de produção de 200 milhões de doses por mês", observou. O diretor do Butantan relatou que se reuniu nesta manhã com o embaixador chinês, que se dispôs a fazer todos os esforços com o governo chinês para garantir a entrega do IFA.

Gustavo Sales/Câmara dos Deputados
A falta e atraso na entrega do Ingrediente Farmacêutico Ativo (IFA). Dep. Dr. Luiz Antonio TeixeiraJr.(PP - RJ)
Dr. Luiz Antonio Teixeira Jr. pediu que Pfizer seja direcionada a municípios com mais de 500 mil habitantes

O diretor também aposta no início do uso emergencial da Butanvac em setembro ou outubro, após os estudos clínicos e a autorização da Agência de Vigilância Sanitária (Anvisa). A Butanvac não tem necessidade de importação de IFA e pode ser usada com uma única dose.

Dimas Covas acredita ser possível produzir 100 milhões de doses da Butanvac até o fim do ano. "Ela pode contribuir para o combate da pandemia no Brasil e em países pobres, de renda média e baixa."

O vice-presidente de Produção e Inovação em Saúde da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), Marco Aurelio Krieger, destacou o tempo recorde de seis meses para produção nacional da vacina, que envolveu uma complexa operação de logística, envolvendo regulação, adaptação de instalações e treinamento. "Hoje estamos limitados pela disponibilidade da IFA. Se tivéssemos condições de antecipar lotes, poderíamos produzir mais vacinas", avaliou. "Estamos produzindo o dobro de vacinas do que produzíamos antes."

Krieger também apontou para as evidências de efetividade das vacinas da Astrazeneca a partir dos estudos na Inglaterra. "Estão tendo desempenho muito grande, já na primeira dose com efetividade no bloqueio das infecções, hospitalizações, mortalidade e transmissões."

Pfizer
O secretário-executivo do Ministério da Saúde observou que em maio serão entregues 2,5 milhões de vacinas da Pfizer, com remessas semanais de 600 mil doses. Em junho, o volume será maior, com 12 milhões de doses já confirmadas, a uma média de 2,4 milhões por semana.

Rodrigo Cruz também anunciou que a Pfizer deve protocolar na Anvisa estudos que comprovam a estabilidade da vacina pelo prazo de até 30 dias, na temperatura de 2 a 8 graus. Atualmente, a Pfizer está aprovada pela Anvisa para uso de cinco a sete dias nesse intervalo de temperatura. "Trata-se de uma notícia importante para interiorização da vacina. Hoje nem todos os municípios podem receber a Pfizer por características de armazenagem."

O presidente da comissão externa, deputado Dr. Luiz Antonio Teixeira Jr. (PP-RJ), defendeu que a vacina da Pfizer seja fornecida para cidades com mais de 500 mil habitantes. "Tem cidades com capacidade e estrutura melhor do que algumas capitais. Precisamos de uma distribuição mais equalitária da Pfzier. Há um risco de grande fluxo migratório entre as cidades porque alguns querem usar esse imunizante."

Reportagem - Francisco Brandão
Edição - Marcelo Oliveira

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