Política e Administração Pública

Ex-presidente do BNDES nega denúncias de corrupção e tráfico de influência

Em depoimento na Câmara dos Deputados, Demian Fiocca disse que a política de financiamentos do banco é “impessoal e republicana”. Relator, por sua vez, classificou de "escalada insustentável" o ritmo de empréstimos aprovados pelo BNDES durante a gestão de Demian, entre 2006 e 2007.

03/09/2015 - 18:49  

Antonio Augusto / Câmara dos Deputados
Audiência Pública para tomada de depoimento do ex-presidente do BNDES, Demian Fiocca
Demian Fiocca considerou "injustas e equivocadas" possíveis associações entre o BNDES e o escândalo da Petrobras

O economista Demian Fiocca, que presidiu o BNDES entre 2006 e 2007, prestou depoimento nesta quarta-feira (3) à CPI que investiga supostas irregularidades em empréstimos do banco. Ele negou as acusações de corrupção e tráfico de influência na instituição e afirmou que a política de financiamentos do BNDES é "impessoal e republicana".

Parlamentares de oposição, como o deputado João Gualberto (PSDB-PA), procuraram associar ao BNDES denúncias ligadas aos escândalos do mensalão e da Petrobras, sobretudo diante de financiamentos que o banco fez a empreiteiras investigadas na Operação Lava Jato, da Polícia Federal.

"Há um sentimento generalizado, na população brasileira, de que a corrupção no BNDES chega a ser até maior do que na Petrobras. E também um tráfico de influência muito forte de figuras como o ex-presidente Lula; Fernando Pimentel, atual governador de Minas; e José Dirceu, entre outros", disse João Gualberto.

Demian, que sucedeu Guido Mantega, posteriormente ministro da Fazenda e do Planejamento, no comando do BNDES rebateu os argumentos do deputado. “Não houve nenhuma tratativa inadequada com ninguém do governo, no período em que estive no banco, no sentido de favorecer empresas”, declarou. “Considero absolutamente injusto e equivocado se alguém, na sociedade, procurasse associar corrupção ao BNDES", emendou.

Empréstimos
O relator da CPI, deputado José Rocha (PR-BA), chegou a classificar de "escalada insustentável" o ritmo de empréstimos aprovados pelo BNDES na gestão de Demian Fiocca: R$ 51,3 bilhões em 2006 e R$ 64,9 bilhões em 2007. Segundo Rocha e alguns deputados de oposição, esse aumento teria obrigado o Tesouro Nacional a intensificar o aporte de capital no banco, com reflexos na atual crise fiscal.

"O senhor não percebeu que aquela escalada seria insustentável e levaria o banco e o Tesouro a um beco sem saída? O senhor aprovou tanto dinheiro para emprestar à Odebrecht e a suas co-irmãs, a juros de pai para filho, para que elas aplicassem em obras que foram gerar empregos na Venezuela, Angola e outros países?", indagou o relator.

O ex-presidente justificou o crescimento dos empréstimos à intensificação das ações de fomento à economia, sobretudo em um período em que o banco foi usado como instrumento de reação à forte crise econômica internacional.

"O BNDES, quando faz a análise, é muito exigente e considera se os projetos estão enquadrados nas políticas e se os volumes solicitados correspondem àquela parte que efetivamente é produzida no Brasil, gerando empregos e pagando impostos no Brasil”, respondeu. “O banco, de fato, aumentou os desembolsos e continuou essa trajetória posteriormente, mas não vejo como uma escalada insustentável", continuou.

Em relação a empréstimos a empreiteiras e a financiamentos a empresas brasileiras para empreendimentos no exterior - como Venezuela, Equador e Angola, por exemplo -, Demian informou que o risco nessas operações não é alto e que não tem informação sobre eventual default (não pagamento).

O ex-presidente destacou também que o BNDES tem volume de recursos suficientes para atuar sem o Tesouro. O deputado Arnaldo Jordy (PPS-PA), entretanto, lembrou que o Tesouro fez aporte de mais de R$ 400 bilhões para o BNDES entre 2008 e 2014. “Isso ajudou a aprofundar a atual crise fiscal”, acrescentou o deputado Betinho Gomes (PSDB-PE).

Mare Investimentos
Parlamentares oposicionistas citaram ainda reportagem do jornal O Globo, de 2014, sobre uma ação da Operação Lava Jato que teria abortado a tentativa da Mare Investimentos, da qual Demian Fiocca é sócio, de assumir o controle acionário da Ecoglobal Ambiental, empresa que chegou a assinar um contrato de R$ 444 milhões com a Petrobras. Segundo a matéria, haveria ligação entre a Ecoglobal, o ex-diretor de abastecimento da Petrobras Paulo Roberto Costa e o doleiro Alberto Youssef, presos na Lava Jato.

Quanto a esse caso específico, Demian Fiocca frisou que o negócio não foi concretizado e data de período posterior a sua passagem no BNDES.

Próximos passos
Demian Fiocca foi o primeiro dos ex-presidentes do BNDES a depor na CPI. O próximo seria Guido Mantega, no dia 8, mas a audiência foi adiada para 29 de setembro, devido a problemas de saúde da esposa do ex-ministro.

Os depoimentos dos comandantes do banco no período de 2003 a 2015 foram pedidos pelo relator, sob o argumento de que eles "participaram da definição das linhas mestras das operações de crédito firmadas pela instituição financeira". Além de Fiocca e Mantega, também foram convocados os ex-presidentes Carlos Lessa e Eleazar de Carvalho.

José Rocha já também anunciou que vai abrir mão dos depoimentos de alguns diretores do BNDES inicialmente convocados. A intenção dele é focar as investigações para acelerar os trabalhos da comissão. Devem ser dispensados os depoimentos dos diretores José Henrique Fernandes (infraestrutura e meio ambiente), Maurício Lemos (administração financeira), Fernando Santos (recursos humanos) e João Carlos Ferraz (planejamento, pesquisa e acompanhamento).

Reportagem – José Carlos Oliveira
Edição – Marcelo Oliveira

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