Direitos Humanos

No Amazonas, professores são os primeiros a detectar abusos

13/08/2012 - 09:33  

Divulgação
Selo concurso Tim Lopes

Durante uma semana de investigação, a equipe de reportagem encontrou várias histórias de abuso contra crianças e adolescentes com deficiência em Manaus e Parintins (AM).

Em praticamente todos os casos encontrados, os professores foram os responsáveis por identificar os sinais de abuso. Na escola Áudio Comunicação Padre Paulo Manna, em Parintins, uma educadora recebeu apoio da instituição e fez a denúncia de violência. A mãe sabia do abuso, mas protegia o companheiro.

Para a titular da Delegacia de Crimes Contra Mulheres, Crianças e Idosos de Parintins, delegada Ana Denise Machado, a falta de colaboração dos familiares é um dos grandes entraves para a punição. A delegada, que comandou as investigações sobre uma rede de pedofilia na ilha amazonense, já indiciou algumas mães por omissão. Ana Denise avalia que a justiça deve ser mais rápida, como já ocorre nos casos de violência doméstica, em que o contato da vítima com o agressor é evitado imediatamente.

Abrigos
Em Parintins, não há abrigo para crianças ou adolescentes vítimas de violência sexual. Já Manaus conta com um local especializado para atender pessoas com deficiência. Das 24 crianças que atualmente moram no Abrigo Moacyr Alves, sete sofreram abuso sexual.

O abrigo, vinculado à Secretaria de Estado de Assistência Social (Seas) do Amazonas, é administrado pelo Núcleo de Amparo Social Tomas de Aquino (Nasta), por meio de convênio com o governo estadual.

Tércio Castro é psicólogo do abrigo e ressalta que o atendimento qualificado, baseado em respeito e afeto, é essencial para a reconstrução da vida das vítimas. Castro lembra um caso de uma adolescente de 16 anos que chegou ao abrigo e todos pensavam que ela fosse muda, mas com o apoio recebido na casa, começou a falar e demonstrou que era constantemente explorada sexualmente por taxistas e policiais.

Impunidade x desconhecimento
Para a assistente social do abrigo, Socorro Bezerra, muitos casos ocorrem pela certeza da impunidade. "Dentro da família, esses casos acontecem geralmente porque os abusadores sabem que vão ficar impunes. Muitas dessas crianças não falam, às vezes ficam em estado vegetativo, não têm como se defender do abusador.”

Em outro caso, relatado pela assistente social da Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais (Apae) de Manaus, Milcilene Nogueira, uma menina que nasceu com hidrocefalia e mexia apenas os olhos ficou grávida aos 12 anos. A mãe, que afirmava não saber quem tinha cometido o abuso sexual, foi aconselhada pelo médico a levar a menina para Manaus por causa do risco de complicações no parto. Desde então, a mãe da adolescente não procurou mais a Apae.

Mônica Montenegro
Ronaldo André, diretor do Centro de Vida Independente do Amazonas
Ronaldo André (D): a mãe do filho abusado também é vítima.

Apoio à família
O Centro de Vida Independente do Amazonas (CVI-AM), em Manaus, promove um trabalho social com crianças e adultos com deficiência e seus familiares. O diretor Ronaldo André Brasil, que é paraplégico, já acompanhou diversos casos de abuso. Ele, que também preside o Conselho Municipal de Assistência Social, defende a urgência de se trabalharem as dificuldades da família.

Como exemplo, relembra uma situação em que um menino cego de 10 anos foi violentado pelos vizinhos. Depois disso, ainda passou a ser rejeitado pela mãe. O diretor conta que a mãe já o considerava a cegueira do filho “um peso”, que a impedia de trabalhar e ter vida social. Depois da violência sofrida, já não o via mais como homem.

Ronaldo André, no entanto, pondera que a mãe também é uma vítima. “A primeira sensação é julgar, achar que a mãe está cometendo um ato absurdo. Mas a mãe é tão vítima quanto ele, porque não teve oportunidade, acesso à educação nem apoio familiar. Nada justifica, mas os dois precisam de ajuda.”

Reportagem - Mônica Montenegro / Rádio Câmara
Edição – Adriana Resende

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