CPI da Petrobras irá a Curitiba ouvir Fernando Baiano e Alberto Youssef
Empresário acusado de ser operador do PMDB em fraudes na estatal e doleiro deverão ser ouvidos junto com outras 17 pessoas presas na Operação Lava Jato. Decisão de viajar à capital paranaense, que se deve à proibição de que detentos deponham na Câmara, causou polêmica na comissão
14/04/2015 - 19:49

A Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Petrobras decidiu ir a Curitiba (PR) ouvir o depoimento do empresário Fernando Soares, o Fernando Baiano, e outros 18 presos na Operação Lava Jato, inclusive o doleiro Alberto Youssef e o ex-diretor da área Internacional da estatal Nestor Cerveró (leia quadro com a lista completa no final da matéria).
A data da viagem dos integrantes da CPI ao Paraná ainda não está definida. Os próximos depoimentos marcados são os do presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Luciano Coutinho, nesta quinta-feira (16); do empresário Júlio Camargo, da empresa Toyo Setal, no dia 23 de abril; e do ex-diretor de Abastecimento da Petrobras Paulo Roberto Costa, no dia 5 de maio.
Coutinho vai explicar à CPI por que o BNDES financiou a empresa Sete Brasil, criada pela Petrobras para construir sondas de perfuração. A Sete Brasil subcontratou estaleiros que teriam efetuado o pagamento de propinas a diretores da Petrobras e ao tesoureiro do PT, João Vaccari Neto, de acordo com o ex-gerente de Tecnologia da Petrobras Pedro Barusco e com Paulo Roberto Costa.
O executivo da empresa Toyo Setal, em depoimentos de delação premiada, detalhou o pagamento feito por ele e por empresas contratadas pela Petrobras a diretores da estatal. Ele disse ter feito pagamentos ao ex-diretor da Petrobras Renato Duque e a Pedro Barusco, e mencionou a participação de Fernando Baiano, apontado pela Polícia Federal como operador do PMDB, na intermediação dos pagamentos.
Já Paulo Roberto Costa é um dos principais delatores do esquema, junto com o doleiro Alberto Youssef.
Polêmica
A decisão da CPI de ir a Curitiba, em vez de convocar os depoentes para comparecerem à Câmara dos Deputados, rendeu polêmica na reunião da comissão nesta terça-feira (14). O deputado Ivan Valente (Psol-SP) criticou a medida. “Deveríamos pedir a revogação do Ato da Mesa que proíbe a oitiva de detentos nas dependências da Casa”, disse. Ele sugeriu que os presos fossem ouvidos no Senado, onde não há proibição.

“Não podemos suspender o Ato da Mesa para ouvir um detento e não fazer o mesmo em relação a outro. São dois pesos e duas medidas”, ressaltou o deputado Valmir Prascidelli (PT-SP), referindo-se ao fato de Renato Duque ter sido autorizado a entrar na Câmara para prestar depoimento no dia 19 de março, mesmo preso.
O deputado Afonso Florence (PT-BA) manifestou outra preocupação. “Mesmo se formos a Curitiba, esses depoimentos têm que ser abertos, feitos em um auditório e transmitidos ao vivo para todo o País”, afirmou.
O requerimento de ida a Curitiba foi apresentado pelo deputado Celso Pansera (PMDB-RJ). O deputado Júlio Delgado (PSB-MG) foi favorável à medida. “É uma questão de economia processual”, disse. “Não dá para deixar entrar gente armada, conduzindo presos, na Câmara”, defendeu o deputado Ricardo Barros (PP-PR).
O presidente da CPI, deputado Hugo Motta (PMDB-PB), informou que os membros da comissão vão aproveitar a viagem a Curitiba para conversar com o juiz da 13ª Vara Federal, Sérgio Moro, a respeito do compartilhamento de informações até agora sigilosas.

Viagem a Londres
A CPI também aprovou outros requerimentos de viagem. Um deles para ir a Londres, ouvir o empresário Jonathan Taylor, ex-diretor da SBM Offshore – empesa acusada de pagar propinas a Pedro Barusco. Os membros da comissão também irão ao Rio de Janeiro para uma visita à sede da Petrobras e ao Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro, em Itaboraí (RJ), e visitarão ainda a Refinaria Abreu e Lima, em Pernambuco.
Durante a reunião para votação de requerimentos da comissão, o deputado Hugo Motta disse que não vai permitir insinuações de que o colegiado esteja protegendo acusados.
Técnicos da empresa multinacional Kroll já estão trabalhando desde segunda-feira (13) na análise de documentos para a CPI. A empresa foi contratada para ajudar a rastrear dinheiro da Petrobras desviado para contas no exterior.

Reportagem – Antonio Vital
Edição – Marcos Rossi