Saúde

Brasil lidera ranking de ocorrência de hanseníase

Os estados com maior prevalência são Mato Grosso, Tocantins, Rondônia, Pará e Maranhão.

11/06/2012 - 08:54  

O Brasil ocupa uma triste liderança mundial: o primeiro lugar na prevalência da hanseníase, quando se considera o número de casos proporcionalmente à população. Em 2010, foram registrados 34.894 novos casos. Em 2011, a queda foi pequena: 33.250 novos registros em todo o País. A Índia registra mais notificações, no entanto também possui uma população muito maior do que a brasileira. Poucos países no mundo ainda apresentam áreas consideradas endêmicas, segundo a Organização Mundial de Saúde.

Em 2010, 92,4% dos novos casos registrados nas Américas aconteceram no Brasil, sendo que existiram notificações em todos os estados do País. Ainda que a doença seja mais diagnosticada em pessoas pobres, ela pode atingir classes sociais mais altas também. É o caso da servidora pública aposentada Marly de Fátima Barbosa, moradora de Brasília de classe média, que passou por várias clínicas durante os sete anos em que se queixou de dores e perda de força no braço.

Arquivo/ TV Câmara
Saúde - Hanseníase - Marly de Fátima - matéria1
Caso de Marly Barbosa mostra que doença afeta todas as classes sociais.

“Um dos médicos admitiu que teria pedido exames para hanseníase se eu fosse uma paciente de periferia”, relata. Com a demora no diagnóstico, que terminou sendo positivo, hoje Marly sente dores crônicas causadas pelas neurites, inflamações nos nervos atacados pelo bacilo de Hansen.

Mais de 516 mil pessoas receberam diagnóstico de hanseníase em todo o Brasil, de 2000 até o ano de 2011. Os estados com maior prevalência no Brasil são Mato Grosso, Tocantins, Rondônia, Pará e Maranhão.

Essa situação permanece oculta para grande parte da população brasileira. “Quando a gente empurra o tema da hanseníase para a invisibilidade, o número de doentes aumenta no Brasil”, destaca o deputado Jean Wyllys (Psol-RJ), autor de requerimento para debater a situação da hanseníase na Comissão de Direitos Humanos.

“Existe o problema do sistema de saúde que não está aparelhado e não tem políticas claras, não há divulgação, não há profissionais capacitados, mas tem também o problema da sociedade: por conta do medo e do preconceito, as pessoas atingidas também têm medo de se expor”, pondera o presidente da comissão, deputado Domingos Dutra (PT-MA).

Arquivo/ TV Câmara
Saúde - Hanseníase - Farnesio de Oliveira - matéria1
Farnésio de Oliveira: O que me ajudou foi que não fiquei calado.

Farnésio de Oliveira está na contramão do medo e da vergonha. Aos 32 anos, ele destaca que falar da doença foi essencial depois que recebeu o diagnóstico. “O que me ajudou bastante foi que eu não fiquei calado. As pessoas perguntavam o que eu tinha e, às vezes, davam aquele passo atrás. E eu falava: calma, quando a gente inicia o tratamento, em uma, duas semanas você já não transmite. Aí as pessoas acabaram me dando apoio”, completa o militar, que segue trabalhando e fazendo fisioterapia para reverter uma sequela na mão. Mais uma vez, o dano aconteceu pela demora do sistema de saúde em realizar o diagnóstico correto.

Municípios silenciosos
Os números da hanseníase no Brasil podem ser ainda maiores. Apenas pouco mais de um terço das unidades básicas de atendimento de saúde estão aptas a diagnosticar e tratar a doença. “Muitas vezes nós vemos municípios silenciosos que não têm nenhum caso, e ao redor dele outros tantos municípios que têm muitos casos. É pouco provável que aquele município silencioso com as mesmas condições não tenha casos. O que está faltando lá é o serviço para diagnosticar e curar os casos”, alerta Rosa Castália, coordenadora do Programa de Hanseníase do Ministério da Saúde.

Crianças
Outro dado mostra mais um aspecto preocupante da hanseníase: 7% dos casos são de crianças com menos de 14 anos. “Isso mostra que a endemia ainda está um pouco descontrolada. Algumas crianças, inclusive, já apresentam incapacidades instaladas”, explica o médico da Fundação Oswaldo Cruz José Augusto Nery.

Arquivo/ TV Câmara
Saúde - Hanseníase - Zulma Maria - matéria 1
Zulma Maria tem um filho que se curou e não tem sequelas.

Casos em crianças indicam que há adultos doentes na família. Quando uma pessoa adoece de hanseníase, todos os familiares devem ser examinados nos postos de saúde. Mas a doença tem um longo período de incubação e pode se manifestar anos mais tarde.
Foi o que aconteceu na família de Zulma Maria, onde o marido foi o primeiro a adoecer. Três anos depois, o filho de cinco anos manifestou a doença. E por fim, dois anos mais tarde, ela própria teve hanseníase. “O meu filho fez tratamento e está bonzinho, não ficou com nenhuma sequela. Às vezes as pessoas ficam com medo e não acreditam na cura, mas a pessoa fica boa sim”, garante a dona de casa.

Reportagem - Daniele Lessa Soares/Rádio Câmara
Edição - Mariana Monteiro

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