Direitos Humanos

Polícia Civil do Rio e Ministério Público são contra federalização das investigações do caso Marielle

22/08/2018 - 18:57  

O Ministério Público e a Polícia Civil do Rio de Janeiro se manifestaram, nesta quarta-feira (22), contra a federalização das investigações dos assassinatos de Marielle Franco e Anderson Gomes.

Reprodução
Vereadora Marielle Franco
A vereadora Marielle Franco foi morta junto com o motorista Anderson Gomes no dia 14 de março

Em reunião, no Rio de Janeiro, da comissão externa da Câmara que acompanha o caso com as autoridades que comandam as investigações, deputados e investigadores discutiram também os vazamentos de informações à imprensa e os resultados das buscas pelos autores e mandantes dos assassinatos da vereadora carioca e seu motorista, ocorridos em 14 de março.

Os mais de 5 meses de investigação sem resultado final levaram a deputada Maria do Rosário (PT-RS) a apresentar requerimento (Req. 10/18) na comissão, no início do mês, para que a Procuradoria Geral da República peça ao Superior Tribunal de Justiça o chamado Incidente de Deslocamento de Competência. Na prática, a medida transferiria a investigação da Polícia Civil do Rio de Janeiro para a Polícia Federal. O próprio ministro da Segurança Pública, Raul Jungmann, chegou a oferecer a Polícia Federal para assumir o caso.

O coordenador da comissão externa da Câmara, deputado Jean Wyllys (Psol-RJ), disse que, na reunião desta quarta, o delegado Giniton Lages, que comanda a investigação do caso Marielle, e o subprocurador geral de Justiça do estado, Eduardo Lima Neto, criticaram a tese da federalização.

"O ministro Raul Jungmann falou que uma linha de investigação apontava para o envolvimento de grandes políticos entre os mandantes do assassinato e que, por isso, as investigações não iriam adiante. O delegado Giniton garantiu que a Polícia Civil irá responder quem mandou matar Marielle, quem matou e por quê. Mas não deu um prazo. Ele disse que não é possível dar prazo em uma investigação como essa, que envolve um crime político tão sofisticado", disse o deputado.

"Federalização informal"
Segundo Jean Wyllys, as autoridades também argumentaram que a Polícia Federal já vem colaborando tecnicamente com as investigações da Polícia Civil. Além disso, já haveria uma "federalização informal", pois a segurança pública do estado do Rio de Janeiro está sob intervenção federal.

Para reforçar a investigação, o Ministério Público estadual prometeu acionar o grupo de promotores que trabalha no combate ao crime organizado. Também ficou acertado que as autoridades terão encontros rotineiros com a comissão externa da Câmara a fim de facilitar o acompanhamento do caso.

Apesar de a investigação ser sigilosa, alguns dados vazaram para a imprensa. Segundo Jean Wyllys, o delegado Giniton Lages descartou a hipótese de o vazamento ter ocorrido por parte dos policiais.

"Ele garantiu que as cerca de 20 pessoas diretamente envolvidas nas investigações não vazaram informações à imprensa. Esses vazamentos estão acontecendo por pessoas que não estão envolvidas na investigação. Portanto, são vazamentos irresponsáveis. Ele tratou como especulação qualquer afirmação sobre a linha de investigação adotada e que nenhuma linha de investigação foi descartada", afirmou.

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Votação na comissão
Jean Wyllys quer aproveitar o esforço concentrado da Câmara, em setembro, para que a comissão externa debata e vote o requerimento de federalização das investigações. O relator da comissão, deputado Glauber Braga (Psol-RJ), explicou que o posicionamento do colegiado vai depender do andamento das investigações.

"O delegado diz que, materialmente, tem as condições de tocar a investigação e que há uma força-tarefa que tem dado à investigação prioridade. A gente vai deliberar conjuntamente sobre a federalização. Os próximos acontecimentos, que a gente vai avaliar passo a passo, é que vão determinar a nossa posição sobre o tema", disse Braga. O deputado voltou a cobrar o compromisso do ministro Raul Jungmann de pedir à Polícia Federal a avaliação de risco de pessoas potencialmente ameaçadas de morte no estado do Rio de Janeiro.

Além de Glauber Braga e Jean Wyllys, os deputados Chico Alencar (Psol-RJ) e Jandira Feghalli (PCdoB-RJ) participaram da reunião com as autoridades que investigam os assassinatos de Marielle Franco e Anderson Gomes.

Reportagem – José Carlos Oliveira
Edição – Ana Chalub

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