Política e Administração Pública

Suposta ligação de Coutinho com doações ao PT gera bate-boca entre deputados

Presidente do BNDES, Luciano Coutinho, prestou depoimento à CPI da Petrobras nesta quinta-feira

16/04/2015 - 19:47  

O presidente do BNDES, Luciano Coutinho, foi duramente criticado por deputados da oposição durante seu depoimento de mais de oito horas à CPI da Petrobras nesta quinta-feira (16). Um dos questionamentos deu origem a uma troca de ofensas entre deputados do PT e do DEM: a suspeita, publicada pela imprensa, de que Coutinho teria intermediado doações eleitorais de uma empresa investigada pela Operação Lava Jato para a campanha presidencial de Dilma Rousseff do ano passado.

Laycer Tomaz - Câmara dos Deputados
Audiência pública para ouvir o depoimento do presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento (BNDES), Luciano Coutinho. Dep. Onyx Lorenzoni (DEM-RS)
Sob protesto de deputados do PT, Lorenzoni insistiu na pergunta para saber se Coutinho havia se reunido com empreiteiro preso na Operação Lava Jato

A confusão teve início com uma pergunta do deputado Onyx Lorenzoni (DEM-RS) a respeito de notícia publicada em um blog da revista Veja, segundo a qual o presidente do BNDES teria intermediado doação eleitoral para o PT feita pelo presidente da empreiteira UTC, Ricardo Pessoa, preso na Operação Lava Jato.

“O senhor se encontrou com Ricardo Pessoa e disse a ele que Edinho Silva, então tesoureiro da campanha presidencial de 2014, iria procurá-lo para que fizesse uma doação?”, indagou o deputado.

“De modo algum participei de financiamento de campanha”, respondeu Coutinho.

Lorenzoni não ficou satisfeito com a resposta. “Quero saber se o senhor se encontrou com Ricardo Pessoa para falar de doação de campanha. Sim ou não?”, rebateu o parlamentar.

Então, deputados do PT, como Valmir Prascidelli (SP) e Leo de Brito (AC), protestaram. Até o relator da CPI, deputado Luiz Sérgio (PT-RJ), afirmou que não havia previsão regimental para réplica e tréplica dos parlamentares.

Ofensas
Houve gritos e trocas de acusações no plenário, com ofensas como “palhaço” e comparações com “circo”. Horas depois, Lorenzoni voltou ao tema e obrigou Coutinho a dar mais detalhes a respeito do episódio.

“O senhor se encontrou com Ricardo Pessoa? Sim ou não?”, insistiu o deputado do DEM. A mesma pergunta havia sido feita ao longo da tarde pela deputada Eliziane Gama (PPS-MA) e pelo deputado Izalci (PSDB-DF). Em todas as ocasiões, Coutinho se limitou a dizer que nunca tratou de financiamento de campanha.

Lorenzoni refez a pergunta, sob protesto de deputados do PT, e disse que tinha informações de que o encontro entre Coutinho e Pessoa efetivamente ocorreu, na véspera das eleições do ano passado, no estado de São Paulo. “A CPI pode pedir as imagens e comprovar o encontro”, alertou o deputado.

Gabriela Korossy / Câmara dos Deputados
Audiência pública para ouvir o depoimento do presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento (BNDES), Luciano Coutinho
No fim, Coutinho (D) admitiu ter se encontrado com Ricardo Pessoa, mas disse nunca ter tratado de financiamento de campanha

Diante disso, Coutinho admitiu ter se reunido com Pessoa, já que a UTC integrava o consórcio responsável pelas obras do aeroporto de Viracopos, em São Paulo. “Reuni-me com o consórcio. Mas não tive reunião pessoal com Pessoa”, comentou.

"Pedalada contábil"
O presidente do BNDES foi confrontado ainda com um relatório do Tribunal de Contas da União (TCU) que acusa o governo de ter feito uma maquiagem contábil para cumprir a Lei de Responsabilidade Fiscal. De acordo com o ministro José Múcio, do TCU, o Executivo usou recursos dos bancos públicos - Banco do Brasil, Caixa e BNDES - para cumprir metas das contas públicas.

“Quanto o Tesouro deve ao BNDES?”, perguntou o deputado Darcísio Perondi (PMDB-RS). “Algo em torno de R$ 20 bilhões”, respondeu Coutinho. Ele acrescentou que, quando os juros caírem, esse custo vai cair.

O caso fez com que ressurgisse, na Câmara, a iniciativa de criação de uma CPI para investigar os empréstimos concedidos pelo BNDES. “O governo comete crime de responsabilidade ao dever mais de 40 bilhões ao País e metade dessa dívida é do BNDES”, argumentou o deputado Rubens Bueno (PPS-PR), que informou ter assinaturas suficientes para protocolar pedido de abertura de uma CPI.

Próximos passos
Os integrantes da CPI da Petrobras vão a Curitiba no próximo dia 24 para pedir ao juiz Sérgio Moro, da 13ª Vara Federal, o compartilhamento de informações da Operação Lava Jato.

Mas ainda não têm data marcada os depoimentos dos 19 presos que se encontram na capital paranaense, inclusive o doleiro Alberto Youssef, o ex-diretor da Petrobras Nestor Cerveró e o empresário Fernando Soares, apontado pela Polícia Federal como operador do PMDB do esquema. A ida da CPI a Curitiba para ouvir os presos foi aprovada na última terça-feira (14).

Outra viagem da CPI já foi autorizada pelo presidente da Câmara, Eduardo Cunha. Membros da comissão irão a Londres ouvir o depoimento do empresário Jonathan Taylor, ex-diretor da SBM Offshore – empresa acusada de pagar propinas a Pedro Barusco, ex-gerente de Tecnologia da Petrobras. Informações obtidas pela CPI dão conta de que Taylor estaria disposto a colaborar com as investigações.

Reportagem - Antonio Vital
Edição - Marcelo Oliveira

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