Ex-presidente da Sete Brasil fica calado em depoimento e irrita parlamentares
16/06/2015 - 16:10
O ex-presidente da empresa Sete Brasil, João Carlos de Medeiros Ferraz, irritou os deputados da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Petrobras ao se recusar a responder perguntas sobre as denúncias de seu envolvimento em recebimento de propina. Ferraz compareceu à CPI amparado por um habeas corpus concedido pelo ministro Dias Toffoli, do Supremo Tribunal Federal.

Ele se recusou a responder até mesmo a pergunta feita pelo relator da CPI, deputado Luiz Sérgio (PT-RJ) sobre quando ingressou na Petrobras. “Por orientação dos meus advogados vou permanecer em silêncio”, limitou-se a dizer. E repetiu a resposta diversas vezes nas quase duas horas em que esteve na CPI.
“É uma frustração, mas como ele se recusa a responder vou abdicar das perguntas que faria”, disse Luiz Sérgio.
Acusações
Ferraz foi acusado de receber propina pelo ex-gerente da área de Serviços da Petrobras Pedro Barusco. Segundo Barusco, os estaleiros contratados pela Sete Brasil para construir as sondas (ao custo unitário de 800 milhões de dólares) pagaram propina de 1% sobre os contratos, dividida da seguinte maneira: 2/3 para o ex-tesoureiro do PT João Vaccari Neto, e o restante para ele, Barusco, Ferraz e Eduardo Musa (então diretor de Participações).
A Sete Brasil é uma empresa privada, criada por iniciativa da própria Petrobras em 2011 para construir sondas de perfuração. O objetivo na época era reunir acionistas, como bancos e a própria Petrobras, para viabilizar financeiramente o projeto de adicionar conteúdo nacional aos equipamentos, até então comprados no exterior.
O deputado Andre Moura (PSC-SE), sub-relator da CPI encarregado de investigar as suspeitas sobre a Sete Brasil, fez uma sucessão de perguntas, às quais Ferraz respondia com a mesma frase. “Seguindo orientação dos meus advogados, vou permanecer em silêncio."
Moura perguntou a ele se confirmava a veracidade das informações prestadas por Barusco e quis saber ainda o montante de propina que teria recebido, se dividia o dinheiro com alguém e sua relação com o ex-diretor de Serviços da Petrobras Renato Duque. Não obteve respostas.
Críticas ao silêncio
“Vossa senhoria veio para ficar calado porque sabe que é culpado. Veio de forma desrespeitosa com a CPI e o povo brasileiro. Vossa senhoria é criminoso, é culpado e não deveria estar aqui, em meio à sociedade”, desabafou o parlamentar.

O deputado José Carlos Araújo (PSD-BA) também reclamou. “É uma falta de respeito”, disse. O deputado Ivan Valente (Psol-SP) disse que Ferraz perdia uma boa oportunidade de se defender.
O deputado Hugo Motta (PMDB-PB), presidente da comissão, também lamentou a opção pelo silêncio e explicou que, ao contrário do que fez com outros depoentes, manteve o depoimento, mesmo com o uso do habeas corpus, já que Ferraz estava sendo ouvido na qualidade de testemunha. “Se ele estivesse aqui como acusado e se recusasse a falar adotaríamos o procedimento de dispensá-lo”, explicou.
Reclamações
Antes do depoimento de Ferraz, a bancada do PT na CPI recorreu ao próprio presidente da comissão contra as votações feitas na reunião da última quinta-feira (11), em que foram aprovados em bloco, sem discussão, 140 requerimentos, entre os quais a convocação do presidente do Instituto Lula, Paulo Okamoto, e a quebra dos sigilos bancário e fiscal do ex-ministro da Casa Civil, José Dirceu.
Reportagem - Antonio Vital
Edição - Natalia Doederlein