Ex-presidente da Camargo Corrêa nega corrupção no BNDES e confirma propina a partidos
Dalton Avancini disse que a Camargo Corrêa pagou para partidos políticos 1% da sua parcela no contrato de construção da Usina Hidrelétrica de Belo Monte (PA), financiado pelo BNDES, o equivalente a cerca de R$ 20 milhões
06/10/2015 - 19:06

O ex-presidente da construtora Camargo Corrêa Dalton Avancini disse, nesta terça-feira (6), em depoimento à CPI do BNDES, que nunca teve conhecimento do pagamento de suborno para gestores do banco, nem que a instituição atrelasse a liberação de empréstimos à distribuição de propinas.
Avancini, que depôs na condição de testemunha, confirmou, porém, que a Camargo Corrêa pagou para partidos políticos 1% da sua parcela no contrato de construção da Usina Hidrelétrica de Belo Monte (PA), financiado pelo BNDES, o equivalente a cerca de R$ 20 milhões. Ele disse que tinha conhecimento apenas do PMDB como sigla que teria recebido o suborno, mas disse que não saberia citar nomes de beneficiados.
“Eu não tenho conhecimento destes destinatários. Quando eu assumi todos esses acordos já haviam sido feitos”, afirmou após questionamento do deputado André Fufuca (PEN-MA).
Suborno
As tratativas para o suborno, de acordo com ele, teriam sido feitas pelo ex-diretor de Energia da Camargo Corrêa, Luiz Carlos Martins, que teria lhe repassado a informação. “Isso me foi reportado pelo diretor [Luiz Carlos]. Eu tenho responsabilidade por não ter proibido”, disse Avancini em resposta ao relator da CPI, deputado José Rocha (PR-BA).
O suborno que teria sido pago pela Camargo Corrêa a partidos já era conhecido desde março, quando Avancini fez um acordo de delação premiada com o Ministério Público Federal, dentro da denúncia que apura corrupção na Petrobras (Operação Lava Jato). O depoimento foi prestado a delegados da Polícia Federal e procuradores da República.
Em julho, o ex-executivo da Camargo Corrêa foi condenado pelo juiz federal Sérgio Moro a 15 anos e 10 meses de prisão por corrupção ativa, lavagem de dinheiro e pertinência à organização criminosa. Após a delação, ele foi colocado em prisão domiciliar.
Consórcios
Durante o depoimento à CPI, Dalton Avancini explicou aos deputados como se dá a participação da Camargo Corrêa, que ele presidiu entre 2011 e o final de 2014, na construção de Belo Monte. Segundo ele, o consórcio que venceu a licitação para operar a hidrelétrica (Norte Energia) contratou um grupo de dez grandes construtoras para tocar a obra.
Este grupo criou um consórcio próprio, chamado de Consórcio Construtor Belo Monte (CCBM), cujos principais acionistas são Andrade Gutierrez (com 18%), Odebrecht e Camargo, ambas com 16%. Coube à Norte Energia, segundo ele, fazer o empréstimo junto ao BNDES para a construção da usina, e não às construtoras.
“As empresas construtoras não tinham nenhuma obrigação frente ao BNDES. A Camargo Corrêa não era tomadora final do empréstimo”, disse Avancini. Ele afirmou ainda, após questionamentos de diversos deputados, que não tomou conhecimento de qualquer irregularidade na concessão do empréstimo à Norte Energia. Em mais de uma ocasião, ele elogiou o “rigor” do banco.
“O rigor do BNDES com esses financiamentos era muito grande, a ponto da necessidade de colocarmos capital [próprio] em projetos porque não saíam os financiamentos do BNDES em função do rigor que ele tinha para fazer as análises”, disse ele.
As afirmações do ex-dirigente da Camargo Corrêa não convenceram, porém, o deputado Fábio Garcia (PSB-MT). Para ele, “os recursos do BNDES foram usados indiretamente para financiar propinas”.
Superfaturamento
Em resposta ao deputado Carlos Melles (DEM-MG), que questionou se o pagamento de suborno era antecedido por superfaturamento nas licitações, Dalton Avancini disse que o valor das propinas já é incluído pelas empresas dentro da sua margem de ganho. “Não é necessário que tenha superfaturamento para que você consiga pagar essa propina. Basta que você a tenha dentro do seu custo. Isso é possível”, afirmou.
Para Melles, as declarações de Avancini evidenciam a existência de um esquema de corrupção que abrange várias áreas do governo federal, desde a gestão do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. “O governo se aparelhou e fez desse aparelhamento um projeto de poder. Seja na Petrobras, seja no BNDES ou nos fundos de pensão”, afirmou.
Já o deputado Edio Lopes (PMDB-PR) afirmou que as informações levantadas até agora pela CPI não apontam corrupção ou má gestão dentro do banco. Diante disso, segundo ele, há um “esforço” para associar o BNDES à Lava Jato. E isso ocorre, na sua avaliação, “talvez até por não termos encontrado até agora um link, algo realmente substancial que traga a consolidação daquela expectativa de que o BNDES era um saco sem fundo”.
Reportagem – Janary Júnior
Edição – Newton Araújo