Ex-mulher de Janene diz que não conhecia participação do marido em corrupção
Stael Fernanda alegou conversar pouco com o ex-marido, já falecido, e disse na CPI não ter conhecimento do esquema de corrupção na estatal. Relator da comissão afirmou que depoimento não acrescentou quase nada aos trabalhos
14/07/2015 - 14:27
Stael Fernanda Janene, ex-mulher do ex-deputado já falecido José Janene, negou ter conhecimento de participação do político nos esquemas de corrupção da Petrobras. Segundo ela, o marido não comentava nada em casa e, quando ele morreu, em 2010, eles já estavam separados.

Stael Janene depôs nesta terça-feira (14) na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Petrobras, na condição de investigada. Segundo a Operação Lava Jato, da Polícia Federal, José Janene era um dos operadores do esquema de corrupção que atuava na petrolífera.
"Eu pessoalmente, nunca estive na Petrobras. Nunca vi Paulo Roberto Costa [ex-diretor de Abastecimento da Petrobras, seria afilhado político de Janene]. Tudo o que sei em relação a isso, ouvi falar. Não sei se o Janene foi tudo isso em relação à Petrobras. Nunca vi isso na nossa vida", disse.
“Não me lembro nem de ter falado por telefone [com Paulo Roberto Costa]. Nenhum diretor da Petrobras frequentou a minha casa. Não conheci nenhum, nem sei onde fica o prédio da Petrobras", disse Stael.
Ela lembrou que, quando Janene faleceu, eles já estavam separados há um ano e dez meses. "Ele não gostou, não falava comigo. Ele ficou 44 dias internado no Incor e não fui visitá-lo, porque ele não quis. A minha relação com o Janene, depois da separação, não foi boa."
A ex-mulher de Janene disse conhecer o doleiro Alberto Youssef, mas como um "compadre", em razão de ele ser padrinho de seu filho.
Stael fez suas declarações em resposta a diversos parlamentares, entre eles o relator da comissão, deputado Luiz Sérgio (PT-RJ), e o sub-relator Altineu Côrtes (PR-RJ).
Contas no exterior
Stael também negou ter conhecimento de contas de Janene no exterior, inclusive uma com mais de 100 milhões de euros que seria movimentada por Youssef. Ela admitiu, por outro lado, ter assinado documentos para o marido sem ler, mas não acredita que algum desses papéis se referisse a contas no exterior.
Havia ainda uma conta, para as despesas da casa, em nome de Stael Fernanda. A ex-mulher de Janene, no entanto, disse que não movimentava essa conta e que os valores depositados ali eram baixos. Porém, o sub-relator lembrou que um único depósito tinha o valor de R$ 99 mil.
Na avaliação do deputado Luiz Sérgio, o depoimento de Stael acrescentou pouco aos trabalhos da CPI. “Era uma relação [a de Stael com Janene] muito machista, de uma cultura que não comungava muito com a cultura a que nós estamos acostumados”, observou o deputado.
Obsessão pelo poder
Apesar de negar conhecer os negócios do ex-marido José Janene, Stael acredita que ele tenha tido envolvimento em esquemas de corrupção. Janene, segundo Stael, era uma "pessoa obcecada pelo poder".
"Eu acredito que não foi só o Janene. Ele não inventou a corrupção no Brasil, ele não inventou a corrupção na Petrobras. Mas acredito que ele tenha tido envolvimento", afirmou Stael Janene, em resposta à deputada Eliziane Gama (PPS-MA).
Segundo a depoente, o marido era uma pessoa simples e não ostentava. "Esses comentários de milhões e milhões, não posso acreditar. Eu era casada com uma pessoa que reclamava da conta da verduraria. Nunca entrei em uma loja de grife para comprar uma bolsa, embora tenha me casado com uma pessoa que tinha posses, antes de ser deputado. Até compras da minha casa, quem fazia era a secretária dele", declarou.
A ex-mulher de Janene disse que hoje trabalha como corretora de imóveis e na produção de eventos, além de receber a pensão integral de Janene como parlamentar, pois tem três filhos adolescentes. Ela lembrou ainda que ela própria é investigada no esquema de corrupção do Mensalão. Seus bens, disse, estão todos bloqueados.
"Tudo o que eu tenho está bloqueado pela Justiça. Vai ter que aguardar o término das investigações para comprovar que o Janene era uma pessoa de posses. Dependo do término do processo, para ver o que consigo liberar. Até agora tudo, até o ar que eu respiro, está indisponível", afirmou ao responder pergunta do deputado Onyx Lorenzoni (DEM-RS).
Exumação
Em resposta ao deputado Silas Câmara (PSD-AM), a viúva voltou a negar que tivesse tido dúvidas sobre a possibilidade de Janene estar vivo. "Saiu na imprensa que eu teria estado com algum deputado e falado sobre isso. Nunca, jamais. Eu participei do velório dele."
Em maio, o presidente da CPI, deputado Hugo Motta (PMDB-PB), chegou a cogitar a possibilidade de apresentar requerimento para exumar o corpo do ex-deputado José Janene, mas desistiu a pedido da família do ex-parlamentar.
Reportagem – Noéli Nobre
Edição – Natalia Doederlein