Meio ambiente e energia

Conferência deverá estimular a economia verde, defendem especialistas

19/03/2012 - 17:41  

Beto Oliveira
Giovani Cherini
Cherini: precisamos buscar soluções viáveis para a redução das emissões de gases poluentes.

O desafio de promover mudanças no atual modelo econômico global, a fim de garantir vida às futuras gerações, vem sendo apontado como o principal tema dos debates da Rio+20 - Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável. Há 20 anos, desde que a preservação ambiental e os limites dos recursos naturais ganharam contornos mais claros, empresários e cidadãos de todo o mundo já vêm adotando hábitos ecologicamente mais adequados. No entanto, especialistas sustentam que os avanços obtidos ainda são insuficientes para o objetivo pretendido.

“Em 20 anos, a partir da Rio 92, criamos leis que reforçaram o aparato legal e proibiram práticas consideradas agressivas ao meio ambiente, como a proibição do uso pela indústria do clorofluorcarbono (CFC), considerado o principal vilão da camada de ozônio”, disse Eleazar Volpato, professor de Engenharia Florestal da Universidade de Brasília. Ele defende que a Rio+20 deva discutir instrumentos econômicos capazes de estimular um modelo mais amplo de sustentabilidade, que vem sendo chamado de economia verde.

O deputado Giovanni Cherini (PDT-RS), que presidiu a Comissão de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável no período 2010/2011, é favorável a ideia. “A Rio 92 ficou muito em cima do problema das florestas e das matas, disse Cherini. “Hoje, precisamos ampliar o debate em busca de soluções viáveis para a redução das emissões de gases poluentes, dos resíduos sólidos gerados, ou seja, para a construção de cidades sustentáveis”, afirmou Cherini, ao lembrar que, atualmente, 84% da população mundial vive em áreas urbanas.

Economia Verde
O conceito de economia verde, um dos temas da Rio+20, é entendido como o conjunto de ações que trazem aspectos sociais e ambientais para a atividade econômica. Parte dessa proposta se explica a partir do sistema de leis a ser adotado, que penaliza atividades poluentes, estimula negócios sustentáveis e remove barreiras a investimentos em meios de produção limpos. “Não podemos partir do princípio de que quem produz vai recuperar áreas degradadas sem nenhuma contrapartida. Isso se resolve cobrando de quem polui e remunerando quem preserva”, disse Cherinni.

Outro dispositivo que integra o conceito de economia verde é a autorregulação dos agentes privados. A autorregulação é um mecanismo de pressão do próprio mercado – puxado por consumidores e empresas que adotaram modelos sustentáveis de produção e consumo – que passa a exigir de produtores e comerciantes padrões sociais e ambientais mais elevados, além de preço e qualidade. Por sua vez, a principal moeda no mercado da autorregulação são as certificações socioambientais.

“A economia verde consiste em compatibilizar a teoria do crescimento econômico com alguns conceitos de sustentabilidade, como o uso racional dos recursos naturais, a reciclagem e a preferência por fontes de energia limpas e renováveis”, explica o professor de Planejamento e Gestão Ambiental da Universidade Católica de Brasília (UCB) Genebaldo Dias. Segundo ele, o setor industrial foi o que incorporou mais rápido práticas menos prejudiciais ao meio ambiente. “Grandes corporações vêm adotando tecnologias mais limpas, que geram menos resíduos e emitem menos CO2, mas, mesmo assim, penso que existe um falso marketing tentando divulgar que as corporações estão se tornando sustentáveis”, alertou.

Por outro lado, Dias afirma que segmentos do agronegócio, principalmente a criação de gado e a produção de soja, ainda desconsideram boa parte dos impactos que a atividade provoca. “Essas atividades continuam agredindo muito os ecossistemas e os que atuam nela não tem dado a devida importância para a adoção de práticas sustentáveis”, completou Dias.

Reportagem – Murilo Souza
Edição – Marcelo Westphalem

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