Deputado critica corte no orçamento para ensino de esporte nas escolas
Durante a audiência, que discutiu políticas públicas para as mulheres, atletas e ex-atletas falaram de suas experiências e das dificuldades enfrentadas para exercer a profissão.
14/12/2011 - 21:03

Em audiência pública nesta quarta-feira para discutir a participação das mulheres no esporte, o presidente da Comissão de Turismo e Desporto, Jonas Donizette (PSB-SP), criticou o corte, no orçamento de 2012, de recursos que seriam usados pelas escolas em atividades esportivas.
Donizette informou que a comissão havia apresentado uma emenda no valor de R$ 500 milhões, mas o relator setorial da proposta orçamentária, senador Cyro Miranda (PSDB-GO), cortou para R$ 22 milhões. "É lamentável ocorrer um corte dessa magnitude no momento em que o Brasil está se preparando para receber três grandes eventos esportivos. Precisamos criar oportunidades para as nossas crianças praticarem esporte e ficarem longe das drogas. Um corte como esse prejudica muito", lamentou o deputado.
A medida também foi criticada pela ex-jogadora de vôlei, Jaqueline, que destacou a importância do esporte na educação de crianças e jovens. "Cortaram recursos de onde tem que ser plantada a semente", criticou.
Discriminação
Jaqueline também destacou a discriminação entre homens e mulheres no esporte. Ela, que ganhou a medalha de ouro nos Jogos Olímpicos de Atlanta, em 1996, lembrou que, na volta ao Brasil, a diferença salarial continuava. "Os jogadores de vôlei ganhavam mais que as jogadoras, e o argumento era de que o vôlei masculino era mais difícil [risos]. Temos que evoluir", defendeu.
Durante o debate, atletas e ex-atletas falaram de suas experiências e das dificuldades enfrentadas para exercer a profissão. A única mulher brasileira a participar dos jogos olímpicos de Tóquio, no Japão, em 1964, Aída dos Santos, contou que ficou em quarto lugar no salto em altura, mesmo sem a ajuda de um técnico e sem equipamento para competir. Além disso, relatou, antes de ir para a olimpíada, mesmo já tendo conquistado o índice exigido, foi obrigada a repetir o índice 5 ou 6 vezes. “Cheguei à conclusão de que isso aconteceu porque eu era mulher e negra. Atletas de outros países faziam o índice classificatório uma única vez”, avaliou.
Já a ex-jogadora de vôlei, Leila, se emocionou ao lembrar sua história. Disse que foi obrigada a enfrentar o pai dela, que era contra a filha ser jogadora, e saiu de casa aos 17 anos, quando deixou Brasília e se mudou para Belo Horizonte. "Meu pai queria que eu me formasse, casasse e tivesse filhos, mas eu era atleta. Disse para minha mãe que disputaria uma olimpíada. Quatro anos depois estava em Atlanta", contou. Leila afirmou ainda que o Brasil é uma potência no esporte, e isso precisa ser mais explorado.
A jogadora de futebol do Atlético Mineiro Amanda Miranda, que também participou do debate, relatou que recebe R$ 600 por mês para ficar no clube o dia todo, treinar, viajar e participar das competições. Segundo contou, há meninas que não conseguem viajar para ver a família há dois anos por falta de dinheiro.
A jogadora também reivindicou tratamento igualitário para homens e mulheres no esporte. "Poderia ser organizado um campeonato brasileiro feminino. O Brasil é o País do futebol, mas estamos perdendo para o Japão e para os Estados Unidos porque eles investem. Com esporte, a gente consegue tirar as meninas da rua e até da prostituição", destacou.
Ano do esporte feminino
A deputada Luci Choinacki (PT-SC), autora do requerimento para realizar a audiência pública, apresentou o Projeto de Lei 2343/11, que institui 2013 como o ano do esporte feminino no Brasil. Uma forma de chamar a atenção para a atuação das mulheres nas diversas modalidades esportivas. “Percebi aqui na comissão que a questão das mulheres não era colocada como algo importante, como as paraolimpíadas. Por isso propus esse debate para que a gente possa começar a discutir, valorizar e criar visibilidade para o esporte feminino”.
A professora da Universidade de São Paulo (USP), Katia Rubio, relatou um pouco da história da participação das mulheres nos jogos olímpicos. Ela contou que, na Antiguidade, a mulher era excluída das competições porque não era considerada cidadã.
Depois, já em jogos olímpicos da Era Moderna, esse argumento foi sendo desconfigurado. Mas, segundo ela, havia o argumento de que as mulheres eram "fracas dos nervos". Ela destacou que a primeira participação feminina brasileira em jogos olímpicos foi em 1932, com Maria Lenk, na natação. A nadadora chegou a ser recordista mundial em 1939.
Reportagem – Jaciene Alves
Edição – Maria Clarice Dias