Política e Administração Pública

Ex-presidente do BNDES no Governo Lula nega pressões políticas

10/09/2015 - 15:44  

Lucio Bernardo Junior / Câmara dos Deputados
Audiência pública para tomada de depoimento do ex-presidente do BNDES entre jan/2003 a nov/2004, Carlos Francisco Theodoro Macha Ribeiro de Lessa
Carlos Lessa (D) criticou os critérios de financiamento do BNDES adotados pelos governos Lula e Dilma, apesar de fazer elogios às políticas sociais do PT

O ex-presidente do BNDES Carlos Lessa disse, nesta quinta-feira (10), em depoimento à Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) do BNDES, que nunca foi pressionado politicamente a autorizar qualquer operação de financiamento do banco no período em que presidiu a instituição, entre os anos de 2003 e 2004.

Em quase duas horas de depoimento, ele criticou critérios de financiamento adotados pelos governos Dilma e Lula, apesar de fazer elogios às políticas sociais do governo do PT. “Eu fiquei dois anos no banco e posso afirmar: nunca fui pressionado por ninguém”, disse, ao responder pergunta do deputado Arnaldo Jordy (PPS-PA).

O deputado paraense queria saber detalhes do relacionamento que Lessa teve com o então ministro da Fazenda Antonio Pallocci. “Por que o senhor afirmou, em entrevistas, que o banco tinha que ser independente?”, perguntou o deputado.

“O que eu avisei é que as operações do banco são de total responsabilidade do presidente e da diretoria do banco. Então eu não posso acatar orientações operacionais para o banco que não sejam do procedimentos internos do banco”, disse.

“Mas que orientações o senhor não acatou?”, quis saber o deputado. “Eu nunca dei nenhum não ao ministro (Palocci), mas também nunca dei nenhum sim”, respondeu.

Críticas
Lessa fez críticas à política de investimentos do banco no período posterior a sua administração. Ele disse discordar da política adotada pelo Governo Lula de criar “campeões nacionais”, que é como passaram a ser designadas empresas nacionais financiadas pelo BNDES para atuar no exterior.

“Acho que o BNDES deve financiar. Só deve assumir posições acionárias quando isso for estratégico. Eu não acho que a empresa nacional deve ser apoiada para virar multinacional. É minha posição pessoal”, disse.

Nos últimos doze anos, o BNDES financiou a expansão de empresas brasileiras com atuação internacional, como a Odebrecht, o grupo JBS/Friboi e as empresas do grupo OGX, de Eike Batista.

O grupo de Eike Batista obteve R$ 6 bilhões do BNDES. “Eu acho o caso do grupo Eike um caso feio. Mas é minha opinião”, disse Lessa.

Perdeu chance histórica
Para o ex-presidente do BNDES, o Brasil perdeu uma chance histórica ao não aproveitar as condições econômicas internacionais favoráveis durante o primeiro mandato do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Ele disse isso ao responder pergunta do deputado Betinho Gomes (PSDB-CE). “O BNDES concedeu financiamentos subsidiados de mais de R$ 450 bilhões a grandes empresas, mas nós não percebemos o resultado do aumento desses investimentos na economia”, disse o deputado.

Lessa explicou que, a partir de 2004, a explosão da demanda dos países asiáticos por matéria prima e a redução do preço dos produtos manufaturados foram extremamente favoráveis ao Brasil. “Desperdiçamos uma chance histórica de consolidar as forças produtivas brasileiras. Mas as forças produtivas não cresceram. O meu problema hoje é que eu olho e não sei qual é o projeto nacional brasileiro”, disse.

O ex-presidente do BNDES reconheceu, porém, a importância de políticas sociais adotadas no primeiro Governo Lula. “O primeiro mandato do Lula produziu reflexos sociais muito importantes. Milhões de pessoas se sentiram atendidas, principalmente com a elevação do poder de compra do salário mínimo”, disse.

Reportagem – Antonio Vital
Edição – Newton Araújo

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