Ciência, tecnologia e Comunicações

Rádio digital promete qualidade de FM aos ouvintes de AM

03/12/2012 - 20:18  

Nada mais de chiados e zumbidos: o rádio digital é uma promessa aos ouvintes de AM com qualidade de FM, de FM com qualidade de CD, de muito mais variedade de emissoras e programas para as pessoas que têm no rádio um companheiro de trânsito, de trabalho ou de noites solitárias.

Assim como na TV digital, o sinal do rádio digital é codificado em grandes sequências numéricas, empacotado em uma onda de radiofrequência – a onda portadora – e transmitido. Já no rádio analógico o sinal é diretamente misturado à onda portadora, alterando o tamanho da onda, no caso da transmissão em AM, ou a frequência de oscilação dela, nas rádios FM.

Essa é a vantagem de qualidade do sinal digital. Se no rádio analógico a onda portadora for afetada por alguma interferência ou obstáculo, o próprio sinal de áudio embutido nela será distorcido e prejudicado. No rádio digital, as ondas portadoras são menos sujeitas a interferências, e, caso elas aconteçam, existem mecanismos para compensar ou amenizar a perda dos números codificados no sinal. Por outro lado, caso haja uma forte interferência, nada será ouvido no rádio digital, enquanto no rádio analógico ainda é possível ouvir algo por trás dos estalos.

Funcionalidades inéditas
Como qualquer informação pode ser digitalizada e incorporada ao conteúdo transmitido, o rádio digital também deverá permitir uma série de funcionalidades inéditas. Guias eletrônicos de programação podem permitir a gravação automática de programas quando o ouvinte só puder ouvi-los mais tarde. Informações sobre a situação de estradas e vias públicas podem ser transmitidas e utilizadas em aparelhos de GPS nos automóveis. Juntamente com uma música, podem ser transmitidos os nomes do artista e do disco, e essa informação pode até ser usada para permitir a compra do disco pela internet. As novas possibilidades são incontáveis, e algumas já estão sendo colocadas em prática.

Em 2010 o Ministério das Comunicações publicou a Portaria 209 para estabelecer a criação do Sistema Brasileiro de Rádio Digital (SBRD), mas não houve até o momento a definição de qual tecnologia será usada. Existem pelo menos cinco padrões ativamente desenvolvidos e já em uso no mundo – entre eles o japonês ISDB-T, que é o mesmo adotado pelo Brasil para a TV digital –, mas dois sistemas, um europeu e outro norte-americano, estão liderando a disputa pela preferência das autoridades e das emissoras brasileiras.

Sistema europeu
O Digital Radio Mondiale, também chamado DRM, é um padrão aberto criado por um consórcio de emissoras e fabricantes de eletrônicos, que engloba a BBC, a Rádio França Internacional, a Deutsche Welle, a Telefunken e a Thomcast.

O padrão foi originalmente concebido para digitalizar as transmissões de ondas longas, médias, tropicais e curtas, de frequências até 30 MHz, e depois foi expandido para operar em frequências de até 174 MHz, em uma versão denominada DRM+. Por isso, o padrão pode ser adotado nas frequências já usadas por todas as emissoras de rádio brasileiras, além de várias outras possíveis faixas que hoje têm outras utilizações.

O DRM é o padrão adotado pela União Internacional das Telecomunicações para todo o mundo exceto as Américas, e, por ser aberto, seus defensores argumentam que emissoras e fabricantes de receptores poderiam utilizá-lo sem pagar royalties – apenas os equipamentos de transmissão estariam sujeitos a uma cobrança. As antenas e outras partes do sistema de transmissão usadas atualmente podem ser reaproveitadas.

Cada emissora pode ocupar um canal de 9kHz de largura no DRM ou de 100kHz no DRM+, o que é compatível com a distribuição atual de frequências de acordo com padrões internacionais. Esta largura de canal pode ser dividida em até quatro partes para transmissões simultâneas de rádio em multiprogramação, dados, informações em texto ou até mesmo vídeo em baixa qualidade, de oito quadros por segundo em um tamanho de 176x144 pixels.

Algumas emissoras como a britânica BBC já fazem transmissões em DRM na faixa de ondas curtas, mas a adoção do sistema tem sido relativamente lenta e ainda não há receptores DRM no mercado. Também existem críticas sobre a recepção de sinais DRM no interior de prédios e em veículos em movimento, especialmente nas frequências mais baixas usadas pelas rádios AM e ondas curtas, e quanto à eficiência energética dos aparelhos transmissores.

Sistema americano
O grande trunfo do sistema americano HD Radio é a adoção oficial pela agência de telecomunicações dos Estados Unidos (FCC) e por mais de 1.500 emissoras na América do Norte, na Europa, na China e mesmo no Brasil que já fazem transmissões no sistema regularmente – e que não estão dispostas a trocar o equipamento de transmissão adquirido recentemente, considerado caro por especialistas do setor. Segundo a empresa que desenvolveu e comercializa o sistema, a iBiquity, são vários os fabricantes de eletrônicos que já produzem e vendem receptores com preços a partir de 49 dólares (cerca de R$ 100).

A própria iBiquity esclarece que o nome do sistema não tem qualquer significado como “high definition” ou “hybrid digital”, e o padrão é proprietário: fabricantes de transmissores e receptores devem pagar royalties. Em uma carta aberta publicada em diversos sites na internet em 2010, a iBiquity anunciou que emissoras não são obrigadas a pagar royalties.

Uma das vantagens do HD Radio é a possibilidade de até sete transmissões simultâneas por emissora. O sistema foi desenvolvido inicialmente para as faixas mais altas de frequência, como as atualmente ocupadas pelas emissoras de FM e TV analógica, e posteriormente foi adaptado para operar também em ondas médias – mas não é usado nas faixas de ondas curtas e tropicais.

Uma característica criticada do HD Radio é o fato de o sinal exigir um pouco mais de largura de canal do que os 100kHz oficialmente alocados, o que pode causar interferências entre emissoras adjacentes e tornar necessária uma redistribuição do espectro. A adaptação do sistema para transmissão em AM também é considerada menos eficiente que a implementação do DRM e mais propensa a interferências entre emissoras, principalmente à noite, quando as ondas de médias frequências são refletidas na ionosfera.

Tecnologia em comum
Ambos os sistemas têm em comum o uso de uma tecnologia de transmissão chamada In-Band On-Channel, ou simplesmente Iboc, que tem como principal característica a possibilidade de transmitir simultaneamente sinais digitais e analógicos em um mesmo canal de frequência. Graças a isto os dois padrões permitem migrar as transmissões para o sistema digital sem inutilizar os aparelhos receptores existentes aos milhões no Brasil, ainda que o chamado “modo híbrido” geralmente diminua o alcance das emissoras e dependa de determinadas condições para funcionar corretamente.

Reportagem - Fabrício Rocha
Edição – Regina Céli Assumpção

A reprodução das notícias é autorizada desde que contenha a assinatura 'Agência Câmara Notícias'.