Ciência, tecnologia e Comunicações

Especialistas apontam barreiras para participação social e transparência na política

Dificuldades incluem resistência de representantes políticos em acatar demandas populares; informações muito especializadas; e linguagem distante da população

15/12/2016 - 14:42  

Billy Boss / Câmara dos Deputados
Seminário: Internacional Comunicação e Participação Social na Esfera Pública em Tempos de Cidadão Digital. Palestrante: Jamil Marques
Jamil Marques: ainda existe muita resistência em promover mudanças no processo de produção da decisão política

Professores e pesquisadores apontaram barreiras e desafios para a participação social na política no seminário internacional “Comunicação e Participação Social na Esfera Pública em Tempos de Cidadão Digital”, que ocorreu na Câmara dos Deputados nesta quinta-feira (15). O evento foi promovido pela Secretaria de Comunicação Social da Câmara.

Segundo o professor do Departamento de Ciência Política da Universidade do Paraná, Jamil Marques, ainda existe muita resistência de parcela dos representantes políticos e das instituições em promover mudanças no processo de produção da decisão política.

Conforme ele, isso significa que, muitas vezes, os cidadãos se mobilizam – recolhem assinaturas e apresentam projetos de iniciativa popular, por exemplo – mas muita pouca coisa se efetiva na forma da demanda popular, e algumas sugestões são simplesmente ignoradas. “Os cidadãos têm se perguntado em que medida participar de fato altera alguma coisa”, ponderou.

O professor chamou atenção ainda para o fato de que, no Brasil, há mais preocupação em se fomentar ferramentas de participação, enquanto em outros países a prioridade é desenvolver ferramentas de transparência. “Só começamos a falar de transparência de 10 anos para cá”, observou.

Na visão do professor da Universidade de Brasília (UnB), Sivaldo Pereira, as barreiras para a transparência digital incluem, por exemplo, o desinteresse político; informações muitas especializadas; o grande volume de informações e a falta de indexação. Segundo ele, é preciso o Estado produza bancos de dados estruturados e acessíveis, que sejam inteligíveis para o cidadão comum.

Ele salientou ainda que, em alguns casos, a transparência pode gerar efeitos opostos ao que se espera, como inflacionar um cenário de desconfiança e inibir inovações, gerando agentes sob intensa pressão e repercutindo negativamente em suas performances.

Aproximação do público
Já o coordenador do Departamento de Internet e Mídias Sociais da Prefeitura Municipal de Curitiba, Álvaro Borba, defendeu que o Poder Público se submeta à linguagem do público ao se comunicar com ele, para ganhar uma participação “real e apaixonada”.

Ele propõe, por exemplo, o uso de memes de internet (imagens e sons que sintetizam e transmitem rapidamente uma ideia) pelo Poder Público mas redes sociais - os quais, na sua visão, seriam uma manifestação de cultura popular. Segundo ele, a Prefeitura de Curitiba faz uso desse mecanismo desde 2013, com sucesso. “Fazemos memes para ensinar a reciclar, para ensinar a se comportar no trânsito”, citou.

O professor e pesquisador do Departamento de Comunicação Social da Universidade Federal do Espírito Santo, Fábio Malini, destacou que os fenômenos na internet fazem acelerar processos legislativos. Para ele, a participação “do sofá” é tão importante quanto a de rua, pois o ativista “do sofá” faz espalhar os conteúdos.

De acordo com ele, a internet proporciona diálogos radicais em vez de consensos racionais, e o Poder Público e a comunicação pública devem desenvolver meios de assimilar mesmo as manifestações mais radicais. “O ponto de vista contrário, o discurso minoritário também precisa ser garantido também”, afirmou.

O diretor de Comunicação da Assembleia Legislativa de Minas Gerais, Rodrigo Lucena, acredita que as pessoas ainda têm disposição de participar, apesar de o cenário de descrença com a política, especialmente com o Poder Legislativo.

Reportagem – Lara Haje
Edição – Rachel Librelon

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