Trajetória é lembrada pela defesa da democracia
11/10/2012 - 17:11

Deputado federal por onze mandatos consecutivos, de 1951 a 1995, Ulysses Guimarães presidiu a Câmara por duas vezes, a primeira quando Juscelino Kubitschek assumiu a Presidência da República e a segunda logo após a democratização, quando José Sarney se tornou presidente. Com a morte de Tancredo Neves e a posse de seu vice, Sarney, no Palácio do Planalto, Ulysses se tornou, na prática, o vice-presidente da República – já que era o primeiro na linha de sucessão de Sarney.
A carreira de Ulysses culminou na promulgação da Constituição de 1988, após a Assembleia Nacional Constituinte que ele ajudou a convocar e presidiu. “Foi um trabalho de gigante, de uma pessoa que venceu os anos de autoritarismo sem ter sido cassado; ao presidir a Assembleia Constituinte, ele chegou ao ápice da sua atuação em defesa da democracia”, explicou a historiadora Lucília Delgado, da Universidade de Brasília (UnB).
Para ela, a geração de Ulysses, que inclui Tancredo Neves e políticos de diversas correntes ideológicas, como Leonel Brizola, Franco Montoro, Mario Covas e Milton Campos, tinha a convicção de que a vida pública e a política podiam fazer diferença, e via no Poder Legislativo um papel fundamental nas mudanças de que o País precisava e ainda precisa. “Para eles, política era negociação com ética; eles viam na democracia a importância concreta de permitir que as pessoas exercessem sua cidadania e não fossem simplesmente comandadas”, ressaltou a historiadora.
Após Jânio
Ulysses foi ministro da Indústria e Comércio no governo parlamentarista instalado após a renúncia de Jânio Quadros e chegou a apoiar o golpe militar de 1964, embora imediatamente tenha ido para a oposição e presidido o MDB, partido contrário à ditadura.
Em 1973, na época mais dura do regime, ele foi o anticandidato do MDB à Presidência da República, pois tinha como objetivo denunciar a farsa da escolha do presidente por um colégio eleitoral. Ele correu o risco de ser cassado, mas, segundo parlamentares que atuaram ao seu lado, sabia fazer uma oposição responsável, para evitar que o regime se aprofundasse no autoritarismo.
Dali em diante, Ulysses defendeu a abertura do regime, a anistia aos presos políticos e exilados e liderou o movimento pelas eleições diretas, conhecido como “Diretas Já”. Ele chegou a ser cogitado como candidato a presidente no lugar de Tancredo, mas nunca chegou a realmente assumir o cargo e teve um desempenho fraco nas primeiras eleições livres, em 1989, quando foi candidato pelo PMDB.
Reportagem – Marcello Larcher
Edição – Maria Clarice Dias