Jorge Hage nega omissão da CGU em denúncias de pagamento de propina na Petrobras
Depoimento de ex-ministro da Controladoria-Geral da União provocou discussão acirrada entre deputados governistas e da oposição
07/07/2015 - 21:15

O ex-ministro Jorge Hage, da Controladoria-Geral da União (CGU), negou à CPI da Petrobras, nesta terça-feira (7), a acusação de que o órgão deixou de investigar denúncias de pagamento de propina pela empresa holandesa SBM Offshore a diretores da estatal.
A acusação foi feita pelo advogado Jonathan Taylor, ex-funcionário da SBM, companhia que alugava plataformas de perfuração à estatal. Em depoimento à CPI da Petrobras, em Londres, Taylor disse que a SBM pode ter feito pagamentos de mais de 92 milhões de dólares em propina em troca de contratos com a estatal entre 2003 e 2011, informação que teria sido repassada por ele à CGU no ano passado.
Segundo Taylor, a CGU deixou de investigar as suspeitas por conta do calendário eleitoral do ano passado.
Investigação
Jorge Hage, por sua vez, defendeu os procedimentos adotados pela CGU. Ele explicou à CPI que a controladoria começou a investigar a suspeita em fevereiro de 2014, seis meses antes do primeiro contato feito por Taylor, e optou por não usar documentos fornecidos pelo advogado porque havia suspeitas de que os arquivos e gravações foram obtidos de forma ilícita, o que poderia invalidar as apurações. “Além do mais, os nomes fornecidos por ele já constavam de uma investigação interna da Petrobras”, explicou.
De acordo com o ex-ministro, a SBM acusou Taylor de tentar extorquir a empresa em 3 milhões de euros para não revelar as informações que possuía – que incluíam documentos de uma investigação interna e gravações de conversas sem autorização judicial.
Hage reiterou que, desde fevereiro de 2014, a CGU investigava o caso, mesmo sem obter dados oficiais das autoridades holandesas, que não aceitam cooperação internacional em processos administrativos – apenas em casos penais.
“Mesmo assim, a CGU determinou a abertura de processo de investigação contra seis funcionários da Petrobras”, explicou Hage. Entre os acusados pela CGU estão o ex-diretor Internacional da Petrobras Nestor Cerveró; o sucessor dele, Jorge Zelada; e o ex-diretor de Serviços da estatal Renato Duque.
As acusações incluíam enriquecimento ilícito, patrimônio incompatível, transações imobiliárias suspeitas, viagens suspeitas em companhia de Júlio Faerman (então representante da SBM no Brasil), vazamento de informações confidenciais e recebimento de propina.
Divergência
Deputados governistas e da oposição divergiram sobre o papel da CGU nas apurações.
“O senhor não acha que essa denúncia, se tornada pública, poderia atrapalhar a campanha eleitoral?”, perguntou o deputado João Gualberto (PSDB-BA) a Jorge Hage.
“Pelo contrário. O Executivo poderia até capitalizar a informação, mostrando eficiência de seus instrumentos de investigação. Como um processo do governo contra empresa corruptora poderia prejudicar o governo?”, rebateu o ex-ministro.
O deputado Antonio Imbassahy (PSDB-BA), vice-presidente da CPI, se mostrou insatisfeito com o depoimento de Hage. Segundo ele, a CGU acreditou na versão da SBM, que acusa Taylor de chantagista em processo judicial na Inglaterra. “Está dando crédito a um dirigente de uma empresa corruptora e tenta desqualificar uma pessoa que está ali tentando colaborar com as investigações”, comentou.
Já o deputado Leo de Brito (PT-AC) afirmou que o depoimento de Taylor faz parte de uma estratégia política da oposição para desgastar o governo. “Querem um terceiro turno das eleições”, declarou.
Bate-boca
O depoimento do ex-ministro provocou discussão entre o deputado Valmir Prascidelli (PT-SP) e Onyx Lorenzoni (DEM-RS), com troca de ofensas no plenário.
Lorenzoni acusou o ex-ministro de ter ocultado o fato de o Ministério Público da Holanda ter enviado, em outubro do ano passado, informações sobre a SBM Offshore.
“Ocultei coisa nenhuma. A CGU só abriu o processo em novembro porque só então as informações das investigações internas poderiam ser tornadas públicas e serem abertas aos acusados”, rebateu o ex-ministro.
Prascidelli protestou contra a acusação a Hage e disse a Lorenzoni que ele não resistiria a cinco minutos de investigação. “Cala a boca”, respondeu Lorenzoni. “O seu governo é que não resiste a investigação. Minha vida é limpa”, completou o parlamentar do DEM.
A discussão teve troca de ofensas e só terminou com a intervenção do presidente da CPI, deputado Hugo Motta (PMDB-PB).
Reportagem - Antonio Vital
Edição - Marcelo Oliveira