Falta de chuvas aumenta discussão sobre risco de apagões
Na Região Sudeste, os reservatórios das usinas hidrelétricas estão com 19% de sua capacidade, quando o esperado era, no mínimo, de 40%.
06/02/2015 - 10:25
No último dia 19 de janeiro, um apagão atingiu dez estados e o Distrito Federal e trouxe transtornos à população. Em São Paulo, houve interrupção da circulação de trens no metrô e algumas estações da Linha 4-Amarela chegaram a ficar fechadas. No Rio de Janeiro, a usina nuclear de Angra 1 foi desligada devido à oscilação de energia. Pequenos produtores do interior de São Paulo afirmam ter perdido 500 litros de leite.
Na origem do problema, estava uma falha no sistema causada, em parte, pelo elevado nível de consumo devido ao calor intenso que atravessa o País neste verão. A alta demanda no horário de pico teria sobrecarregado o sistema, causando um problema técnico na linha de transmissão norte-sul de Furnas, que transporta a energia da Região Norte para o Sul e o Sudeste.
O sistema elétrico brasileiro enfrenta um momento crítico, agravado devido à falta e chuvas, especialmente no Sudeste do País. Na região, uma das maiores responsáveis pela geração de energia no Brasil, os reservatórios das usinas hidrelétricas estão com 19% de sua capacidade, quando o esperado era no mínimo de 40%.
Depois do apagão de janeiro, o ministro de Minas e Energia, Eduardo Braga, anunciou que a Petrobras vai voltar a incluir no sistema 867 megawatts provenientes de usinas termoelétricas que estavam em manutenção e que serão adotadas ainda medidas para garantir mais energia vinda da Hidrelétrica de Itaipu.
Desde o último dia 20, o Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) – órgão colegiado de onde partem as decisões mais relevantes sobre o sistema elétrico nacional – passou a importar da Argentina uma média de 165 megawatts diários para garantir o abastecimento. Foi a primeira vez desde 2010 que o Brasil teve de recorrer a países vizinhos para garantir a oferta de energia.
O ONS reúne as empresas de geração, transmissão e distribuição de energia, além de representantes de consumidores de grande porte. Quem importa e quem exporta energia e o Ministério de Minas e Energia também têm participação. As decisões tomadas pelo ONS são fiscalizadas pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel).
Modelo frágil
Na opinião do ambientalista Gustavo Souto Maior, nossa matriz energética, baseada na geração hidrelétrica, é um modelo ambientalmente bom, mas frágil por ser muito dependente do clima.
Para ele, o momento é grave, e o Brasil não se preparou para uma crise como deveria. “Tivemos um racionamento no governo Fernando Henrique Cardoso, em 2001. De lá para cá, deveríamos ter aprendido essa lição, mas não o fizemos. Faltaram investimentos em outras formas de energia e na conscientização da população”, argumentou.
Governo x oposição
Deputados de oposição foram duros ao comentar o apagão do mês passado. O PSDB quer instalar uma CPI para investigar a crise no sistema elétrico.
Por sua vez, o deputado Pauderney Avelino (DEM-AM) anunciou que o partido dele vai apresentar requerimento de convocação do ministro de Minas e Energia para explicar o ocorrido no mês passado.
Segundo Avelino, a concessão de descontos na conta de luz em maio de 2013 foi um ato irresponsável da presidente Dilma Rousseff. "Quando deveria estar pedindo ao povo para poupar energia, ela fez o contrário: estimulou o gasto de energia. Isso é de uma irresponsabilidade total”, criticou.
Já parlamentares governistas rebatem a vinculação dos problemas energéticos à crise hídrica e sustentam que o sistema brasileiro está, sim, preparado para garantir o fornecimento de energia mesmo em momentos de escassez de chuvas.
Para o líder do governo, deputado José Guimarães (PT-CE), o que aconteceu em janeiro foi um problema pontual. "Foi uma questão limitada, localizada, que não significa que o País vai viver sucessos apagões. O governo já tomou todas as providências”, afirmou.
Da Redação – MO