Política e Administração Pública

Presidente da CPI da Petrobras quer ouvir viúva de Janene antes de pedir exumação

20/05/2015 - 20:51   •   Atualizado em 21/05/2015 - 11:08

O ex-deputado José Janene, morto em 2010, ganhou destaque na sessão da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Petrobras com a defesa, feita pelo presidente da comissão, deputado Hugo Motta (PMDB-PB), da exumação de seu corpo.

No início da sessão, Motta disse ter recebido informações de que a viúva de Janene, Stael Janene, duvidava da morte do marido, o que justificaria a exumação do corpo. “A informação chegou a mim ontem. De acordo com a viúva, o corpo de Janene foi velado em caixão lacrado, o que era desnecessário já que ele havia sido vítima de ataque cardíaco”, justificou Hugo Motta. O presidente da CPI não quis revelar sua fonte da informação.

Hugo Motta disse que vai apresentar requerimento de exumação, mas vai colocar em votação o pedido somente depois do depoimento da viúva.

Peça central
Janene é apontado como peça central no esquema de corrupção na Petrobras. Segundo o ex-diretor de Abastecimento da empresa Paulo Roberto Costa e o doleiro Alberto Youssef, Janene era o principal operador do PP na Petrobras quando ocupava o cargo de líder do partido na Câmara.

Ele morreu em 2010 no Instituto do Coração (Incor), em São Paulo. Em 2006, uma junta médica da Câmara dos Deputados concluiu que ele sofria de cardiopatia grave. Na época, ele era acusado de envolvimento no mensalão.

Depoimento da viúva
Existe um requerimento para que Stael Janene seja ouvida pela CPI, mas o pedido ainda não foi aprovado pelos deputados. O autor do requerimento é o deputado Altineu Côrtes (PR-RJ), que disse ter sido procurado pela viúva de Janene quando foi a Curitiba (PR) ouvir os depoimentos dos presos pela Operação Lava Jato, semana passada.

Segundo informações da CPI, Stael havia se oferecido para ir à CPI para “desmentir” as informações do doleiro Alberto Youssef sobre Janene, apontado como o principal operador do esquema de pagamento de propina na Petrobras quando era líder do PP na Câmara.

A deputada Eliziane Gama (PPS-MA) pediu que a viúva de Janene seja ouvida em sessão secreta da CPI. Ainda não há data para o depoimento.

Polêmica na CPI
O pedido de Motta causou polêmica na CPI. O deputado Júlio Delgado (PSB-MG) disse que a exumação de um corpo é um desvio de foco da comissão. “Temos uma lista de empresários para depor e sequer conseguimos marcar os depoimentos”, disse.

Vários deputados, porém, disseram que apoiam o requerimento de exumação. O deputado Delegado Waldir (PSDB-GO), policial civil, chegou a se oferecer para acompanhar a exumação.

Nota da viúva
Em nota publicada na sua página no Facebook, Stael desmentiu as informações de que estaria desconfiada da morte do marido. “Em momento algum procurei ou fui procurada por qualquer deputado dizendo o que colocaram em minha boca, principalmente no que tange a respeito de minha suposta desconfiança sobre a morte do pai de meus filhos”, escreveu na nota, dizendo-se “estarrecida ao ver toda a mídia nacional colocar palavras e situações em minha boca sem nunca eu pronunciá-las”.

A viúva também afirmou que foi com os filhos receber o corpo de José Janene numa mesquita muçulmana em Londrina e que não havia caixão nenhum no enterro, muito menos lacrado, pois o ex-deputado foi sepultado sob os costumes muçulmanos – os mortos são envoltos em uma túnica branca.

Pressão sobre foragido
No início da sessão marcada para ouvir o presidente da empreiteira Camargo Corrêa, Dalton Avancini, os deputados aprovaram requerimentos de convocação de três pessoas ligadas ao empresário Júlio Faerman, ex-representante da empresa holandesa SBM Offshore no Brasil.

Faerman já havia sido convocado pela CPI, mas não foi localizado e não compareceu. Ontem, a importância de Faerman no esquema de desvio de dinheiro da Petrobras foi reforçada depois que deputados da CPI ouviram o advogado Jonathan Taylor em Londres.

Taylor trabalhou na SBM durante nove anos e disse aos deputados que a empresa pode ter feito pagamentos de mais de 92 milhões de dólares em propina em troca de contratos com a estatal entre 2003 e 2011. O ex-gerente de Tecnologia da Petrobras, Pedro Barusco, já havia acusado Faerman de intermediar o pagamento de propina em troca de contratos com a Petrobras.

A CPI convocou então o filho de Faerman, Marcello Faerman; a filha dele, Eline Faerman; e o sócio dele, Luiz Eduardo Barbosa. Duas horas depois, Faerman entrou em contato com a CPI e se colocou à disposição para comparecer. O depoimento dele foi marcado para 3 de junho.

Reportagem - Antonio Vital
Edição – Regina Céli Assumpção

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