Meio ambiente e energia

Debatedores defendem políticas de adaptação às mudanças do clima

13/05/2014 - 22:14  

Luis Macedo/Câmara dos Deputados
Audiência pública sobre adaptação brasileira às mudanças climáticas, incluindo medidas para financiar programas e para diminuir a vulnerabilidade às secas e enchentes
Audiência discutiu medidas de adaptação do Brasil às mudanças climáticas.

Debatedores que participaram de audiência pública na Comissão Mista Permanente sobre Mudanças Climáticas destacaram, nesta terça-feira (13), a importância de o governo brasileiro investir em políticas públicas de adaptação às mudanças climáticas.

De acordo com o secretário de Políticas e Programas de Pesquisa e Desenvolvimento do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação, Carlos Nobre, o País manteve por vários anos o foco político na redução dos efeitos, para eliminar riscos futuros, e a agenda de adaptação à situação presente acabou ficando atrasada.

Carlos Nobre ressaltou a impossibilidade de prever os impactos futuros causados pelas atuais perturbações climáticas, lembrando que "nada é absoluto na ciência". Para ele, as adaptações não podem ser feitas espontaneamente ou como um incremento depois da ocorrência de fenômenos extremos, mas devem ser pensadas de maneira "transformacional", por exemplo, para diminuir a vulnerabilidade de algumas regiões a extremos climáticos.

“Os impactos estão acontecendo com mais celeridade do que imaginávamos 20 anos atrás. Se mudanças estão acontecendo mais rapidamente, temos que mudar as nossas estratégias de adaptação”, disse.

O subsecretário de Desenvolvimento Sustentável da Secretaria de Assuntos Estratégicos da Presidência da República, Sergio Margulis, destacou que a adaptação dos países em desenvolvimento às mudanças climáticas possui um custo muito alto. Ele disse que o maior gasto se refere às infraestruturas e que o ideal é o Brasil iniciar o processo com medidas baratas, entre elas, elaborar códigos de construção para áreas costeiras, estradas e demais infraestruturas e sistemas de alerta à população sobre possíveis desastres naturais.

Margulis lembrou que a mudança do clima não é apenas um problema ambiental, mas "perpassa toda a agenda de desenvolvimento sustentável e econômico de um país".

Para ele, os investimentos em adaptação devem ser feitos no presente, projetando os impactos ambientais, antevendo quando deverão acontecer e identificando medidas de prevenção e remediação. “Isso envolve balancear as necessidades certas do presente com as necessidades possíveis do futuro”, explicou.

Embrapa
O pesquisador da Secretaria de Relações Internacionais da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), Gustavo Mozzer, disse que a adaptação é fundamental para os sistemas agrícolas, que são muito expostos e vulneráveis à variação climática.

Pensando na segurança alimentar e na necessidade de o País aumentar a produção de alimentos frente ao aumento populacional, Mozzer explicou que a Embrapa tem investido em estudos, tecnologias e estratégias com o objetivo de aumentar a capacidade produtiva de vários sistemas, diminuindo o impacto ambiental.

Ele afirmou que o estudo da adaptação de sistemas agrícolas envolve uma complexidade de relações e, portanto, a necessidade de técnicos com capacidade pulverizada de conhecimentos. O investimento em estudos para aumentar a concentração de carbono nos pastos, via sistemas agrícolas bem manejados e para diminuir o uso de fertilizantes são exemplos de ações desenvolvidas pela empresa e citadas por Mozzer para adaptação das mudanças climáticas.

Luis Macedo/Câmara dos Deputados
Audiência pública sobre adaptação brasileira às mudanças climáticas, incluindo medidas para financiar programas e para diminuir a vulnerabilidade às secas e enchentes. Subsecretário de Desenvolvimento Sustentável da Secretaria de Assuntos Estratégicos da Presidência da República, Sergio Margulis
Sergio Margulis sugeriu a criação de sistemas de alerta sobre possíveis desastres naturais.

“Para trabalharmos a agenda de adaptação é necessária uma inter-relação de uma série de questões e áreas da ciência, considerando a dimensão do Brasil e peculiaridade regionais”, afirmou Mozzer.

Outras ações
A participação social e o diálogo entre as esferas da Federação foram citadas pelo representante do Ministério do Meio Ambiente, Thiago Mendes, como ferramentas cruciais para a construção de ações no enfrentamento e na adaptação às mudanças do clima.

Mendes explicou que o objetivo do Plano Nacional sobre Adaptação à Mudança do Clima é integrar esforços nas ações específicas desenvolvidas pelos entes federativos e acumular conhecimentos para lidar com os desafios envolvendo o tema. Segundo ele, o plano vai priorizar dez setores específicos, entre eles os setores de água, energia, zona costeira, segurança alimentar, gestão de desastres, transportes e logística.

Thiago Mendes ainda destacou a necessidade de os bancos públicos e as agências multilaterais incorporarem nos critérios de financiamento o olhar de adaptação.

De acordo com o presidente da Comissão de Mudanças Climáticas, deputado Alfredo Sirkis (PSB-RJ), a adaptação às mudanças climáticas é uma questão ampla que se projeta no futuro, mas que já tem manifestações no presente.

O setor energético foi apontado pelo deputado e pelos demais debatedores como uma área em que o governo terá dificuldade de implementar ações de adaptação às mudanças do clima. Isso ocorre, segundo eles, devido ao grande uso das hidrelétricas no País e à falta de incentivo para uso da energia eólica e solar.

Da Redação – PT
Com informações da Agência Senado

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