Em depoimentos à CPI, diretores do BNDES negam ingerência política no banco
22/09/2015 - 19:55

Em depoimento na Câmara dos Deputados, os diretores do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) Júlio Ramundo e Roberto Zurli Machado negaram que exista ingerência política ou tráfico de influência na instituição para privilegiar grupos econômicos com financiamentos ou aportes de capital. Os dois depuseram na CPI que investiga supostas irregularidades em operações do BNDES entre 2003 e 2015.
De acordo com eles, as decisões referentes às operações financeiras são colegiadas e levam em consideração apenas aspectos técnicos, como capacidade de pagamento da empresa e situação do mercado onde ela atua. Eles negaram também que tenha havido troca de equipes dentro do banco para favorecer operações de empréstimo.
“O BNDES tem um processo absolutamente consagrado em mais de 60 anos de decisões compartilhadas. De modo que não há ingerência política nas decisões. Não presenciei nenhuma ocorrência em que seja trocada a equipe ou [tenha havido] revisão de decisão”, disse Ramundo, que é diretor das áreas Industrial, Capital Empreendedor e Mercado de Capitais.
Durante quatro horas de depoimento, ele e Roberto Zurli Machado, que comanda as áreas de Infraestrutura e Insumos Básicos, defenderam a atuação do BNDES e da BNDESPar, braço do banco para operações no mercado de capitais. Segundo eles, o banco tem a menor inadimplência do sistema financeiro nacional (0,05%) e gera lucro para o Tesouro Nacional, via recolhimento de dividendos e pagamento de impostos.
“Quando o BNDES empresta um recurso, ele está movimentando a economia. A empresa paga impostos a partir disso, o fornecedor dela também paga impostos. Isso é o que se chama em economia de efeito multiplicador do investimento”, disse Ramundo.
Campeãs nacionais
Os dois diretores também defenderam a política do BNDES de priorizar empréstimos para empresas brasileiras com capacidade de inserção no mercado internacional. Questionado por diversos parlamentares sobre o saldo da política de formação de “campeões nacionais”, Júlio Ramundo disse que houve retorno econômico e social para o País, com geração de emprego, renda e receitas para o Estado.
Ele citou o caso do setor de proteínas animal (carnes para exportação). “Esse observou crescimento da exportação, crescimento do emprego, redução da informalidade”, disse Ramundo, após questionamento do deputado Miguel Haddad (PSDB-SP). Para alguns deputados, como o próprio Haddad e Carlos Melles (DEM-MG), a política adotada pelo banco levou à concentração dos mercados priorizados pela instituição, como de laticínios e carnes.
A política das campeãs nacionais surgiu no primeiro governo do presidente Lula, e foi implementada por meio da Política de Desenvolvimento Produtivo (PDP).
A defesa da atuação do BNDES foi feita pelo deputado Davidson Magalhães (PCdoB-BA). Segundo ele, a oposição está tentando “criminalizar” o trabalho do banco. “Promover as empresas brasileiras virou crime. Nunca vi isso no mercado internacional. Se não fizermos isso, não vamos ampliar”, disse. Ele afirmou que o baixo nível de inadimplência do BNDES é uma demonstração de como os recursos estão sendo bem aplicados.
Custo fiscal
Durante o debate, diversos parlamentares criticaram os repasses do Tesouro Nacional para o BNDES. O deputado Betinho Gomes (PSDB-PE) citou matéria jornalística que informa que o Tesouro terá um prejuízo de R$ 38,6 bilhões em 2016 com essas operações. O prejuízo refere-se à diferença entre o custo de captação para o Tesouro – boa parte baseado na taxa Selic – e a remuneração, mais baixa, que ele recebe do BNDES pelos empréstimos.
Para Gomes, o custo será pago pela sociedade. “O banco pode não ter tido prejuízo financeiro, mas a sociedade vai ter. O furo é de R$ 38 bilhões e será pago por todos”, disse.
Próximo depoimento
O presidente da CPI do BNDES, deputado Marcos Rotta (PMDB-AM), informou que o ex-presidente do frigorífico Independência, Graciano Roberto Russo, será a próxima pessoa a ser ouvida pelo colegiado, na quinta (24). O frigorífico recebeu aporte do banco pouco antes de entrar em recuperação judicial.
O depoimento de Dalton Avancini, ex-presidente da construtora Camargo Correa, somente será tomado após a Justiça liberá-lo para falar na CPI. Avancini está em prisão domiciliar por envolvimento com a Operação Lava Jato.
Reportagem – Janary Júnior
Edição – Newton Araújo